terça-feira, 12 de junho de 2007

II - CINFÃES O INICIO REAL DA INFÂNCIA PRÉ-SEXUAL

Deitado na cama, lucido e de olhos bem abertos na escuridão daquele quarto.
Mais um quarto, de mais uma casa da minha vida, olho para a mulher deitada ao meu lado e penso em tudo quanto já vivi, em todas as mulheres com quem intimamente já convivi, e chego a ter "asco" de mim próprio, pela forma leviana como fiz sofrer algumas dessas mulheres.
Mulheres que tem passado pela minha vida, que se tem apaixonado por mim, que tem sofrido por minha causa, mulheres pelas quais eu tantas vezes não me tenho pessoalmente apaixonado, ou melhor dizendo, não tenho conseguido manter viva a chama da paixão, porque continuo em busca da tal felicidade utopica.
Quando será que vou parar essa busca?
Quando morrer?
Não! Acho que vou parar antes, muito antes, pois sinto que estou a descobrir, dentro de mim mesmo, a razão de ser, de estar a ficar cansado, de tanto procurar e no intimo estar a ficar convicto de que essa mulher já passou pela minha vida, e ainda esta na minha vida, e ainda estou muito a tempo de fazer um exame de consciencia, e completar a minha vida com alguem que seja quase tudo aquilo de que eu tanto tenho procurado, porque a mulher perfeita não existe! Na vida nada existe totalmente perfeito!

Volto a fechar os olhos, e lá estou eu em Cinfães do Douro, sentado nas escadas, junto á loja do Camelo, e á Alfaiataria do Oliveira, brincando com o meu amigo Tó-Bé, e lá vem a sua irma Licas, que miuda gira e desenvolta, a minha primeira namorada.
Namorada!
Será mesmo?
Eu um puto, com os meus 6, 7 anos, a brincar com uma garota, que um pouco mais velha, já tinha a esperteza feminina de levantar as saias, e me mostrar as calcinhas, pedindo para eu lhe tocar num certo sitio que ela sabia proibido a toques de outros que não ao de quem ela achava gostar de verdade.
É lá possivel isto, eu um puto com aquela idade, sabia lá o que era aquilo, e o que ela queria, e penso que ela própria também não sabia ainda nada sobre assuntos de sexo, só que achava que namorar era jogar ás escondidas na casa velha e abandonada que existia no quinta da casa dos pais, e roubar-me um beijo na face, ao mesmo tempo que pedia para ser apalpada, acho que por puro e simples instinto feminino. E depois, lá ia ela a correr dizer a todo o mundo que era a minha namorada.
E eu, por brincadeira e orgulho masculino, também dizia que sim, que ela era a minha namorada!
Passados tantos anos, onde andará ela?
Será que ainda é tão bonita como a mim me parecia na inocência da minha juventude?
Foi ela, sem o saber, a responsável anos mais tarde pela minha primeira verdadeira experiencia sexual, com uma Espanhola, que me fazia lembrar a Licas. Aquela mesma primeira namorada a que eu não tive oportunidade de declarar o meu amor de uma forma real e consequente.
E, quando, anos mais tarde, talvez cerca de uns 10 anos depois, eu tive oportunidade de pela primeira vez ter realmente uma mulher para mim, lembrei-me nesse momento da Licas, aquela miuda gira, que queria já naquela tenra idade ser apalpada por mim, e algo mais, a que eu com a minha inocencia e inexperiencia, nunca poderia corresponder.
E naquela tarde, de primavera, ali na Rua que desce, junto do antigo Cinema Rex, em direcção ao Largo do Intendente Pina Manique, em Lisboa, num simples quarto de 2º andar, de uma pensão situada ao lado de uma casa de jogos electronicos. Quando o Intendente de Lisboa ainda era um local de jovens prostitutas esbeltas, que depois a pouco e pouco se transformou numa zona de perigosa frequência de prostitutas velhas, e toxicodependentes, trafico de droga e todo o genero de marginais. Foi ali que eu durante toda uma tarde encontrei pela primeira vez a concretização oficial dos meus sonhos sexuais, de uma forma algo estranha, para um principiante, pois eu sabia que aquela jovem maravilhosa e esbelta era uma prostituta, mas nunca poderia esperar que essa mesma mulher me pedisse para a acompanhar, apenas porque já me vira várias vezes, na loja de jogos electronicos e matraquilhos.
Segundo ela disse; "tinha ficado vidrada em mim", e tinha um desejo tremendo de fazer amor comigo, sem receber nada em troca, e abdicando dos 30$00 (trinta escudos) que levava aos seus clientes, e saliente-se que uma prostituta, naquela epoca, cobrava em média 20$00 (vinte escudos), mais 5$00 (cinco escudos) para o quarto, e nem se falava ainda de preservativos nem de DTS's.

As prostitutas somente perguntavam ao potencial cliente se queria ir, e o que faziam, e qual o preço para cada "prato", ou pelo conjunto, dizendo sempre que faziam tudo ao natural, (sem preservativo) sendo que muitas praticavam os chamados "3 pratos" ou seja o sexo oral, sexo anal e sexo vaginal, com um preço mais caro. Outras apenas praticavam aquilo que apelidavam de "mamada" ou seja sexo oral, e obviamente o mais barato, e outras somente o sexo vaginal, com o truque de que praticavam invariavelmente o chamado "coito interrompido", pois quando pressentiam a ejaculação masculina arranjavam forma de terminar logo por ali. Outras excitavam o cliente com uma roçadelas do sexo masculino pelos seus seios para aumentar a excitação masculina e, não demorar tanto tempo na pratica do trabalho, e outras ainda faziam gosto em praticar um pouco de sexo oral, tendo como objectivo o mesmo fim de não se demorarem muito com o cliente, pois tempo era dinheiro para elas, e quanto mais rapido estivessem na rua, mais rapidamente poderiam atender outro cliente.
Invariavelmente queriam receber o dinheiro do pagamento adiantado, e mostravam-se muito afectuosas até terem o dinheiro na mão, depois eram rapidas como o vento a terminar o trabalho.
Nunca pratiquei muito este tipo de "desporto" a que os jovens da minha geração apelidavam afectuosamente de "ir ás meninas", "ir ás putas" ou "ir afogar o ganço", entre outros termos, no entanto tinha muitos amigos que não perdoavam uma ida a Lisboa, sem uma visita especial. Exemplos existem de acontecimentos verdadeiramente ilariantes, desde roubos nos quartos, saidas com a roupa na mão, esperas no quarto com o trabalho já pago e a prostituta desaparecida, e a nossa brincadeira preferida para os espertalhões, que consistia na insistencia de uma ida para o quarto com uma mulher?? que no fundo era um travesti e depois assistir á saida apressada sem o acto consumado, perante os aplausos do restante grupo á chegada, uma vez que eramos sabedores da marosca desde o inicio, e tantas outras situações.
Em termos de quantidade e qualidade Lisboa, era um mundo. Naquela epoca, zonas como o Intendente, Avenida da Liberdade, zona do Instituto Superior Tecnico, Praça da Figueira com as prostitutas velhas, tanto de dia como de noite, e Martim Moniz, e Hospital do Rego, durante o dia, Avenida Casal Ribeiro e zonas limitrofes e ainda Artilharia I, durante a noite, e somente durante o dia a zona superior do Parque Eduardo Setimo, pois á noite era local perigoso e de frequência somente masculina, eram locais de peregrinação obrigatória para a malta da minha geração verem as beldades do negocio carnal.
Na zona do Barreiro, a quantidade e qualidade eram inferiores. As prostitutas trabalham sobretudo em casas, como a que existiu mun r/ch numa rua sem saida fronteira ao Clube 31 de Janeiro, e outra num 1º andar na zona da Verderena que apelidamos carinhosamente de "a massagista", pois dizia que fazia massagens, e era á data, uma casa segura pois era protegida por um chefe da PSP local, que estava amancebado com a Madame da casa, o que impedia qualquer rusga no local. Na Baixa da Banheira ficou celebre a casa existente num r/ch fronteiro á Associação dos Reformados, que tinha um Gay como porteiro, a quem faziamos as maiores diabruras possiveis, desde deixar a "miudo(a)" embevecida pensando ter arranjado namorado, até telefonar para o fazer vir à janela várias vezes durante a noite, para vêr quando chegava o potencial cliente, que obviamente nunca mais chegava, e ainda aproveitar uma visita e deixar alguém a namorar com ele no corredor para o entreter e não pagar o quarto na saida, e muitas mais potenciais diabruras.
E para beber uns copos e passar uns bons momentos existia o chamado "Enche a Pança" na estrada se Santo António da Charneca para a Moita, bar-prostibulo cheio de miudas já sabidas, que queriam embebedar o cliente para depois passarem aos quartos que se situam nas traseiras, local onde o velho Cesár fazia as maiores diabruras, desde se intitular agente da Policia Judiciária, até futebolista do Benfica, e logo ele que tinha dois pés que pareciam tijolos, e todos estes argumentos apenas para poder ter uns descontos ou borlas no tratamento no quarto, era mesmo um viciado no local. Isto para não se falar das prostitutas de estrada na zona de Coina e de Rilvas, locais por onde passeavamos de automovel para vêr as novidades, e que por vezes nos traziam algumas surpresas conhecidas, incluindo as amorosas esposas de alguns conhecidos, que por ali paravam para recompor o orçamento mensal da familia, algumas até com o conhecimento e transporte dos próprios maridos.

Com a Paloma, assim aconteceu, passados cerca de 2 anos da Revolução de Abril, 1976, ali estava eu na cama com uma prostituta que nada me queria cobrar, e ainda me queria pagar o lanche ou o jantar na Cervejaria Portugalia, o que acabou por acontecer. Apenas queria receber prazer e a minha companhia, e logo eu que nunca tinha tido sexo com qualquer mulher.
Ainda me lembro, de ter tido alguma vergonha, pudor, de me despir em frente dela, e só ganhei verdadeira coragem quando a vi despir-se na minha frente, com aquele corpo maravilhoso, com todas as curvas e medidas no sitio certo. Que mulherão era aquela Espanhola.
O incrivel de toda esta situação, foi que ela depois dessa tarde queria que eu todos os dias por ali fosse visitá-la e chegou mesmo a aliciar-me para lhe fazer companhia durante as horas em que por ali trabalhava. Anos mais tarde entendi que o que realmente pretendia era ter um novo "chulo" para cuidar dela, e optou por tentar contratar-me para esse serviço.
Pelos anos fora fui encontrando essa mesma Espanhola, de nome Paloma, falamos sempre com o maior respeito e consideração, embora ela fosse bem mais velha do que eu, ai uns 10 anos, tive a oportunidade de beber várias vezes café e umas cervejas com ela, mas nunca mais voltei a estar deitado com ela numa cama ou a ter qualquer relacionamento sexual, talvez por uma questão de respeito, e acho que de alguma amizade. Amizade granjeada naquela tarde de cumplicidade, ainda mais que ela veio a saber nesse mesmo dia que era a minha primeira mulher, e ela confessou que estava comigo porque eu a tinha atraido, e porque tinha colocado um ponto final numa relação, e queria estar com alguém não pelo dinheiro mas sim pelo puro prazer disso mesmo.
Curioso que a mesma situação já me voltou a acontecer, e mantenho com essa pessoa uma optima amizade até aos dias de hoje, outra situação diz respeito a alguem que conheci antes de ela casar, e hoje é esposa de um amigo meu, e até esta data mantive o maximo sigilo em relação aos antecedentes profissionais da esposa, pois sei que ele próprio desconhece a situação, ou faz aparentemente por desconhecer.
Por outro lado, já aconteceu um relacionamento, bem mais constrangedor, com a mãe de uma amiga minha, e também nessa situação a amizade se manteve, bem como o sigilo relativamente á real profissão da Senhora.
Anos mais tarde, encontrei a mesma Paloma, casada com um Bancario Agencia da Rua do Ouro em Lisboa, que me apresentou ao marido como antigo namorado. Imagine-se!
Eu não desmenti a sua informação, para não criar constrangimentos, e fiquei contente por a saber bem encaminhada na vida.

E o irmão da LIcas?
Onde andará o Tó-Bé?
Estou a vêr nitidamente as nossas brincadeiras, com os berlindes, com os sacos de plástico do chapeleiro da esquina da escadaria que se enchiam de agua, areia ou terra, para atirar uns aos outros, brincadeiras com o arco de ferro e a gangeta, com os carrinhos de rolamentos na descida da Cidla, e o jogo do esconde-esconde no quintal dos pais dele, o mesmo quintal onde, na casa velha, eu sem o saber, namorei a primeira garota da minha vida!

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