quinta-feira, 14 de junho de 2007

VIII - NA INFANCIA NASCEU A AVERSÃO ÀS FARDAS

O inverno em Cinfães do Douro era algo de se levar muito a serio. O frio obrigava a cuidados especiais e rigorosos, e todos os anos a neve e o gelo apareciam para nosso desespero e simultaneamente para nossa grande alegria.
Alguns dias, durante o ano lectivo, não existia condições para se poder ter aulas pois a neve e o gelo invadiam tudo, e ai as brincadeiras na neve ganhavam terreno.
No jardim Serpa Pinto, realizavam-se os torneios de arremeço de bolas de neve, com alguns de nós a ficarem mal tratados, pois muitas vezes dentro da neve ia uma pedra para fazer peso, e com a quantidade de bolas atiradas a roupa acabava ensopada de tanta água derretida. Também se aproveitava para efectuar algumas maroteiras, como a colocação de montes de neve nas portas de pessoal conhecido e mais resingão, bem como a colocação de neve nos vidros dos carros que com o arrefecimento cedo se tornaria em gelo, impossibilitando a sua utilização pelos donos, sem uma boa limpeza.
Como o nosso maior interesse era a diversão, nada melhor do que preparar os passeios publicos, para assistir a umas quantas boas quedas. Assim colocávamos neve e gelo, na quantidade certa, em frente de alguns estabelecimentos comerciais, e depois era só aguardar os efeitos, com um pouco de água por cima no momento proprio, para gelar um pouco, e nunca falhava, pelo menos uma meia duzia de trambulhões, durante uma manhã ou tarde, dava para assistir.
E eram ilariantes as quedas, o pessoal até parecia que ficava pairando no ar a patinar em seco, para escolher para que lado ia cair.
Depois era a risota geral! Até existia o concurso da melhor queda, e nesse recordo que o Major da GNR foi sempre o Campeão.
Foi um dia preparado o terreno à porta da Singer, e como o Cavalheiro lá passava, sempre, para namoriscar uma das empregadas. Zás! Caiu que nem um patinho! Deu cá um destes trambulhões, que nem a farda escapou, ficou com as calças rasgadas num joelho, para além de ficar com todo o fardamento molhado e cheio da mistura de neve com terra.
As empregadas da Singer não resistiram, e foi a risota geral.
O tipo ficou tão embaraçado e irado que de palavrão em palavão, demonstrou toda a sua grande qualidade de cavalheiro, e nem as senhoras escaparam aos seus improperios, entre os normais desmandos linguisticos do pessoal do Norte de Portugal com os "caralhos e os foda-se" totalmente à solta.
Foi o delirio da rapaziada!
O Major da GNR no chão, era a nossa gloria suprema, nada tinha que vêr com as quedas de qualquer Manuel, Joaquim, José ou Maria, aquilo sim era um acto heroico, derrubar a autoridade, era um feito digno dos maiores herois.
Durante muito tempo, quando viamos a personagem, ninguém resistia, a uma serie de gargalhadas.
Claro que ele sempre suspeitou da origem do seu acidente, mas nunca lhe foi possivel provar nada contra nós, ou seja a equipa habitual ficava ilibada de culpas, e a preparação da grande actuação "circense" do Major da GNR ficou sem paternidade, até hoje.
Mas a brincadeira de top maximo, para a época invernal, eram as construções de bonecos de neve, construidos à força de muita neve e decorados com cenouras e batatas roubadas um pouco por todo o lado, e também pedras.
No dia seguinte ficavamos doentes, porque as constipações surgiam, e também porque depois de tanto trabalho com os bonecos, com o surgimento de alguns raios de sol os bonecos derretiam, e o trabalho lá se ia todo por água abaixo.
Que frustração!
Mas todos os anos se repetia o mesmo cenário, quem sabe se na esperança de que algum dos bonecos resistisse um pouco mais ao aumento da temperatura.
O Major/Comandante da GNR local era uma vitima habitual das nossas diabruras. Era assim devido à sua prosapia, e mania de que era o centro do mundo, sempre com uma imensa "cagança" com o fardamento, com a viatura, e achando que todas as mulheres ficavam louquinhas pela sua aparência de macho latino das beiras, metido naquela farda de feijão cinzento, que na realidade o transformava em quem era, um autentico "bimbalhão"!
Assim, desde tenra idade que aprendi a considerar aquele cavalheiro da fardamenta cinzenta com listinhas verdes, como alguém a quem deveria sujeitar a todas as investidas possiveis e imaginarias, e como tinha um desporto favorito que era regar as plantas da minha mãe, existentes no terraço dianteiro da casa, aproveitava as passagens no local do famoso Galâ da GNR, para namoriscar uma das empregadas da Singer, e com uma pontaria extraordinária colocava o bico fino do regador em posição e lá ia regando devagarinho, o chapeu redondo de pala, como forma de ensopar. outras vezes, ele tirava o chapeu, e então eu fazia-lhe pontaria na careca, e zás, era a risota geral pois o "palerma" olhava para cima, não me via, e dizia para dentro da loja; "... vejam lá que dia tão lindo que estava agorinha mesmo, e agora parece que esta a começar a chover, até já tenho uns pingos na cabeça".
As empregadas, que já sabiam das minhas maroteiras, riam à farta, e o "palerma", achando-se engraçadinho ria também, e ia limpando a careca, e ao mesmo tempo olhava para cima, não sei se para vêr o estado do ceu, ou para tentar resolver aquele inigma de um dia de sol com água a cair-lhe em cima.
A brincadeira das regas no Major da GNR só terminou porque um dia eu imaginei tirar-lhe o chapeu, e consegui, mas obviamente que acabei por ser descoberto, e oficialmente acusado por todas as ocorrencias anteriores. O que deu uma grande bronca, como se diz no Norte de Portugal: "uma bronca do camano"!
Arranjei um fio de pesca e um anzol, e quando tive oportunidade, dediquei-me a pescar o chapeu do Major. Claro que depois de muito e paciente trabalho lá consegui colocar o anzol em posição, agarrar o chapeu e içar o mesmo. Foi uma gritaria pegada, e eu morto de riso lá em cima na varanda.
Corri rapido para dentro de casa, e ofereci o chapeu à minha mãe que lho devolveu, assim que ele bateu à porta da cozinha. Após muitas desculpas por causa daquela minha impertinencia, a minha mãe fechou a porta e então foi a risota geral, por causa da cara do cavalheiro.
Ele relembrou as anteriores molhas do chapeu da farda e da careca, e deduziu que teria sido sempre eu o causador das suas tristes figuras na via publica.
No entanto, tudo ficou por conversa mole, "para boi dormir", pois o meu pai gostava tanto dele que o considerava como um "peixe podre", nunca entendi muito bem a razão dessa designação, se seria por causa da côr da sua farda ou se por causa dele cheirar sempre a pestilento suor a longa distancia.
As brincadeiras da varanda ficaram por ai, mas a minha apetencia para fazer traquinices ao homem da farda cinzenta não acabou.
Numa das suas visitas à Singer, resolvi levar mais a fundo a brincadeira com esta alta personalidade, e escutando o meu pai referir que se um carro tem o tubo de escape obstruido não se consegue fazer arrancar o motor, decido colocar uma batata na saida do tubo de escape do Jipe do Major/Comandante, enquanto ele gabarolava as suas aventuras em frente da loja da Singer.
Mas não contente só com o facto de o carro não ir pegar, resolvi também abrir uma lata de óleo existente na garagem de casa, embeber um bocado de tecido em óleo, e colocar dentro do tubo de escape, antes de tapar tudo com a batata.
Como o carro não pegava, o infeliz resolveu chamar um Guarda para o ajudar a vêr o que se passava com o motor da viatura. O Guarda chegou e depois de muitas observações, e tentativas, lá retirou a batata da saida do tubo de escape, perante a risota geral da malta, que se foi juntando em volta da viatura, para assistir.
O "palerma" do Major, não satisfeito com a situação, e como o carro mesmo já sem a batata no escape não arrancava, mandou o Guarda entrar na viatura e dár repetidamente à chave para tentar colocar o carro a trabalhar, entretanto depois de andar a meter o naris em todo os cantos carro, foi-se colocar na traseira da viatura a olhar de cocoras para o escape. Depois de muitas tentativas, e com a viatura já a querer pegar, assim que o Guarda deu à chave na ingnição em mais uma das tentativas, o pano embebido em óleo saiu em chamas, parecia disparado por um canhão e acertou em cheio nas fuças do Major, enchendo-o de óleo e fuligem.
Foi o desabar do Mundo! Uma risota geral, de miudos e graudos, e o desespero do infeliz, que perante a situação, encheu de nomes, tudo e todos, a começar pelo pobre guarda, que sem culpas no cartorio, foi acusado de não ter verificado como devia de ser o real problema do carro.
Este Major/Comandante da GNR, era de facto um boçal, como quase todos os Agentes da GNR naquela época. Eram escolhidos na sua maioria, a dedo pelas chefias, mais pela sua obediência ou familiaridade do que pela sua capacidade, pois a maioria tinha tão somente a antiga 4ª Classe do ensino Primário, normalmente tirada não se sabia bem como, e tal podia ser verificado na sua inabilidade para as letras e numeros.
Este Major ainda sofreu muito com a minha estadia infântil em Cinfães do Douro, pois nunca deixámos de lhe dedicar uma atenção especial nas nossas maroteiras, desde lhe untar os puchadores das portas do carro com trampa, colocar pedragulhos no rodado traseiro para as viaturas derraparem, até lhe esvaziar os pneus, de tudo um pouco lhe fizemos, para já não se falar dos tiros com fiscas de araminhos que lhe acertavam um pouco por todo o lado e de que ele desconhecia a origem.
Ainda tentou umas quantas vezes, fazer queixa de mim ao meu pai, tendo numa dessas investidas sido recebido, dentro da propriedade pelo fiel amigo Guedieiros, que tal como eu odiava fardas, talvéz por pensar serem os homens do carro de recolha de cães vadios, que tão bem conhecia ao longe, devido aos latidos que da viatura sempre surgiam, e também porque a côr da farda não era muito diferente, e perante a minima palavra de vai, ataca, correu com o Major/Comandnte a sete pés de dentro da propriedade.

Quando eu digo que o Guedieiros pensava, estou mesmo certo disso, e acho que os animais realmente pensam, obviamente com outra capacidade e outra visão. Uma visão diferente do comum humano, mas não é possivel imaginar animais de tal forma inteligentes, que o sejam meramente por simples rotina de aprendizagem, tem que ter mais alguma coisa dentro delas, uma outra capacidade que lhes permita desenvolver como desenvolvem certas e determinadas actividades e tomarem esta ou aquela atitude com iniciativa propria.
Das raras vezes em que fui à tertulia dos petiscos, que se reunia na cave do Café Angola, o Major até tremia só de me vêr chegar, e os amigos gozavam com ele à farta, dizendo "Olha quem chegou! O grande amigo cá do nosso Major!", rindo a bom rir na cara dele.

Na verdade, a autoridade e fardas sempre me causaram de alguma forma uma certa antipatia. Fardas sempre foram contra a minha forma de estar na vida.
Anos mais tarde voltei a ser confrontado de novo com o destino para odiar frdas, quando em 1975, em Moçambique um grupo de soldados da Frelimo, liderados por um Comandante, com muito pouca "massa encefálica", resolveu pura e simplesmente fuzilar-me um cão.
Ainda fiquei a odiar mais as fardas, e também de certa forma a considerar-me um racista, no bom sentido da palavra, pois não me sinto necessitado a militar na KKK, ou seja da mesma forma que eles pretos toleram um branco, também eu sendo branco tolero um preto, embora nunca lhes possibilite muito espaço de manobra, pois os considero no minimo abusadores, e ao longo da minha vida já tive por mais de uma vez prova comprovada disso.

Nunca cumpri o serviço militar obrigatório, e uma das razões foi precisamente a minha aversão ás fardas, e ao militarismo exacerbado existente nas diversas instituições militares.
Lembro ainda o dia da minha inspecção militar, no DRM de Setúbal, e da forma como o Tenente que estava a fazer a selecção para a Força Aerea, me disse, a gozar: "... então até breve em Monte Real, Campeão!", e também não me esqueço da forma gozona como lhe respondi: "... acha que eu vou daqui a Monte Real só para o vêr varrer a parada ou que? Não conte comigo, pois fardas nem para os "Almeidas" da Câmara de Lisboa".
O tipo ficou bastante transtornado, e até queria instaurar-me um processo, pois todo o pessoal que estava proximo se ria directo na sua cara.
Ainda hoje não sei como iria conseguir instaurar-me um processo, pois eu não pertencia a nenhuma força militarizada, estava ali como simples civil.
Depois de umas quantas visitas ao Hospital Militar da Estrela, a minha Pericardite Aguda serviu para alguma coisa, e lá consegui a guia de inapto, para todo o serviço militar, e foi com um enorme gozo que me desloquei ao DRM de Setúbal, num dia de recrutamento, para me carimbarem a guia, e ficarem lá com uma cópia comprovativa. Na saida encontrei o mesmo Tenente, (acho que deveria ser Tenente, pelo numero de divisas na farda, e pela diferença no vestuário) que me disse: "... então já veio para se apresentar o franguinho", ao que eu, reconheço hoje ordináriamente, lhe respondi: "claro que já vim sim, não esta a vêr, e até já levo a guia carimbada, agora só vou a Monte Real se for para comer a sua mãe se ela for boa, o que duvido, pois com um filho assim, não deve saber nem quem é o pai da criança"
O Tenente ia morrendo, o pessoal que estava ali na parada todo a rir, e o tipo a desafiar-me para a rua, e a ser ao mesmo tempo agarrado pelos braços, por militares, que se encontravam próximos, e assistiram ao inicio de toda a confusão verbal, e eu a gozar com o individuo dizendo que militar como ele não era homem, e coisas do mesmo genero. Tendo entretanto surgido um elemento mais graduado, que o fez bater-lhe a pala, e lhe disse algo do estilo: "... quem não se sabe dar ao respeito nunca pode ser respeitado, suba já ao meu gabinete"
Nesse dia estava com uma furia tão grande em relação aquele pseudo "filho de Puta" que se ele tem avançado para a rua tinha sido uma tarde em grande, pois não sei o que poderia ter acontecido, eu reconheço que estava cego de odio perante aquele fardado.
E assim foi a minha longa experiencia da vida militar, costumo gozar com o pessoal amigo, e quando me perguntam em que Regimento estive a cumprir o Serviço Militar Obrigatório (SMO), respondo que foi no: "R.I.A.V., Regimento de Infantaria de Alhos Vedros, que tem lá umas pistas de lama terriveis"
Todo o mundo sabe em Portugal, que não existe nenhum Quartel Militar em Alhos Vedros, e na nobre Vila do Concelho da Moita, não existem pistas de lama mas antigas salinas agora abandonadas, junto do rio e do pequeno porto.

A minha relação com os militares passou ainda, entre outras, por uma situação deverás caricata que foi, a de assumir pessoalmente testemunhar. afirmando que um colega meu da equipa de Xadrez do Sporting era objector de consciencia, apenas e só para ele se esquivar de cumprir o serviço militar obrigatório, e continuar os estudos universitários. Hoje o meu bom amigo Carlos Camelo, esta formado, tanto quanto sei bem formado, tanto como pessoa como profissionalmente, e o crime de prejurio já prescreveu à muitos anos, e mesmo assim eu assumo já ter cometido piores crimes e nunca ter sido condenado por isso. Por outro lado os "caturras" não perderam nada em o ter lá, pois era "bacana" mas por vez um pouco chato de tão prefeccionista que queria ser tanto no Xadrez como na vida.
Já me esquecia de dizer, que o Carlos Camelo tinha um sentido de humor terrivel, e comigo só o perdeu no dia em que perdeu a aposta de que conseguia ir ao cinema com a jogadora de xadrez do Benfica, Maria do Ceu Nunes. Uma miuda pequenina, inteligente e muito bonita, que por incrivel veio a ser Campeã Nacional de Xadrez Feminino, provando que a inteligencia nada tem que vêr com a altura ou outras caracteristicas.
A preposito o filme que fomos vêr acho que foi uma comedia sobre Frankeinstain, e o cinema foi o velho S. Jorge, ali na Avenida da Liberdade. Acabamos por lanchar nos Restauradores, e foi tudo tirando uns quantos beijos inofensivos e uns quantos telefonemas e outros tantos 2 ou 3 lanches.
Era uma boa companhia, só que nessa altura já eu tinha 3 namoradas, ao mesmo tempo, uma no Barreiro também de nome Maria do Ceu, mas com o acrecento Lagarto Dias, uma na Moita e outra no Feijó, perto de Almada, esta arranjada nas ferias no Algarve. Era uma loira de fazer parar o transito, mas ciumenta do tamanho do mundo, portanto eu e a Maria do Ceu Nunes, ficámos mesmo só amigos, e o Carlos Camelo teve que pagar um bom lanche para os amigos todos da equipa de Juniores de Xadrez do Sporting.
Quem também gostava muito de fardas nessa época era o meu amigo António Frois, agora profissional de xadrez, e que gostava muito da Maria do Ceu, um dia alguém me confidenciou que teriam casado, não o posso confirmar porque nunca mais encontrei estes meus amigos, mas se assim foi parabens a ambos.
Para todos os efeitos o Carlos nunca em toda a sua vida tinha gostado de armas, de violencia, até era religioso, muito crente, numa dessas religiões novas para a época, que acabei por sugerir dever ser nos Jeovás, e mais umas quantas coisas que eu afirmei ter visto e ter pleno conhecimento.
Obviamente que não fui só eu a testemunhar, mas todos combinámos muito bem durante um lanche ali na Avenida de Berna, o que iriamos declarar. Tudo correu a 100%, até porque, que me perdoem os militares, e até os tenho na minha familia, mas na realidade a maioria dos militares eu os considero un tanto ou quanto "lerdos das ideias".
Quanto ás opções ficcionadas do Carlos, eu interiorizei, para mim, antes da entrevista, que ele era mesmo objector de consciencia, porque eu achava que ele era da Religião Jeová, e assim ficou resolvida a questão.
Posteriormente até brincavamos com ele, e o Responsável pela Secção de Xadrez do Sporting o saudoso, Virgilio Ilharco até lhe chamava carinhosamente Jeová.
Questiono quantos, e quantos jovens, não tiveram de usar do mesmo artificio, sendo Jeovás ou Ateus tal como eu, ou de outra Religião qualquer, para não verem as suas carreiras profissionais cortadas ainda antes de se iniciarem. E quantos, e quantos, obviamente a maioria por certo, tiveram de seguir outro rumo nas suas vidas porque foram obrigados a ajudar a perder tempo a aturar uns quantos militaristas que nada mais sabem fazer na vida, e entretanto graças ao tempo passado (perdido) no Serviço Militar Obrigatório perderam oportunidades que se lhes estavam a abrir na vida civil.
Felizmente, que anos mais tarde, na politica activa, pude dar o meu contributo real e efectivo tanto para solucionar problemas pessoais de alguns militares, nomeadamente da Força Aerea, e para se abolir o SMO em Portugal.
Foi uma luta de muitos anos, mas justiça lhes seja feita, que Carlos Miguel Coelho, então lider da JSD, lutou sempre por esse objectivo, e com um PSD que nada tem que vêr com o Partido Social Democrata de hoje em dia, levaram politicamente a que o Prof. Cavaco Silva, o Engº Couto dos Santos e o Dr. Fernando Nogueira, conseguissem deixar o caminho totalmente aberto, e hoje a realidade é bem diferente.
Hoje o SMO esta profissionalizado, o que permite uma liberdade de escolha aos jovens que não existia nos meus tempos de infância e juventude, e consequentemente a abertura de novas oportunidades profissionais e sociais e um crecimento do País e das suas novas gerações com resultados bem diferentes.
Foi uma das lutas que pessoalmente ajudei a travar enquanto dirigente da JSD e do PSD, e de que me orgulho de termos saido vencedores. Não saimos vencedores os politicos da época mas sim os jovens daquelas gerações e de todas as outras que se vão seguindo.
Nessa época as Juventudes Partidárias lutavam por ideais, por objectivos concretos para a juventude, e tinham os jovens atrás de si, dispostos a essa luta. Hoje as Juventudes Partidárias não tem ideais ou objectivos concretos para a juventude, tirando a velha e gasta problematica questão das propinas e pouco mais. Lutam por lugares, por "tachos", por posições individualistas, no fundo formam hoje profissionais da politica, que mais nada sabem fazer da vida.
Mesmo assim provam que não conseguem formar nem convencer de forma consistente, pois a JSD naquela época chegou a ter 19 Deputados no Grupo Parlamentar da Assembleia da Republica Portuguesa.
Quantos Deputados tem hoje a JSD na Assembleia da Repuiblica?
Por isso se pode analisar percentualmente o numero de jovens que nesta época eram filiados nas diversas Juventudes Partidárias e nos Partidos Politicos e a % que hoje se pode encontrar, e concluir simplesmente que os jovens pura e simplesmente fugiram da politica e dos politicos!
Entendo hoje a repulsa dos jovens antes da revolução dos cravos, em servir o SMO, ainda agravada com a obrigatoriedade à época de uma ida forçada para a guerra colonial, sem saberem se regressariam, nem como regressariam, para além de uma vida destruida e desestruturada logo no seu inicio.
Estou consciente de que caso as condições fossem essas na minha época de admissão à vida militar, não teria tido qualquer duvida, e optaria por uma saida do País, como refractário, como tantos e tantos o fizeram, porque também ai as escolhas pendiam para o lado dos mais fracos, e os filhos dos Senhores Ministros e Politicos não serviam a vida militar como todos os outros o fizeram.
Perguntem por exemplo ao senhor Professor Marcelo Rebelo de Sousa, onde cumpriu o SMO, ou ao filho do Senhor Professor Marcelo Caetano, ou aos filhos dos Governadores, dos Generais, ou de outros altos dignatários da Nação à época, incluindo todos os filhos de outros militares de alta patente.
As respostas vão ser invariavelmente as mesmas; ou tinham pé boto, também chamado de "chato", ou não fizeram a vida militar, ou estiveram bem recostados num gabinete com ar condicionado nalguma das capitais das antigas colonias, a comer uns camarões nas esplanadas e a beber umas "cucas" fresquinhas, ou na Metropole, como se chamava Portugal, no chamado bem-bom, que eram o Hospital Militar ou o Hospital da Marinha.
E hoje, alguns, não muitos, porque os outros, a maioria, tem vergonha, até aparecem na televisão, qual "Frei Tomás" ou "Santo António" tentando pregar aos "peixes" lições de dignidade e moralidade"!
Mais uma lição de vida do meu pai, que me esclareceu de tudo isto, e que me dizia "fardas são para os Almeidas de Lisboa, para não se sujarem com a "merda" do lixo dos outros", e tinha toda a razão o velho Antunes da Silva!

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