sexta-feira, 15 de junho de 2007

XI - PORTO E VIZELA ANOS 1800, VIANAS E ANTUNES

A familia Antunes da Silva, é originária de Vizela, localidade nortenha de forte influência Republica, e que alguns afirmam ter sido um dos berços de grande parte das convulsões politicas daquela época, anos 1800, pois desde 1408 que se moviam dentro de uma forte paixão independentista que durou 600 anos.
A localidade de Vizela deve o seu nome e a sua origem ao rio com o mesmo nome, e que tem somente cerca de 40 km de curso.
Até ao seculo XIX, Vizela era sobretudo um local dedicado à agricultura, tendo as suas origens remontado em termos históricos ao seculo III a.c. com os romanos a descobrirem a importancia das águas termais existentes na zona.
A sua historia de luta independentista, remonta origináriamente a 1361, quando D. João tornou Vizela, Concelho, e foi o seu primeiro governante. No entanto esta importante designação somente durou 47 anos, e com o fim do Concelho tem inicio a sua luta, pela afirmação regional.
Em 1852, a então Rainha D. Maria II, prometeu visitar o local, e não o veio a fazer, e os seus habitantes ficaram bastante insatisfeitos, tendo aumentado ainda mais a sua tendencia revolucionária, anti-monarquica.
De salientar que Vizela no final do seculo XIX, tinha tão somente cerca de 5.000 habitantes.
A familia Antunes da Silva, de forte pendor Republicano, com uma vivência de burguesia abastada, detesta assumidamente todos os monarquicos, e nem concebeu a possibilidade de qualquer relacionamento pessoal com as pessoas da outra grande linha de pensamento da época.
Por outro lado o nome Antunes tem uma conotação judaica, pois segundo um estudo recentemente confirmado, todos os nomes acabados em (nes) como também por exemplo Nunes, são de ascendencia judaica, dai que seja interessante aprofundar as raizes mais profundas da familia, no sentido de se encontrar os seus primeiros alicerces.

Os Viana, são originários da zona do Porto. Vivem em Lordelo do Ouro, naquela época considerada uma zona residencial da burguesia abastada da cidade do Porto, e ao contrário dos Antunes da Silva, pertencem aos simpatizantes da Monarquia com fortes amizades na casa de Bragança.
O Porto tem origens muito remotas, existindo vestigios que datam da época pré-histórica, confirmados com a presença de inumeros vestigios de Antas, Castros e Citânias.
Surgem também mosaicos romanos datados do seculo IV a.c., como está também comprovada a presença posterior de exercitos muçulmanos em 711 d.c., que vindos do Sul da Peninsula Iberica, conseguiram chegar à região do Douro.
Não nos podemos esquecer também de um dos filhos mais ilustres da cidade do Porto, o Infante D. Henrique, cidadão com uma importancia fundamental para a história de Portugal e do Mundo.
A cidade do Porto nos finais do seculo XIX, era uma capital regional com uma pujante força em termos de importancia para a Região e para o País. Zona fortemente industrializada em especial na metalomecanica, vinhos, texteis e calçados, e vivia no meio de uma burguesia abastada e em constante ebulição politica, tendo por um lado os Monarquicos, Absolutistas, e por outro os Republicanos, Liberais.
Os conflitos eram diários, e acabou por estalar uma verdadeira guerra entre os dois grupos que durou cerca de 2 anos.
Em 1828, o Rei D. Pedro chegou ao poder, e o Porto fortemente anti-monarquico revolta-se imediatamente, vivem-se então importantes momentos históricos.
Entretanto, as calamidades não deixam a cidade em paz, e em 1856, a febre amarela, alstra, chegando à cidade do Porto, onde veio a matar grande numero de habitantes.
As lutas politicas continuam, e em 31 de Janeiro de 1886, tem lugar a 1ª revolução Republicana.
Em 1899, a peste bubonica surge, e uma nova mortandade geral atinge a cidade, com centenas de mortos, nomeadamente entre outros familiares a minha bizavó.
Várias figuras de destaque surgem na cidade do Porto, no periodo da Regeneração, entre elas a maior figura para a história foi Fontes Pereira de Melo.
É também do Porto que surge a 1º Deputado Republicano, Rodrigues de Freitas.
O Porto tem uma importancia fundamental na contibuição para a queda da Monarquia, acontecimento que ocorreu em 1908, com o regicidio no Terreiro do Paço, em Lisboa.
Ao longo da história outros importantes marcos foram originários desta nobre cidade e região, de que se destaca o dia 15 de Maio de 1958, com o comicio no centro da cidade, em que o General Humberto Delgado, usou da palavra para cerca de 200.000 pessoas, numa época de forte pendor militante contra o regime ditatorial nascido num celebre dia 28 de Maio, e que tinha como seu maior exlibriz, António de Oliveira Salazar.

É nesta mistura explosiva, entre absolutistas e liberais, nos finais do seculo XIX, que nasce a junção das familias, Viana e Antunes da Silva, devido a um grande paixão entre os filhos primogénitos das duas familias, que pós se conhecerem num arraial de um feira em Penafiel, e descobrirem que os pais eram donos de duas propriedades vizinhas na região, decidem namoriscar durante alguns meses, vindo a saber também mais tarde do odio mortal existente entre as duas familias, motivado pelas suas opções politicas, mas mesmo assim, e contra tudo e contra todos, assumem enfrentar ambas as familias e juntam os trapinhos , dessa união nascem vários filhos e entre eles vai surgir o filho António José Antunes da Silva Viana, e entre outros também o meu tio e padrinho Adriano Viana.
Sei que o meu avo era um homem com uma vida relativamente estável, aburguesada mesmo, e navegava ideologicamente na área religiosa sem ser um rato de sacristia, mas que obrigou os filhos a uma educação tradicionalmente esmerada e de forte influencia cristã, ministrada à época nos melhores colegios religiosos da cidade do Porto. É dessa sua ligação religiosa, ligada a uma educação de pendor cristão, e ao facto de o jovem Antonio ser verdadeiramente anarquista, que surgem as primeiras brigas entre pai e filho, que levam o Antunes a acabar por sair da casa paterna por opção pessoal, e se lançar no mundo por sua conta e risco pessoal.
Sei também por relatos do meu próprio pai, que a minha avó, Florinda, por detrás das costas do marido, e contrarindo as ordens dele, forneceu ao meu pai algum apoio necessário para essa sua independencia juvenil.
Anos mais tarde, o meu pai deixa de ter o sobrenome Viana, porque é um filho bastante irreverente, e por zanga com o pai, manda retirar esse nome de familia da sua identificação pessoal, mantendo no entanto o sobrenome Antunes da Silva, por manifesta gratidão para com a sua mãe e minha avó.
A minha irmã afirma que o pai Antunes, lhe confidenciou um dia, que gastou uma verdadeira fortuna para a época, 200.000$00 (duzentos mil escudos) para conseguir anular a designação Viana no seu nome pessoal.
Muito embora tenha exigido a retirada do sobrenome "Viana", continuou a manter um bom relacionamento com todos os irmãos, embora um relacionamento algo distante por sua própria iniciativa pessoal, pois raramente se visitavam, e a restante familia por ser assumidamente tradicional, e não gostar de falatórios, manteve essa situação fechada ao conhecimento exterior, e simplesmente conhecivel e visivel nos chamados albuns de familia.
O relacionamento com o avo Viana, ao fim de alguns anos de afastamento, voltou a ser respeitador e cordial, e inclusivamente mereceu uma deslocação do Porto a Lisboa, para uma verdadeir reunião da familia, para conhecer alguns dos netos e também a desconhecida, até ai, Libania da Conceição Massapina, a sua nova nora.
O registo dessa histórica viagem ficou para sempre marcado com, entre outras, as famosas histórias da comparação da Estação Ferroviária de S. Bento no Porto, estação que foi renovada e reinaugurada em 05 de Outubro de 1916, mas que na antiga estação já explorava a linha urbana entre S. Bento e Campanhã desde 08 de Novembro de 1896. A estação do Rossio em Lisboa, foi inaugurada em 23 de Novembro de 1890. Naquela época os comboios do trajecto Lisboa - Porto tinham as suas partidas e chegadas em Lisboa na Estação Central do Rossio, pois a Estação ferroviária de Santa Apolonia, ali junto do rio Tejo, ainda não estava operacional, tendo sido inugurada como estação terminal das ligações dos caminhos de ferro do leste e norte, somente em 01 de Maio de 1965. Sendo que nos dias de hoje já esta substituida nessa sua nobre missão pela chamada Gare do Oriente, hoje local de chegada e partida das composições mais importantes de entrada e saida de Lisboa por via ferroviária.
Na cidade do Porto as partidas e chegadas eram efectuadas na Estação de S. Bento, pois a Estação de Campanhã só anos mais tarde ficou a funcionar como estação ferroviária de partida e chegada de comboios do chamado longo curso para a cidade do Porto.
Naquela época os comboios apelidados de rapidos, chamavam-se "foguete", e esta ligação teve o seu inicio em 09 de Março de 1956, e a sua grande vantagem era que no seu trajecto não paravam em todas as estações, mas somente nas mais importantes como por exemplo, Espinho, Aveiro, Coimbra, Entroncamento, Santarém, e com essa vantagem diminuiam algum tempo ao trajecto, para além das carruagens em termos de qualidade serem bem melhores do que as utilizadas pelos outros comboios chamados de trans-regionais, por outro lado somente existiam duas viagens em cada sentido diáriamente, uma no periodo da manhã e outra no periodo da tarde.
A C.P. Caminhos de Ferro de Portugal são um meio e um modo de comunicação já bem antigo, que nem a mudança recente da sigla da empresa conseguiu apagar um passado glorioso. De salientar que a primeira viagem de comboio remonta a 28 de Outubro de 1856, com a ligação entre Lisboa e o Carregado, a que posteriormente se seguiram outras ligações um pouco por todo o País.
Rezam as crónicas familiares que os meus avós, eram tremendamente bairristas na defesa do seu Porto em particular, e da Região Norte em geral, sendo que para eles tudo era melhor no Norte. No Porto diziam que trabalhava-se mais, comia-se mais e melhor, os monumentos eram mais bonitos e grandiosos, o vinho era melhor, o Porto tinha menos poluição e nem a Estação Ferroviária do Rossio escapava à sua critica demolidora e criteriosa, sendo considerada inferior em termos de grandeza e beleza em relação à Estação de S. Bento no Porto.
No entanto no dia da chegada ficaram extasiados com a beleza da Estação do Rossio e com a sua arquitectura, e assumiram que realmente tinha também a sua beleza particular, e que tinha que ser respeitada, pois até era parecida com a de S. Bento, muito embora a Estação do Rossio fosse mais antiga. Claro que devem ter arranjado uns quantos pequenos defeitos para manter a superioridade da sua Estação de S. Bento a um nivel superior.
Para eles Lisboa, levava vantagem em relação ao Porto no numero de viaturas a circular nas ruas, mas em contra partida diziam que os condutores (chauferes) do Porto eram mais cuidadosos, e que portanto Lisboa era só confusão, e os "mouros" não se entendiam, nem falavam muito uns com os outros. Bairrismos!
O metropolitano foi motivo de muito gozo naquela época, e durante muitos anos, pois o metropolitano no Porto é muito recente, era o assunto do metropolitano de Lisboa, pois os lisboetas "alfacinhas" brincavam com os "tripeiros" dizendo que em Lisboa tinham o metro e no Porto o centimetro, pois eles não possuiam ainda metropolitano. E como as estações em Lisboa eram subterranêas, brincavam com as entradas dos wc's no Porto parecidas com as entradas do metropolitano em Lisboa, dizendo que eram as entradas para o metropolitano da "merda" no Porto. Portanto o assunto metropolitano nunca era abordado por pessoal do Porto, até parecia a brincadeira do comboio do Samouco para meter água.
Em termos de gastronomia, afirmavam que a alimentação no Norte era bem melhor e que no Sul só comiam porcarias, e que por exemplo petiscos como caracois jamais passariam pela sua boca, e pratos como um bom bife de cavalo, muito menos, pois no Norte é que se comia bem e se bebia melhor.
A minha mãe sabendo antecipadmente dessas suas decisões gastronomicas, preparou um dia um magnifico prato de bifes de cavalo, que foram devorados com muito gosto. O meu avo durante muitos dias não se calou com os comentários sobre aquela carne tão saborosa. No dia da partida de Lisboa, regressando ao Porto, a minha mãe não se conteve e já na gare da Estação do Rossio, confessou qual a origem da carne tão gostosa. O meu avo nem queria acreditar, e de uma situação inicial de pretender vomitar o que já tinha comido muitos dias antes, até assumir que era uma carne muito gostosa, foram segundos, sendo que desde essa data passou a comer carne de cavalo sempre que se deslocava a Lisboa.
Agora comer caracois? Isso é que não!
Então podia lá ser, ir comer aqueles animais ranhosos, que ele ainda por cima costumava vêr muito a passearem por cima das campas funebres nos cemitérios. Isso nunca!
Anos mais tarde, voltei a ter o mesmo exemplo de repulsa sobre comer caracois, desta feita foi o meu cunhado, João Pinto Rodrigues, outra pessoa do norte de Portugal, do Concelho de Lamego, preconceituoso culturalmente em termos gastronomicos em relação a este petisco tão famoso no Sul de Portugal.
Na verdade, após muita insistencia, veio a provar a iguaria e até a assumir gostar do seu paladar. Ainda me recordo do local da sua iniciação gastronomica, foi numa tasquinha tipica que existia no final da Rua Poço dos Negros na confluencia com a Rua Morais Soares, que para além dos caracois também fazia uns lombinhos e uns pipis de comer e chorar por mais, além de que tinha um vinho verde de se lhe tirar o chapeu.
Em relação aos meus avós; os seus preconceitos em relação à alimentação sulista, foram sendo alterados a pouco e pouco, e segundo os relatos, nas posteriores e diversas deslocações que efectuaram a Lisboa, passaram a apreciar a gastronomia sulista, e a não dispensar entre outras iguarias, uns bons bifes de carne de cavalo, e outras especialidades. Passaram inclusivamente a gabar algumas situações do Sul de Portugal, em termos sociais e culturais, e ficaram amantes das compras em Lisboa, pois tudo era mais moderno em termos de vestuario do que o que podiam encontrar normalmente no Porto.
Tornaram-se assim uns "morcões" adeptos da terra dos "mouros"!
Não consigo reter muita memoria pessoal, sobre estes meus avós, sendo que apesar de ser assumidamente Ateu, se hoje estou baptizado, a razão dessa situação deve-se unicamente a essas ilustres personagens que tanto insistiram, junto da minha mãe que um dia, na ausência do meu pai, conseguiram levar a efeito esse intento, com a participção directa dos meus tios Adriano e esposa, que acabram por ser os meus padrinhos de baptismo.
Com o devido respeito, ainda hoje questiono a razão de ser de efectivarem baptizados, em jovens de tenra idade, sem lhes darem sequer a oportunidade de dizer se estão ou não de acordo com esse facto. Eu próprio por uma vez na vida cometi essa aberração, em substituição do meu irmão ou do meu pai, em relação à minha sobrinha Clara, filha da minha irmã, e ainda hoje me questiono como fui cometer uma herezia tão grande. Mais uma imposição, pró-economica da Igreja Catolica, que afirma que quem não está baptizado está impuro e fora dos olhos protectores de Cristo, e mais umas quantas "baboseiradas" que muita gente vai acreditando, mas que no fundo se trata unicamente de um rito culturalmente aceite e ao mesmo tempo mais uma forma de granjear algum capital financeiro para as igrejas em face dos custos de toda a encenção.
Recordo que nesse dia me limitei a segurar numa vela, como se falta-se a luz dentro da igreja junto da pia de água benta, e a assistir a toda a encenação, como um bom actor, tal como anos mais tarde participei no espectaculo do meu proprio casamento por igreja, para contentar uns quantos ferverosos apoiantes da causa.
Agora já não tenho pachorra nem consigo assistir à "fantochada" teatral da missa de corpo presente num funeral, pois trata-se de uma hipocrisia do tamanho do mundo, assistir aquela lenga-lenga, até parece que se faz esse tipo de missa para ficar ali com a "alma" do morto, e o que segue para o coval é um mero monte de ossos e alguma carne para a bicharada decompor, e alimentar o seu ciclo alimentar. Sim porque nada se cria, nada se perde, tudo se transforma!
Quanto a baptizados, é obvio que o nome de cada um é oficializado no registo após o nascimento, e não fica com mais nome, nem menos nome, apenas porque foi baptizado, na religião catolica ou em outra qualquer religião ou seita.
O mesmo se passa com o casamento, pois na realidade o documento oficial é o registo civil, tudo o resto é pura mitologia, eu próprio assumi somente casar na igreja catolica, para agradar aos meus estimados sogros, tendo desde logo avisado o ilustres Padres Querobim, e Armando, que não participava em nenhum ritual de preparação, reza ou outro qualquer, e que me limitaria a deslocar no dia e hora previamente marcados à igreja designada, para participar na festa, que considerava uma "palhaçada".
Depois de muita insistencia por parte dos familiares da noiva, os padres lá acederam a celebrar o rito segundo as minhas condições pessoais.
E eu no dia e hora marcados lá compareci, participando no que considero ser uma "fantochada", e lá fui para o copo de água com os convidados e obviamente a noiva, Fernanda Maria dos Reis Rodrigues, que já era Massapina, desde à 2 anos atrás, e que não passou a ser nem mais nem menos do que já era nesse dia, apenas por ter dito sim em frente a um padre.
Para mim foi um dia de festa, com os amigos e familiares, tal como muitos outros dias de festa, mas o casamento oficial tinha-se realizado no dia 02 de Setembro de 1988, precisamente 2 anos antes dessa encenação teatral, como obviamente reza em todos os documentos oficiais.

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