sexta-feira, 15 de junho de 2007

XIV - DE LISBOA A MIRANDA DO DOURO - 1961/1962

Na madrugada daquela quarta-feira, dia 17 de Janeiro de 1962, pelas 04.30 horas, na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, dei a minha primeira olhadela geral para este mundo. E embora fosse um nado vivo preguiçoso, acabei por ganhar balanço para a vida e resolvi ficar por cá, por este lado, e sobrevivi a todas as complicações resultantes de ser filho de uma mulher com bem mais de 40 anos de idade, portanto uma gravidez de alto risco, e ainda pelo facto de ser bem nutrido à nascença com os meus 4.500 Kg.
Logo que foi dada a ordem de saida da maternidade, fiquei tão somente dois dias por Lisboa, Capital, pois toda a vida familiar estava centrada nessa época na região norte de Portugal.
Tempo mais do que suficiente para efectivar os registos e tratar de outras papeladas. A casa da avó Mariana, situada ali na Rua Actor António Pedro, acolheu-me todas aquelas longas semanas em que estive dentro da placenta da minha mãe, antes de ter nascido. Após o parto, foi na casa de uns amigos da minha mãe em Queluz, que acabei por ficar, nesses primeiros dias da minha vida.
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Deste periodo inicial da minha vida nascem os meus primeiros contactos com as primas Nita e Idalina, que moravam numa das famosas vilas residenciais. Produto da burguesia operaria do final do século XIX, existentes entre o Largo da Graça e Sapadores, em Lisboa, e hoje transformadas em condominios de luxo.
Eram umas primas importantes para mim, pela simples razão da admiração que sentia pelo seu profundo humanismo, bem patente no facto de que uma delas, a Nita, ter doado um rim, para salvar a vida da irmã mais velha, a Idalina, que se encontrava em perigo de vida, pois não tinha qualquer rim a funcionar, e fazia hemodialise todos os dias, de uma forma assustadora, e também porque eram as duas solteiras, por decisão unanime de terem ficado a tomar conta da mãe que tinha ficado viuva desde cedo, e que tinha lutado como ninguém para as criar e lhes dar um futuro, o que conseguiu, pois ambas concluiram estudos avançados para a época e tinham bons cargos na Companhia de Telefones de Lisboa e Porto. Curiosamente anos mais tarde a prima Nita resolveu casar com um Administrador da Rádio Marcóni, e foi morar para o Barreiro, próximo da minha casa, mas a sua felicidade durou muito pouco, pois esse senhor veio a falecer cerca de 2 anos após o casamento, deixando-a de novo sozinha no mundo com a irmã.
Também foi a altura do meu primeiro contacto com a minha ti Angelina, meia-irmã da minha mãe, pois era filha do avo Massapina mas não da avó Clara, e sim de uma mãe diferente, e que somente passados cerca 14 anos, eu voltaria a encontrar, por minha iniciativa pessoal, e numa das minhas primeiras premonições sobre alguém conhecido que estava com problemas e a necessitar de ajuda.
Sei agora que veio a viver um pár de anos junto da minha irmã, numa instituição para idosos em Lamego, e que ali veio a falecer e por ali ficou sepultada por iniciativa da minha irmã.
Desta lista de contactos iniciais da minha vida, faz também parte o famoso tio Julio, irmão da minha mãe, um homem imponente em estatura e força, pois contam que pegava sozinho num automovel com as duas mãos e o movia de sitio, ainda por cima era um benfiquista dos sete costados, desportista de alguma nomeada nas áreas do ciclismo e natação, pois competiu directamente com os famosos da época no ciclismo; Trindade e Nicolau, e a nivel de natação participava em diversas travessias do Rio Tejo a nado.
Ainda me recordo muito vagamente dele, e de muito jovem o ir visitar e de ele me tentar dar a volta em termos de clubismo, com rebuçados e outras guloseimas bem como brinquedos para tentar que eu fosse adepto do Benfica, mas eu mantinha sempre a minha ideia irredutivel de ser sportinguista, e ele se rir muito e dizer que os seus maiores amigos eram realmente sportinguistas, talvez por isso gostava tanto de mim.
Gostava de mim, sobretudo pela minha sinceridade em não aceitar qulquer presente "vermelho", tal como um equipamento completo do Benfica, que numa das ultimas vezes em que o vi me quiz oferecer, e eu recusei, por causa da cor e do passaro do emblema, pois eu só tinha olhos para o Leão.
Este tio estava sempre bem disposto, e quando regressava do futebol perguntava de cima do seu automovel, para toda a rapaziada que se juntava à sua volta: "Quem é aqui do Benfica?" Obviamente todos diziam que sim, e então ele atirava moedas e rebuçados para o ar, se o seu clube tinha ganho, claro!
Se o Benfica tinha perdido, vinha com uma má disposição que ninguém lhe podia dizer nada. Morava ali na zona de Xabregas, e era socio do marido da avó Mariana, num stand de automoveis situado na Rua Actor António Pedro, próximo da Praça do Chile, e da casa da avó Marina, e que hoje é uma grande oficina de reparação automovel, ainda pertença de um dos filhos da avó Mariana, que a tem sub-alugada. A outra irmã nunca tratou de negocios em Portugl, esta instalada em Africa, e é dona de uma cadeia de joalharias na Africa do Sul, para onde inclusivamente me chegou a convidar para eu ir trabalhar em 1984, a quando da minha ida para a Europa.
Sei que tinha ainda outro stand de vendas, junto do antigo quartel general, ali bem próximo de onde funcionou a feira popular de Lisboa, antes de ser transferida para entrecampos, nos anos 60.
Acho que esse negocio de automoveis ficou nas mãos do meu tio Julios, por influencia directa do meu avo Massapin, que chegou também a ser representante de algumas marcas de automoveis no Alentejo, nomeadamente em Viana do Alentejo.
E também nasce nest época o meu relcionamente com a fmilia do Padrinho João Pascoa, e a prima Matilde, os Mira que moravam na Rua Leite de Vasconcelos, próximo da Graça/Sapadores e de Santa Apolonia, em Lisboa, e com quem anos mais tarde mantive optimo e longo convivio, ainda mis que o José Mira, embora imigrado no Canada, onde trabalhava na Compnhia dos Caminhos de Ferro, era um optimo poeta, e sempre que vinha de ferias tornava-se tornava-se motivo da minha larga curiosidade sobre a vida de imigrante e a realidade de um País bem mais evoluido que Portugal.
Ele trazia sempre filmes que fzia e muitas fotos, o que dava para analisr um pouco de realidade existente do outro lado do Mundo.
O padrinho da minha mãe, tinha sido um homem muito rico, e ainda por cima lhe tinha saido o primeiro premio da lotaria nacional, mas foi esbanjando tudo com aventuras com mulheres e inclusivamente resolveu um dia ir dár uma volta de carro com uma das suas paixões, e teve um desastre fatal para a pequena que o acompanhva. Esse acidente, para além de despesas enormes em tribunais, ainda lhe custou a amputação de uma das pernas a ele próprio, e o atirou para uma cadeira de rodas, inutilizado e na maior tristeza e baixa psicologica de que nunca mais se recuperou.
Foi também na casa da prima Matilde, anos mais tarde, que eu aprendi a andar de patins com ajuda das suas duas filhas, e por esse motivo mais tarde pratiquei hoquei em patins, e também foi na sua casa que passei a gostar de carne de porco, e de torresmos caseiros, que ela fazia como nunca mais voltei a comer na minha vida, para além de uns bolos tradicionais do Alentejo de comer e chorar por mais.
Todos estes relacionamentos pessoais da minha mãe, que segundo todos os relatos posteriores me confirmaram ter ido vêr no momento do meu nascimento, e portanto me acompanharam desde a primeira hora da minha vida, tinham todos um facto comum e estranho entre eles, que era o de ninguém querer qualquer relacionamento directo com o meu pai, uns invocando umas razões, outros outras, mas ao longo da vida, sempre a minha mãe como que escondia dizer que os tinha visitado, ou que tinham telefonado, para evitar alguma situação mais constrangedora.
Também não recordo nenhuma visita deles a minha casa, excepto a prima Nita quando se casou, e desse contacto o meu pai aceitou muito bem a sua visita, e inclusivamente a retribuiu e fez até amizade com o marido dela, com quem se encontrava por vezes para beber um café e falar um pouco no centro do Barreiro ou em Lisboa.
Acho que a minha mãe bloqueava essas informações para evitar conflitos em casa com o meu pai, muito embora ele mantivesse um bom e cordial relacionamento por exemplo com o primo José Mira.
Em relação à minha tia Angelina, e como ainda viveu algum tempo em casa dos meus pais, durante alguns periodos mais dificeis da sua vida, na realidade o meu pai só a suportava a muito custo, e ela própria não se sentia totalmente à vontade, e logo que possivel regressava a sua casa, para evitar confrontos verbais, pois também possuia um genio estranho, e eu próprio um dia tive que a colocar no seu devido lugar, informando-a de que ali não era a sua casa, e que portanto as ordens ficavam bem dár aos donos da casa, ali ela era uma hospede, visitante temporária, cada vez com menos espaço para se tornar definitiva, e que a dona da casa ainda era a minha mãe.
Lembro que a razão dessa chamada de atenção teve que vêr directamente com religião e a sua tentativa de impingir aos outros as suas crenças. Esta minha tia tinha uma particularidade muito especial, pois desde o seu reencontro, quando eu tinha cerca de 14 anos, ela conseguiu ser Catolica praticante, com altar e sacrário e santinhos em casa. Depois passou a Catolin não praticante, e até vendeu o altar, o sacr´rio e os santinhos a uma loja de antiguidades ali na Calçada dos Cavaleiros em Lisboa. Depois pssou a assumir-se como não crente em qulquer religião, depois passou uma fase enfronhada nos Jeovás, que tinham uma casa de culto defronte da sua casa, e aproveitaram para lhe esmifrar bastante dinheiro.
Depois seguiu-se a fase de se assumir como Protestante, onde mais uma vez deixou algum do seu dinheiro e patrimonio, e quando reparou que tinha gasto uma "pipa" de dinheiro e ficado sem alguns bens, voltou à Igrej Catolica, e até esteve como semi-interna numa associação religiosa existente junto do Panteão de São Vicente de Fora, próximo da sua casa, tendo passado a interna desa associção, e tanto quanto sei acabou a sua vida em outra instituição religiosa, para onde a minha irmã arranjou forma dela entrar, lá para os lados de Lamego, onde terminou os seus dias, depois de ter delapidado os seus bens um pouco por todas as religiões por onde andou, e para onde foi lançando os seus dinheiritos.
No fundo o que a velha tia Angelina buscava era um pouco de atenção, quanto mais não fosse para ir comer uns bolitos aqui ou ali, como fazia na Havaneza do Largo da Graça, onde se deliciava com uma travessa de bolos que tivessem bons cremes.
Depois qunado sai da pastelaria, dizi sempre que estava a sentir-se muito mal da su angina de peito, e que o melhor seria ir à urgência, para se vêr o que lhe estava a acontecer.
Tinha tanto medo de morrer que quando a recuperei para o convivio com a familia só falava em suicidar-se com a cabeça metida no forno do fogão, e a abertura do gaz salvador. Depois decidiu vender o próprio fogão, com medo de um dia não resistir e colocar mesmo a cabeça lá dentro e abrir o gaz, por isso passou a comer fora de casa.
Assim era a minha tia Angelina, uma velhota animada, castiç, mas com uma grande falta de parfusos na cabeça.
Naquela época d reprimenda lá em casa, recordo que estava na fase dos Jeovás, e também recordo as suas tenttivas para andar de porta em porta a incomodar cada um, tentando impingir as ideias que lhe tinham colocado dentro da cabeça. Tentava começar precisamente lá em casa com aquelas baboseiradas do Senhor Jeová, e a minha mãe já estava cheia de tanta ideotice. Para além disso pretendia programar visitas a toda a vizinhança, sendo que ninguém estava disposto a aturar as suas recitas religiosas com distribuição de livrinhos à mistura, e não contente com isso preparava reuniões para se realizarem lá em casa. Ai foi o fim, e eu coloquei para correr com aquele pessoal todo ligado à seita, incluindo ela própria.
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Surge também nesta época do meu nascimento, o meu conhecimento com a Adriana e o Luis, amigos de longa data da minha mãe e do meu pai, e que estiveram imigrados, muitos anos em Inglaterra, na zona de Londres, a trabalhar em Embaixadas, e que tinham residencia em Portugal, na zona de Paio Pires, proximo do Fogueteiro no Seixal, Almada.
Todas ests figuras, e ainda outras, vão ter a sua importancia, em termos nde formação e conhecimento real da vida e da familia da minha mãe, os Massapina, e também de algumas das muitas aventuras recambolescas do meu pai. No entanto só mesmo no final da minha infância e inicio da juventude, quaando já morava próximo de Lisboa, em Castnheira do Ribatejo, e depois no Lavradio, é que foram fundamentais no meu entendimento real da importancia do passado na construção do presente e do futuro.
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É da casa da familia Simões, em Queluz, que viajo dias depois de ter nascido, em Janeiro de 1962, para o norte de Portugal, com destino a Miranda do Douro.
Ironias do destino, anos mais tarde eu vim a conhecer a familia Simões, familia por sinal de larga próle, em que uma das filhas, curiosamente nascida no dia 25 de Dezembro, se veio a apaixonar por mim, numas férias no Algarve, na Amorosa, perto de São Bartolomeu de Messines, em casa do meu irmão Carlos, mas como eu não lhe passei muita atenção, resolveu namorar com o filho dos donos da mercearia situada ao lado da casa onde estávamos a passar férias. Namoro que tanto quanto sei ainda durou algum tempo, de tal forma que ele chegou a vir a Lisboa para oficializar alguma cois, mas depois de umas passeatas acho que acabou por ficar tudo em águas de bacalhau.
Lembro que era uma moça bonita de cara, com umas pernas e uns seios desenvolvidos demais para sua idade, e foi essa a razão do meu afastamento a compromissos mais serios, pois eu sempre tive pavor a mulheres fartas de crnes, e aquela estava já a adivinhar-se no que poderia vir a dar num futuro muito próximo, em termos de corpolencia.
No entanto não me escapei de a ter na minha cama de visita umas quantas noites, pois aguardava que todo o mundo se fosse deitar e infiltrava-se no meu quarto, com o objectivo de me apalpar e de se deixar apalpar. Adorava ser apalpada nos seios e nas cochas, e deixava fazer de tudo e ainda mais alguma coisa, menos permitir ser penetrada.
Foram umas noites loucas, e com um esforço tremendo tanto para evitar sermos descobertos, como para não comprometer ninguém, ainda mais que o quarto do meu irmão era fronteiro ao meu, e as portas tinham bandeiradas de vidro na parte superior, e via-se toda e qualquer claridade, ainda mais que se conseguia escutar tudo de um quarto para o outro de uma forma totalmente audivel e entendivel, sem ser necessário estar a vêr o que se passava.
Por exemplo tornava-se audivel cerca das 3 horas da madrugada o relacionamento sexual entre o meu irmão e a minha cunhada, e ainda mais porque eles não faziam qulquer tentativa para o evitar, e tornava-se compreensivel o gosto especial por parte dela em praticar sexo anal.
Desses esforços de desimulação que eu tinha que fazer diáriamente, fazia parte a ginastica para esconder as marcas das suas visitas nocturnas. É que ela adorava fazer sexo oral, mas quando eu ejaculava na sua boca, ela engasgava-se e mandava tudo para fora, para cima dos lençois e outra roupa. Na manhã seguinte era um suplicio para tentar esconder os resultados da noite, e a mãe da minha cunhada, a D. Adelia, até passou a estranhar o facto de eu fazer o levantamento diário da roupa da cama/sofa, comentando que eu estava a ficar muito organizado.
Obviamente, era uma pessoa já vivida, de tal forma que acabou por me dizer um dia para eu ter cuidado com as brincadeiras nocturnas, não fosse dar mis alguma coisa que somente roupa suja, e fosse necessário lavar fraldas e bibes.
O engraçado desta situação era que el durante o dia namorava com o palerma do filho dos donos da mercearia, e durante a noite masturbava-me e chupava-me a mim, assim eu na minha ingenua mentalidade juvenil, pensava que se algum dia por um azar a situação fosse descambar numa gravidez, eu nunca teria qualquer problema pois o palerma é que iria pagar a factura, era ele quem dava a cara, e que cara, é que o individuo tinha mesma uma cara de "palerma" abimbalhado.
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Um dos irmãos dela veio anos mais tarde a ser socio do meu irmão Carlos, na firma Complemento, e sei que acabaram com a sociedade por mutuo acordo, porque se acusavam de fraudes várias, desvios de verbas em contas tão simples como abastecimento do combustivel das viaturas, cheques para lá e cheques para cá, interesses noutros negocios aproveitando os recursos e serviços da firma.
Eu sabendo o que sei hoje, fico na duvida se realmente se justificavam todas as suspeitas sobre o Pedro Simões, ou se não teria sido mesmo o Carlos Alberto a provocar essas situações, no sentido de se libertar desse indesejável sócio.
A familia Simões foi muito importante para a vida da minha mãe, pois tanto quanto sei; a minha mãe, teve uma tentativa de suicidio, que segundo reza história somente foi abortada por via da intervenção directa da Helena Simões.
Hoje estou convicto de que essa tentativa teve que vêr directamente com a sua primeira gravidez indesejada, por outro lado segundo sempre achei, e era divulgado pela minha mãe; o conhecimento pessoal aprofundou-se depois em virtude da sua relação profissional com a Santa Casa da Misericordia de Lisboa, local onde esteve internado o meu suposto meio irmão Jorge Massapina, pois a mãe, Mari do Carmo, ali o colocou como se fora um indigente, ao não querer cria-lo para poder andar nas ramboiadas, e a minha mãe era a unica que o visitava, e retirava para passear no exterior da instituição, e ir ás compras adquirir alguma roupa ou outra primeira necessidade, chegando ao ponto de ele lhe chamar mãe.
Entretanto como a Maria do Carmo, arranjou um cavalheiro para dar ao seu filho o nome e assumir totalmente o papel de paternidade, a situação com o passar do tempo alterou-se, e ele passou a ser criado em casa, na Amadora, como qualquer outra criança normal, com pai e mãe estabilizados como casal.
A D. Helena Simões era enfermeira e assistente social da Santa Casa da Misericordia de Lisboa, e tratou de diversas situações. Dentre essas situações esta incluindo o funeral do meu irmão José Francisco, ainda por cima num periodo em que o meu pai estava ausente de Portugal, como Oficial da Marinha Mercante, embarcado no barco de poio à pesca do bacalhau, Gil Eanes.
Por outro lado, o Sr. Simões conhecia a minha familia do Algarve, pois como Agente e Vendedor de produtos e equipamentos para a agricultura, contactava muito com o meu tio Zeca, no Posto Agrario de Tavira, dai mais uma ligação e um ponto de contacto. Tinha ainda uma ligação ao suposto marido da minha tia Maria do Carmo, pois este trabalhava numa firma de material para a agricultura, situada junto do chamado Conde Barão em Lisboa, e portanto conheciam-se, em termos profissionais, e o Sr. Simões sabia de toda a história.
Da familia Simões, ainda se tem que registar outras ocorrências, ilariantes mas estas verificadas anos mais tarde, nomeadamente em ferias comuns no Algarve.
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Contaram-me que a viagem de automovel que me levou de Lisboa para Miranda do Douro, durou cerca de dois dias, e foi uma grande aventura, pois para além de que as estradas naquela época eram um verdadeiro martirio, com curvas e contra-curvas, isto para já não se falar da qualidade do piso que não era a mais aconselhável, ainda tiveram que lutar contra um carro envolvido em grandes "bancos" de nevoeiro e tempestades de neve e granizo.
O motorista dizia que nunca tinha vivido nada assim na estrada, pois nem conseguia vêr as marcações no alcatão da estrada, e conduzia um pouco por instinto e palpite, tais as condições de invisibilidade.
Obviamente que nada recordo desta viagem/aventura, tinha dias de vida, mas nunca se sbe até que ponto possa ter sido importante essa vigem, pois até hoje sempre adorei conduzir durante a noite, e com condições atmosfericas adversas, como por exemplo tempestades, vento forte, nevoeiro cerrado e chuva.
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Foi ali em Miranda do Douro, que aprendi a palrar e a gatinhar, e também foi ali que comecei a andar agrrado aos moveis e ás paredes, com menos de um ano de idade, e esperei pelo dia do meu aniversário para passar a andar complectamente solto, livre, sem qualquer auxilio, muito embora tenha dado nesse dia um vlente trambulhão, talvez para comemorar o feito histórico.
E também foi ali em Miranda do Douro, que tive os meus primeiros animais de estimação, um gato lindo de nome Leão e o famoso guedieiros, que me acompanhou durante uns quantos anos de infância, e que contribuiu determinantemente para eu perder alguns dos meus primeiros dentes de leite, numa queda por uma ravina abaixo, quando o perseguia para com ele brincar.
Quanto ao gato, como animal ciumento que era, resolveu logo que eu cheguei aprontar a destruição dos lençois do meu berço. Depois afeiçou-se de tal forma a mim que dormia todo enrroscado dentro do berço, aos meus pés, mas sempre vigilante e ameaçador, relativamente a quem ia ou vinha junto do berço.
Era um animal inteligente, e o meu pai simpatizava com ele, de tal forma que lhe mandou fabricar uma cama metálica acolchoada, e também colocou uma porta tipo vai-e-vem na cozinha, para ele poder circular à sua vontade, entrendo e saindo da casa para fzer as suas necessidades fisiologicas e para poder dár as sus voltas exteriores de felino.
Como gostava muito do meu pai, esse gto costumava aparecer-lhe sem aviso prévio na central electrica, que ainda distava alguns km's da nossa casa. Numa dessas sus visitas, veio a falecer electrocutado num transformador do parque de linhas da substação. Sei que teve direito a funeral pomposo e campa rasa, junto de casa, para se saber sempre onde estava o seu corpo.
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Para não fugir de perto de casa, pois desde que comecei a andar, não parava sossegado um momento, arranjaram um sistema que consistia em ficar preso pela cintura a uma corrente que funcionava presa num aguilhão que estava preso num arame que por sua vez estava suspenso entre dois pinheiros, para eu poder circular uns quantos metros.
Mais parecia um cão preso a uma corrente, mas era a unica forma de estar controlado e ter alguma liberdade no exterior da casa.
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Para os vizinhos; era um maravilha encontrarem aquela criança gordinha e atrevida, pois eu era simpatico e nada estranho perante as pessoas que não conhecia. Com toda a gente sem distinção eu falava, e era conhecido de todo o mundo porque era atrevido, e segundo consta, por relatos verbais e fotos ainda existentes, era uma criança algo bonita, gráças aos meus caracois no cabelo algo aloirado que depois com o passar dos anos acabou por ficar negro, bem escuro, e aos meus olhos verdes penetrantes que encantavam qualquer um.
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Miranda do Douro, anteriormente chamada de Seponci, pertence à provincia de Trás-os-Montes, e está implantada na margem direita do Rio Douro, que a separa da Provincia Espanhola de Leão. É um local paradisico em termos de paisagens territoriais, com uma lingua propria, o Mirandes, um mistura entre o português das beiras e a lingua castelhana, própria da provincia de Leão, e com uma atracção turistica fantastica graças a tudo isso e também a um tipo de musica acompanhada por gaita de foles e dança tipo Celta que nasceu com base numa luta de defesa pessoal com paus, em que os dançarinos vestem saias como os escoceses, e que tem um famoso grupo chamado "Pauliteiros de Miranda".
Em termos atmosfericos é uma região dotada de um clima bastante dificil, contando com invernos muito rigorosos e verões bastante quentes. Tem ainda uma fauna e flora deslumbrantes, como por exemplo lobos e aguias, e especies em vias de extinção que são ali preservadas, e flores maravilhosas e unicas na peninsula iberica.
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Tantas coisas da minha vida se iniciaram ali nquela terra, inclusivamente a minha própria vida foi ali gerada, mas começaram também ali os meus crônicos problemas de saúde, que me acompanharam na minha infância, nomeadamente crises agudas de amigdlite e outite, que anos mais tarde, face a esses constantes problemas me levaram a ter que ser operado às amigdalas, para resolver difinitivamente esses contratempos fisicos.
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A estadia em Miranda do Douro durou para mim, pouco mais de um ano. A viagem para Picote, que fica cerca de 18 km's de distancia, foi a etap seguinte da minha vida, e também dali pouco ou nad recordo, até porque a estadia por aquelas bndas foi muito fugaz em termos temporais.
Aquela zona é de paisagens inebriantes e destas maravilhas da natureza obviamente que nada consegui memorizar em relção a essa época. Somente anos mais tarde tive a oportunidade de conhecer e admirar com capacidade de entendimento essas belissimas paragens.
Na realidade Picote só existe por causa da construção da própria barragem do Picote, embora a localidade mais importante e relativamente mais próxima seja Barrocal do Douro. Bem perto fica um local denominado Guedieiros, e foi desse mesmo local que veio o meu primeiro fiel amigo de estimação, com o mesmo nome, e que me acompanhou pelos primeiros anos da minha vida.
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A minha vida de pré-infância constitui assim, um momento de vivências não recordadas, e somente conhecidas por relatos factuais posteriores e feitos por terceiros e que fui escutando ao longo da minha vida, e também por fotos que me fazem imaginar o que realmente devo ter ali vivido, só que entre a realidade passada e a imaginação presente vai uma grande distância, que o próprio tempo não consegue apagar.
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Aquela zona de Portugal, contribuiu no entanto de alguma forma para a minha paixão pela natureza e pelo montanhismo, como desporto que adoptei anos mais tarde. Facto engraçado é que sempre que por ali passo sinto como que uma nostalgia interior, uma sensação de "dejavu", uma tremideira enorme como se algo naqueles locais me fosse demasiado familiar, demasiado intimo, como se fora eu próprio naquelas pedras, naquelas águas do rio, água que vão passando, e até naquele menino que corre pela praça em frente ao adro da igreja de Miranda do Douro.
Paro no tempo, vivo o tempo, e sinto que em cada um desses fragmentos de vida, sou eu, eu mesmo que estive e estou ali...

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