terça-feira, 26 de junho de 2007

XIX - A GERAÇÃO DA REVOLUÇÃO E DA LIAMBA

Após o 25 de Abril de 1974, o País sofreu profundas alterações estruturais nas suas componentes Políticas, Sociais e Econômicas.

Os Portugueses que até ai viviam de um modo acomodado, aproveitaram a Revolução dos Cravos para darem largas à sua, em alguns casos, abusada liberdade, e de uma forma descontrolada procederam a excessos vários como foram as ocupações “selagens” de propriedades rurais, fábricas, instituições bancarias, órgãos de comunicação social e praticamente tudo quanto no entendimento dos “cabecilhas” dos movimentos revolucionários, poderia dar algum lucro directo e ao mesmo tempo a uma nova classe política em formação e que necessitava de status social para se afirmar na sociedade e por outro uma nova classe; os chamados novos ricos.

Nessa época dourada ou se era fascista, ou anti-fascista e portanto assumia-se como democrata todo aquele que batia forte no peito e gritava “eu nunca fui do antigo regime”. Era o antes e o depois de 24 de Abril de 1974, mas o mais estranho era que quase ninguém assumia ter sido apoiante do regime deposto, tendo surgido assim milhares de democratas, anti-fascistas, de aviário, auto-fabricadas da noite para o dia, e que surgia de tudo quanto era canto.

Eu questionava-me como era possível ainda à poucos dias se ter realizado uma enorme manifestação que tinha enchido por completo o Terreiro do Paço, em Lisboa, de alegados seguidores da Acção Nacional Popular de Marcelo Caetano, e agora só ver por todo o lado gritaria contra a reacção, os fascistas, os do antigamente, os da outra senhora, e não encontrar os antigos apoiantes, por outro lado falavam muito de democracia e liberdade mas não salvaguardavam os direitos, liberdades mas não salvaguardavam os direitos, liberdades e garantias dos que pensavam diferente, e bastava por exemplo ter sido artista consagrado e não saber cantar direitinho a “Grandola Vila Morena”, para ser banido e perseguido nesta nova sociedade.

A minha memória recorda nomes que pura e simplesmente de um dia para o outro caíram da fama para o esquecimento, como por exemplo Artur Garcia, António calvário, Amália Rodrigues, Artur Agostinho, Herminia Silva, Rui de Mascarenhas, Henrique Mendes, e tantos outros.

Novas estrelas surgiram no firmamento a reboque da revolução e embarcaram no comboio, de um modo oportunista, para por um lado se governarem e por outro para tentarem lavar algumas magoas do passado.

Esta metamorfose pessoal criou algumas situações ridículas e que se podem considerar, algumas delas, como verdadeiras anedotas, como por exemplo o Professor Silva, do lavradio, que até ao dia 24 de Abril de 1974, era um apoiante doentio e incondicional da A.N.P., e depois virou grande democrata, e muito embora ainda tenha tido direito a algumas honrarias em alguns murais, com ameaças e divulgação publicitária das suas imensas qualidades de “lambe-botas”, viu a sua condição de vira-casacas aprovada e virou militante e activista do Partido Socialista do Concelho do Barreiro, portanto um alegado e ferveroso democrata, adaptando-se perfeitamente ao novo regime.

Dos muitos exemplos que tivemos oportunidade de constatar naquela época épica, não posso deixar de recordar o dono de uma celebre retrosaria na Avenida Joaquim José Fernandes, no Lavradio, situada em frente a uma padaria e na esquina cruzada com a Taberna do “Matateu” cujo domo era abertamente apontado como “Legionário” e ex-informador da Policia Política P.I.D.E./D.G.S., para além do seu filho ser membro e activista da Mocidade Portuguesa. Logo após a Revolução transformou-se num democrata dos sete costados, militante e activista do Partido Comunista Português. Por incrível hoje o filho é o Presidente da Junta de Freguesia do Lavradio, eleito nas listas da C.D.U.

Muitos dos actuais alegados grandes democratas viajaram directamente das escolas da Mocidade Portuguesa, e se bem que não exista nada contra esse facto, pois como estes exemplos existem muitos outros, que nos dias de hoje, passados mais de 30 anos, já quase entraram no rol dos esquecimentos de muitos cidadãos que viveram essa época, por outro lado questiona-se o porque de os oportunistas terem tido direito aos salamaleques e os que foram frontais e verdadeiros hoje vivem nas catacumbas obscuras do ostracismo.

Saber perdoar é realmente uma grande virtude dos homens, ou de alguns homens, mas esquecer não deve ser uma regra para ser seguida, pois quem um dia ajudou a lançar nas masmorras do regime, homens e melhores, só pelo simples facto de pensarem diferente, nunca pode ser alguém confiável, passem os anos que possam vir a passar sobre os acontecimentos.

Quem ontem equipa de azul não pode hoje equipar de verde e vir dizer que era “Sportinguista” desde pequenino.

Eu pessoalmente sei perdoar, algumas vezes na vida, mas nunca mais esqueço!

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O regresso dos militares que estavam colocados nas ex-colonias, trouxe entre outros factos, uma nova realidade em termos de coleccionismo, pois decidiram coleccionar artefactos de guerra, como balas, granadas e outros objectos bélicos, quantas vezes ainda operacionais, e muitas vezes com resultados finais muito trágicos.

Uma manhã, enquanto as donas de casa preparavam o almoço, e os jovens brincavam aguardando a hora da refeição, uma enorme explosão, verificada a menos de 100 metros da minha casa, quebrou a tranqüilidade de toda a zona, e fez trepidar tudo no interior da casa, com os vidros das janelas a parecer que não agüentavam uma espécie de lufada de ar forte que varreu tudo na sua passagem.

O impacto foi tão grande que desfez por completo o corpo do jovem que brincava com uma granada trazida pelo seu tio, ex-militar. Para além de um cheiro intenso a carne queimada, tipo agridoce, podia ver-se bocados do corpo do jovem colados em todos os edifícios próximos ao local da explosão, o que obrigou os Bombeiros a terem uma intervenção de limpeza à base de jactos de água forte, e mesmo assim muitos anos passados sobre o acontecimento ainda se podiam ver vestígios nos diversos prédios adjacentes.

O Tio do jovem tinha resolvido trazer algumas recordações bélicas, da sua passagem pela guerra colonial, e como não as guardou devidamente o resultado foi aquele trágico acontecimento que ensombrou a Rua Grão Vasco, próximo dos números 26 a 32, e que durante muito tempo nos afastou de brincadeiras no local, sempre com receio de que mais alguma explosão fosse acontecer.

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Para alem das muitas mudanças de mentalidade verificadas imediatamente ao acto revolucionário, uma transformação muito maior da sociedade estava em marcha, e com resultados a eternizarem-se no tempo até aos dias de hoje.

Com a contribuição directa da esquerda, nomeadamente do Partido Comunista Português, vincadamente correia de transmissão dos idéias pró-Sovieticos da época, e a conivência do Partido Socialista, as colonias ultramarinas entraram numa tremenda ebolição pró-independentista, a que ninguém conseguiu colocar travão, ainda mais que logo surgiram palavras de ordem do tipo:

- “Nem mais um Soldado para as Colônias!”

- “Independência ou morte!”

e muitas outros refrões apoiantes da independência.

Com receio da imensa trapalhada que se iria gerar com a reorganização das Colônias, uma vez que nem para organizar o País Continental existiam adequadas condições, algumas figuras como Mário Soares e Almeida Santos do Partido Socialista, resolveram entregar as províncias ultramarinas, como que a “pataco” sem salvaguardarem qualquer interesse econômico ou social tanto para Portugal como para os português que tinham as suas vidas ali organizadas.

Esta tomada de posição verdadeiramente “irresponsável” transformou as Ex-Colonias Portuguesas em verdadeiros satélites dos Soviéticos que ai injectaram armamento e ideologia, com os resultados trágicos de todos conhecidos.

Para Portugal Continental ficou reservada a parte de leão de acolher dezenas de milhares de portugueses espoliados e escorraçados das antigas colônias, quantos deles nascidos já em solo de angola, Moçambique, Guiné ou cabo Verde, S. Príncipe, e que assim eram banidos da sua terra e recambiados para Portugal, na sua maioria com uma mão á frente e outra atrás, deixando para o passado das suas vidas uma memória de realizações e muitos sonhos não concretizados, com uma vida perfeitamente alterada e destruída de um dia para o outro.

O Portugal de 74 não tinha estruturas nem condições políticas, Sociais, Geográficas e Econômicas entre outras para conseguir com o mínimo de condições absorver todos aqueles milhares de Portugueses, a quem pomposamente desde logo batizaram de “retornados”, bem como ou muitos militares que passaram à disponibilidade.

Todo o país sofreu profundas transformações e o Barreiro não foi excepção, na recepção de muitas centenas de “novos” portugueses que vinham tentar adaptar-se ás condições do continente e por seu lado o próprio continente teve que se adaptar a esta nova realidade social e econômica.

Esta nova formula de vida que transformou Portugal de um dia para o outro num centro de acolhimento de desalojados que chegavam carregados de novas culturas e formas de vida, e obviamente como seria também de esperar, de muitos factores nefastos para a sociedade, nomeadamente e em especial, a tóxicodependencia, até então praticamente inexistente em Portugal e que num ápice explodiu em termos de qualidade e quantidade.

Da simples “Maconha - Liamba”, passaram para outras ervas, para o L.S.D. para os ácidos, foi a explosão de uma geração para uma nova realidade em principio popularmente aplicada em termos culturais, mas que por detrás escondia os muitos jovens que fumavam Maconha - Liamba, tomavam os comprimidos de ácidos variados, etc, e a escalada foi rápida e silenciosa, com efeitos terríficos e incontabilizáveis em termos de perdas e custos reais para o País, até aos dias de hoje, pois esta escalada nunca mais teve fim.

De forma alguma se pode acusar os alegados “retornados” pelo facto de que Portugal é um País tão igual a todos os outros em termos de toxicodependencia, pode-se isso sim ter a certeza de que apenas diminuíram o tempo de surgimento e concretização desse processo de uma forma determinante.

Aquela geração, saída daqueles históricos acontecimentos, pode bem apelidar-se sem ofende ninguém, de “Geração da Liamba e dos Ácidos!”

Dos mesmos problemas padeceram quase todos as nações do mundo, e os exemplos são mais do que muitos, e quase todos com um vector coincidente – ocupações militares e posterior retorno – como são exemplos a França com a sua participação militar na Coréia e em outros paises da zona asiática e em alguns paises de África, que com o posterior fim dos conflitos transportou para o continente europeu, através dos regressados imigrantes e desalojados todos os problemas de integração e de toxicodepe4ndencia, construindo uma sociedade multirracial, que muito recentemente deu um ara da sua graça com os conflitos em redor das grandes cidades, em especial com filhos dessa geração, e que neste momento são já descendentes de segundas e terceiras gerações de imigrantes.

Os Estados Unidos que conseguem participar em quase todos os conflitos mundiais, desde a 2ª Guerra Mundial, tiveram nessa época entre outras situações o Vietname, como porta de entrada dos diversos problemas sociais que se verificaram em seguida.

A Espanha com as suas situações em África, em especial em Marrocos e no Saara tiveram o mesmo impacto interno, muito embora a sua chegada à Democracia pós-franquismo seja em termos temporais posterior ao período pós-Salazar/Caetano Português.

A Inglaterra que também coloca militares em várias zonas do globo à longas dezenas de anos, onde a toxicodependencia era já algo quase normal, acabaria por não conseguir evitar a entrada dessa nova alegada cultura na sua quase inexpugnável ilha, a que nem Hitler conseguiu tirar a independência, e hoje é uma nação pejada de problemas desse tipo, como todas as outras, e com uma sociedade multirracial das mais diversificadas do mundo.

No velho continente muitos outros exemplos existem como a Bélgica, a Itália a Holanda a Alemanha, e a pouco e pouco toda a realidade até ai existente se foi alterando gradualmente até chegar-mos aos dias de hoje.

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No caso concreto do Barreiro, na segunda parte dos anos 70 as escolas tornaram-se um alvo apetecível para espalhar uma cultura de alegada modernidade, que vinha acompanhada de novos ritmos musicas, novas modas de vestuário, uma auto-colonização a nível da linguagem, a que a memória desses tempos não mata expressões como: Maningue, Bue, Fixe, Bunda, Frique, Ok; e uma abertura a novas realidades de convívio social com a importância da “curtição” como pólo determinante da sociabilização entre os jovens, quem não se adaptava a estas novas regras de convivência e conduta adotadas pela maioria era logo designado como “careta!”

Nesta época tornou-se perfeitamente normal, “curtir”, ou seja namoriscar com várias garotas ao mesmo tempo, e em especial as mais atualizadas/modernizadas, já iniciavam a utilização dos meios anti-conceptivos para não existirem novidades, por outro lado alteraram-se profundamente os hábitos de decisão e muitas vezes as jovens decidiam por sua livre iniciativa levar um relacionamento afetivo mais além em termos de liberdades, consumando o acto com quem elas decidiam ser o “macho” mais adequado para esse importante passo nas suas vidas, e quantas vezes nós os potenciais “Machos Latinos” ficávamos como que encavacados com alguns convites mais ousados, que a nossa mentalidade da época mandava ter prudência para evitar novidades indesejáveis de formação de famílias de um modo precoce.

Recordo até hoje uma colega de escola, que na melhor oportunidade me convidou para uma ida a sua casa para uma tarde de estudo, que redundou numa tarde de estudos anatômicos e que culminou com a grande satisfação da sua vida, ou seja ter-se tornado mulher comigo.

Eu não escondo que fiquei com o ego de “macho” elevado, mas por outro lado fiquei deveras constrangido, assustado mesmo, com o ocorrido, e ela maravilhada, diria mesmo extasiada como tudo tida decorrido, na verdade eu nessa época já tinha tido aquelas maravilhosas lições da Espanhola, e portanto achava-me o homem mais experiente e conhecedor dos segredos de alcova do mundo. Ela não se conteve e contou para algumas amigas, tendo como resultado imediato um grande assedio por parte de outra sua colega que, ao seu contacto para esse fim, eu recusei, por manifesto medo dos resultados posteriores.

Anos mais tarde aconteceu um envolvimento pessoal com essa pessoa, e ela acabou por confessar que tinha ficado curiosa e frustrada, e só o facto de agora poder concretizar esse seu sonho a podia de alguma forma compensar daqueles dias de tristeza passados nos anos 70, quando freqüentávamos a Escola de santo André na Quinta da Lomba.

Fiquei pasmo com toda aquela situação e ao mesmo tempo certo de que naquela década de 70 as meninas/mulheres eram já bem mais adultas e decididas do que nós no aspecto intimo e pessoal, não sei se seria da influência da “Febre de Sábado de Manhã” do Julio Isidro, de uns anos depois ou da “Febre de Sábado à Noite” do Travolta e da Olívia, que naquela época eram os ícones de ideal aliados á brilhantina as calças de ganga com remendos nos joelhos e boca de sino, e os blusões de cabedal que marcavam a fronteira entre o jovem in que estava atualizado e o boy careta sub-urbano para quem as jovens futuristas nem ousavam olhar, mesmo que fosse o maior “macho latino” do escola ou do bairro.

Eram os tempos do grande inicio da sociedade de consumo das marcas e dos estigmas pelos nomes, modelos de vida e aparências...

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Com a chegada dos jovens das ex-colonias chegaram também ás escolas os novos hábitos do tabaco e da bebida com fartura.

Na bebida misturavam-se refrigerantes para atenuar as largas quantidades de álcool, especialmente encontradas no vodka que se diluía em sumo de laranja em quantidades generosas, de acordo com os resultados a obter, desde que fosse ingerido com fartura.

No tabaco misturavam a “maconha” de um modo que só mesmo o cheiro intenso e de alguma forma adocicado deixava transparecer a preparação para uma passa, que corria de mão em mão dos apreciadores.

Todos os dias víamos colegas de escola ou amigos iniciarem-se no consumo de drogas, e muitas das vezes de um modo descontrolado, dizendo sempre que era bom e que os fazia sentirem-se bem, na maior, “bue da fixes”, com visões boas e no seu entendimento com uma capacidade de raciocínio tremenda, que obviamente não se traduzia por notas por ai além, bem pelo contrario, pois este consumo invariavelmente conduzia em seguida ao absentismo escolar para dar tempo para consumir, consumir cada vez mais em novas categorias de transfiguração das realidades do dia-a-dia.

Um dia, na festa de aniversário do nosso amigo José António, fui conjuntamente com outros amigos, aliciado a provar umas passas de uma substancia que afirmavam era uma verdadeira bomba para nos colocar a ver luzes e outros fenômenos fora do comum acesso de qualquer mortal.

Recordo que após algumas passas, a maioria dos nossos amigos ficaram bem mais contentes e descontraídos, eu diria agitados e soltos, mas tanto eu como o meu amigo Joaquim Núncio, não sentimos qualquer efeito fora do comum, talvez porque na época não tinha-mos o vicio do tabaco, atletas que éramos, ele no futebol e eu no atletismo. Só anos mais tarde, no caso concreto dele na vida militar adquiriu o vicio de fumar, e eu com os jantares e almoços políticos, o meu gosto por uma boa cigarrilha ou um puro, mas felizmente muito de longe em longe.

Comentamos mais tarde a situação, e pensamos que a razão fosse por uma questão de não absorção total do fumo por razões psicológicas, que nos pudessem levar a uma melhor apreciação do produto oferecido, como a oitava maravilha do mundo dos tóxicos e entorpecentes.

Até hoje, por toda a minha vida, nunca mais voltei a testar qualquer substancia que possa causar efeitos secundários do tipo que os nossos colegas e amigos apontavam como obtidos com aquelas substancias por eles consumidas, excepto claro uma boa cerja ou outra bebida do meu agrado, e nem sequer a tão propagandeada pílula magnífica para melhorar a erecção ainda tomei, pois felizmente não tenho necessidade desses artefatos para manter as minhas plenas capacidades e ser e fazer feliz a companhia de ocasião nos diversos aspectos da questão.

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A minha mãe nessa época já tomava medicação diária para o controle da circulação do sangue no organismo de uma forma fluida, problemas de varizes que praticamente sempre a acompanharam desde que eu me lembro, e também para quadros de prevenção de possíveis problemas neurológicos decorrentes da sua propensão para Acidentes Vasculares Cerebrais, o que realmente viria a acontecer anos mais tarde.

Durante uma visita a minha casa, para uma tarde de estudo com outros colegas de turma, o Nelson Lopes, anos mais tarde baptisado de “Fome”, por uma incrível historia sobre o roubo de salsichas num acampamento na Costa da Caparica, descobriu que um dos medicamentos tomados pela minha mãe continha componentes que lhe eram particularmente familiares, relativamente ao seu especial gosto pelo consumo dos chamados “ácidos”, em, especial no decorrer de restas de fim-de-semana.

Posteriormente, fartou-se de me aliciar para eu lhe conseguir arranjar uma caixa desse medicamento, pois não os conseguia adquirir na farmácia sem receituário médico, e obviamente comprados na “candonga” eram bastante mais caros e ainda existia o perigo de alguma detenção policial por compra e uso daquele tipo de “droga”

Como era um individuo que tinha nessa época a mania de que era mais esperto do que todo o mundo, e para quem todo o cidadão vindo de Angola, tal como ele, era um gênio ao cimo da terra, eu resolvi apostar na resolução do assunto de uma forma positiva para os dois lados, ou seja não lhe causar problemas de saúde, e vender-lhe o produto certo para não colocar em risco a sua vida, e ao mesmo tempo retirar algum lucro para mim, para além de servir para dar umas boas risadas.

Decidi efectuar um bom negocio e dessa forma aproveitei uma caixa plástica já vazia do medicamento utilizado pela minha mãe, comprei um bom stok de aspirinas, e vendi ao Nelson uma caixa completa do suposto produto, pelo preço de compra do mesmo, que amigo lhe faria isto, vender o medicamento ao preço de compra...

Realmente esse negocio até deu uma boa nota de retorno para mim, pois a diferença de preço entre os medicamentos era bastante grande, ainda mais que o medicamento nem era na altura subsidiado pelo Estado.

Sei que o Nelson depois de ter pago na integra, no acto de entrega da caixa do medicamento, resolveu andar a vender o mesmo à unidade, comprimido a comprimido, ganhando assim ainda uma boa margem de lucro para si, o que me leva a crer que não tenha de forma alguma ficado prejudicado financeiramente com o negocio. No entanto nunca mais voltou a solicitar-me qualquer outra encomenda do referido medicamento.

Algum tempo mais tarde comentou comigo que tinha recebido muitas reclamações sobre o medicamento, que por certo por ser da Bayer, Laboratório diferente do original, ou por de alguma forma poder estar fora de prazo, não tinha produzido os grande efeitos normalmente obtidos.

Foi a primeira e ultima vez na minha vida que consegui dar em fornecedor de “droga”, embora obviamente por uma boa causa, pois forneci um medicamento analgésico, o tão conhecido paracetamol...

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Um largo grupo de amigos da minha geração derrapou nesta “nefasta” nova realidade sócio-cultural, e se alguns conseguiram de alguma forma acautelar o seu futuro e jogar com a realidade, outros infelizmente entraram nesse túnel escuro e úmido de onde nunca mais conseguiram sair, continuando a viver muitos deles dentro desse pesadelo como é o caso entre outros do Manelito, hoje um autentico farrapo humano, que vive “vegeta” de esmolas e da arrumação de carros de compras em grandes superfícies comerciais na zona do Barreiro.

A sua situação pessoal é lamentável, e chega ao ponto de muitas vezes, debaixo da constante ressaca, não conseguir sequer distinguir os próprios amigos de infância.

Outros companheiros de juventude, conseguiram gozar a vida à sua maneira e manter posteriormente uma distancia considerável desse sub-mundo, com uma postura correcta e normal perante a sociedade, tendo vivido esse período pós vivencia atribulada de um modo normalíssimo, como é o caso do José António do Nelson Lopes, e também tanto quanto sei; do Victor, que chegou a estar num ponto tal de desprezo por si próprio e pela sua vida que o levava a ficar caído em valetas na via publica, de onde não poucas vezes o resgatamos para o colocar de volta a casa dos seus pais onde habitava, como numa celebre noite de chuva torrencial em que eu e o Joaquim Núncio, o fomos entregar à porta à sua mãe, ensopado até aos ossos e sem dar acordo de si.

Felizmente que a maioria dos nossos amigos, nem sequer chegou a entrar por esses caminhos, da descoberta das luzes brilhantes e vindas do além diretamente para a imaginação de cada um, dos fumos que davam “Bue de pica”, das passas que deixavam entorpecidos os músculos e os sentimentos, e os únicos vícios que realmente nos levaram a andar muitos dias e noites nas “borgas” foram a loucura pelo futebol, pelas garotas, e por uns bons petiscos acompanhados por umas boas canecas de cerveja bem fresca.

Nenhum de nós pode olvidar que de qualquer forma pertencemos a esta geração construída debaixo dos efeitos da Revolução dos Cravos e da Liamba que chegou em quantidades industriais trazida da África Colonialista, e que tudo isto nos ajudou a formar e nos tornou nos homens quer hoje somos e que quando olhamos para trás realmente como que se nos torna o passado florescente aos nossos olhos, mas pelas melhores razões, de saudades de uma infância e juventude muito bem vivida, apesar de todas as condicionantes que circulavam em nosso redor.

sábado, 16 de junho de 2007

XVIII - LAVRADIO DA QUINTA DO FACHO AO URBANISMO PÓS-RURAL

A minha integração na nova vivencia, numa sociedade que estava vivenciada como local dormitório da grande capital, que se espraiava no outro lado do rio, e ao mesmo tempo como polo habitacional de apoio a grandes industrias, instaladas localmente, como a Cuf, a Ufa e mais tarde a Fisipe e a Edp, para além da próximidade geográfica com a Lisnave e a Setenave, faziam do Lavradio no inicio dos anos 70, uma apetecivel localidade extruturada para servir de apoio, criando as condições para que os seus habitantes fossem mobilizados a fixar-se no comercio local e nos meios disponiveis para a ocupação dos seus tempos livres.
Desta forma fui morar para um local de pequeno comercio e de bastantes clubes e associativismo, para além das muitas tabernas e ainda, nessa época, alguns espaços livres como a famosa Quinta do Facho, situada como terreno fronteira entre os Concelhos da Moita e do Barreiro, delimitado as localidades do lavradio e da Baixa da Banheira.
A casa dos meus pais ficava precisamente numa das fronteiras, com paisagem para o rio, para a Quinta do Facho e para a Baixa da Banheira, naquela época a Rua Gão Vasco era o importante limite da localidade, a ultima rua antes do descampado, que tinha um aspecto muito diferente do que qualquer pessoa possa hoje imaginar. Por exemplo junto da minha casa, no nº 17, ficava uma vereda que fazia a ligação para a Baixa da Banheira junto de um monte e de um campo de futebol improvisado dentro da propriedade do "Facho". mais tarde tudo foi terraplanado, e tornou-se numa imensa planicie onde foram crescendo predios e um parque que hoje rasga a paisagem até ao rio.
Era um local aprasivel, com bastante espaço livre, onde se podia jogar à bola e ao mesmo tempo praticar outras ocupações como concursos de assalto à fruta no pomar do "Facho", um velho bastante rabugento, dono da propriedade, ou seu caseiro, pois nunca conseguimos entender muito bem o seu papel, embora habita-se a casa grande junto ao tanque redondo, local que era assaltado por nós no verão para banhos, pois mais parecia uma piscina. Essas parodias acabavam sempre por imensas correrias, em fuga ás ameaças da mais terrivel personagem; o "Facho".
Também era utilizada a área util para concursos de tiro com espingarda de pressão de ar ou com dardos.
Duas a três gerações se cruzavam naqueles tempos, por um lado o Cesar, Pimenta, Mário Nuncio, Lisboa, Julio, Idalecio, Manelito, o irmão mais velho do Pedro Super e também o irnãao mais velho do Alfredo, e ainda o Jorge da Amélia e o seu irmão, e tantos outros que se torna dificil aqui inumerar todos, e por outro lado a chamada nossa geração, dividida em uns quantos anos de diferenças etárias, mas que não se faziam sentir por ai além, pois conviviamos todos por igual, com figuras como o Joaquim Nuncio, o Pedro Super, Luis Costa, Alfredo, Chico Aroles, Azevedo, Xicha, Cainan, Victor, José António, João Lagarto, Carlos Peleja, e mais tarde o Macedo e o Quim Avantajado, e tantos outros que a memoria já me consome os nomes.
Eram os tempos da liberdade controlada, mas que para nós não significavam qualquer limitação ás nossas acções.
Tinha-mos obviamente respeito à autoridade mas não deixava-mos de a desafiar sempre que tal era necessário.
Eram os tempos do fumar ás escondidas, nas traseiras da fabrica do sal, local para outras aventuras mais descaradas, como por exemplo as primeiras descobertas sexuais com algumas miudas incautas que por ali se aventuravam junto da rapaziada, e também foi local utilizado para alguns mais aventureiros se iniciarem em praticas homo, com um pobre dum Alentejano que veio passar umas férias a casa de um familiar e se viu envolvido naquelas brincadeiras, na sua maioria inventadas pelo Alfredo. Mas essas brincadeiras tinham fama e como não era a melhor imagem para os envolvidos, que logo se viam retratados e imediatamente as largaram pois verificaram que não era o mais proprio para um futuro homem, no entanto ainda recordo os concursos para verificar quem tinha o "instrumento pessoal" maior, que eram sempre interrompidas com as brincadeiras do já falecido César, que ameaçava fazer isto e aquilo.
Eram os gtempos das novidades que fizeram dessa época algo muito especial e importante na consolidação da nossa formação pessoal.
Eu cheguei ao Lavradio, já para morar na Rua Grão vasco nº 17 no 1º andar Dtº, num dia 24 de Dezembro de 1972, e desde logo para ir frequentar a 4ª classe do ensino primário, integrado numa turma/classe que tinha aulas no 1º andar da nova escola, que não distava muito da minha casa, pois ficava situada na rua paralela, ai a uns 100 metros de casa em linha recta, inclusivamente nessa época eu conseguia vêr a escola da minha casa.
Ainda recordo que a sala de aulas era no primeiro andar, do lado esquerdo quem olha de frente para a escola, e era a primeira sala.
Para minha grande surpresa no Lavradio ainda se utilizava o velho metedo da reguada e da cana da india, que eu vira em Cinfães do Douro, mas que já desaparecera na Castanheira do Ribatejo, e eu fui confrontado mais uma vez na minha vida, com a utilização dessa aberração educacional.
Avisei desde logo a Senhora Professora de que os metedos de ensino na minha casa eram bem diferentes e de que me recusava a esse tipo de tratamento fosse em que circunstancia fosse, e que inclusivamente existia ordem expressa do meu pai para não me deixar expor a esse tipo de tratamento.
Nesses saudosos tempos o responsável da Escla Nova do lavradio era o Professor Silva, figura que não faltava a uma manifestação, ou reunião da Acção Nacional Popular, (ANP) de Marcelo Caetano, o Partido do Regime, e que depois do 25 de Abril de 1974 se tornou um grande democrata de "aviário" como militante e activista do Partido Socialista, partido onde ainda acho que milita.
No Lavradio essa situação não foi original, pois entre outros, por exemplo o pai do actual Presidente da Junta de Freguesia do Lavradio, antigo proprietário de uma loja de tecidos e linhas, situada junto da esquina fronteira ao "Matateu", de frente para uma velha padaria, era um conhecido agente da PIDE/DGS e depois virou militante activista do Partido Comunista Português.
As boas recordações da Escola do Lavradio foram o pouco tempo que a frequentei, e alguns amigos que por ali fiz, e ainda as aventuras e desventuras do Pombo, que naquela época tinha práticamente o dobro da idade de cada um de nós, mas atendendo à sua "grande inteligencia" continuava a não conseguir passar da 4ª Classe, nem mesmo sei se algum dia a conseguiu completar.
Também recordo as brincadeiras do Alfredo que constituia o terror do Azevedo, por nós chamado de "Azedo", e que termia só de escutar o nome do Alfredo, e de quem a sua mãe nos fazi delirar de riso, ao deslocar-se à Escola para o acompanhar e fazer queixa ás professoras e aos continuos, dizendo sempre que tudo aquilo era por causa de inveja pois: "o meu menino é o mais bonito da rua!"
Tenho muitas outras boas recordações dos simples 2 meses que por ali passei, em especial do convivio com alguns colegas que ficaram amigos para toda a vida como o Charruadas, Morais, Alfredo, Louvadeus, Beto, e tantos outros.
A unica má recordação será para sempre a da "incompetente" professora que não tinha capacidade de tentar ensinar de outra forma que não fosse aos gritos e com o uso da regua e da cana da india.
Muito poucos dias após a minha chegada à classe, após as férias de natal de 1972, portanto em Janeiro de 1973, a professora resolveu tentar utilizar mais uma vez os seus metedos de ensino, e escolheu a minha pessoa para mais uma tentativa, e se com os outros era sempre bem sucedida com a cana da india, comigo a ocorrencia correu muito mal, pois perante a sua tentativa de me acertar eu segurei na cana, puxei-a, e ela partiu-se, depois foi uma gritaria de fazer parar qualquer multidão, pois ela queria que eu larga-se o que restara do objecto, o que recusei, abandonando a sala de aula. No dia seguinte a minha mãe deslocou-se à escola para saber o que se estava a passar, pois eu alegava que ali não estudava mais. falou com o Professor Silva, que fazia as vezes de Director, e depois com a alegada Professora a qual informou que cada professor tinha os seus metedos de ensino. A minha mãe informou que respeitrava isso mas que lamentava que os seus metedos fossem muito diferentes e que tanto ela como o seu marido não admitiam esse tipo de sistema pedagogico em cima do seu filho. Ela mais uma vez manteve o seu ponto de vista, e que trataria os alunos como muito bem entendesse, ao que a minha mãe lhe esclareceu que caso fosse repetida a actuação do tipo cana da india, o seu marido teria que se deslocar para tratar do assunto á sua maneira o que ela sabia ir ser muito incomodo para todos.
Em casa, obviamente, o meu pai manteve a sua posição habitual sobre o assunto, e disse-me que se eu não conseguisse resolver a situação, ele se deslocaria para a resolver pessoalmente. Foi ai que eu me preparei para a "festa", pois fiquei com a certeza de que teria de utilizar os meus argumentos para resolver a situação, caso a mesma fosse conduzida para aqueles caminhos da violencia pseudo-pedagogica...
E quando na 2ª feira seguinteregressei ás aulas, fui alvo de uma calorosa recepção por parte da Professora que perante toda a turma/classe me acusou de queixinhas e outros adjectivos que eu escutei com o meu habitual modo de estar perante esse tipo de situações, ou seja olhando-a nos olhos, o que ainda a infureceu mais.
No dia seguinte resolveu efectuar mais uma das suas habituais distribuições de reguada, para o que fui convocado. Quando chegou a minha vez de me deslocar à sua secretária, para receber as 5 reguadas com que ela dizia eu ter sido presenteado; ao contrário do que ela esperava eu não me movi do meu lugar, e então ficou um silencio de chumbo na sala, e ela continuava a insistir para que eu me desloca-se à sua secretária, então eu com a maior das calmas do mundo e perante os olhares de toda a turma e dela própria, arrumei a mkinha sacola colocando lá dentro todas as minhas coisas, inclusivamento alguns objectos que ficavam permanentemente na escola, e preparei-me para abandonar a sala.
A professora continuava a insistir e a paginas tantas resolveu entrar pela via do insulto e ofença pessoal; alegando perante a turma/classe que eu era insubordinado, que lhe estava a criar problemas no tipo de ensino que queria ministrar a toda a classe, que lhe estava acriar problemas pessoais e que tinha um pensamento atrasado do tipo de um "porco"!
Ai eu não resisti!
Até hoje eu posso suportar qualquer ofença, agora a palavra "porco" faz-me perder as estribeiras, não sei porque isso acontece, mas sempre foi assim!
Retirei o tinteiro que nessa época se encontrava encaixado nas secretárias de madeira, o mesmo encontrava-se cheio de tinta azul que era utilizada nos aparos, rápidamente fiz pontaria e zás lá foi o tinteiro pelos ares, acertei-lhe sobre a cabeça, ficou toda cheia de tinta azul, tanto ela como a parede e o quadro de apoio, bem como ficaram todas espirradas de tinta as fotos de Marcelo Caetano e Américo Tomaz, que embelezavm todas as salas de aula do país, e em quase todas as repaartições publicas.
Na sala ninguém se moveu, ninguém disse nada, mas depois todos desataram numa imensa risota, pois viram que ela tinha ficado cega com a tinta sobre o rosto e não conseguia vêr nada, e começava a gritar pedindo ajuda.
Eu sai da sala, mas não sem antes lhe dizer alto e bom som um bom grupo de nomes, muito utilizados na giria nortenha, por outro lado informei que a mim nunca maais ela daria qualquer aula, pois não tinha capacidade para isso, terminei mandando-a meter a regua na "cona"!
Foi uma bomba aquela minha actuação!
Sei que o meu pai se deslocou à Escola após eu ter feito o ponto daa situação de todo o ocorrido, e também sei que a senhora Professora não ficou muito bem situada com tudo quanto o meu pai lhe disse, pois sempre que depois dessa conversaa me encontrava, fugia de mim, e em relação ao meu pai realmente não se lhe pode negar a capacidade de improviso, pois numa ida ás comprs ao ex-Pão de Açucar, que ficava situado defronte do Pavilhão do Grupo Desportivo da então Cuf, agora Quimigal, ao avistar a senhora num dos corredores do espaço comercial, não perdeu tempo e disse-lhe alto e bom som: "O meu filho atirou-lhe com um tinteiro, agora eu gostava muito de lhe atirar com outra coisa e acertar-lhe no traseiro!"
Hoje, passados todos estes anos e analisando bem a fisionomia da senhora, posso concluir que por ser possuidora de um razoável traseiro, em brasileiro; bunda, as suas intensões não seriam da pior especie, mas apenas em encontrar algum gozo no local...
Devido a esse incidente, fui auto-proposto para exame da 4ª classe, e preparado pelo Professor Guerra e sua Esposa, que moravam na Estrada Nacional na Baixa da Banheira, sendo o meu processo de admissão a exame como aluno externo autorizado pelo Director Escolar da época Dr. Carlos Monteiro, tendo eu concluido a 4ª classe com a nota final de Muito Bom, como consta do meu diploma,que ainda guardo com muito orgulho, e que nessa época ainda era ornamentado com as cinco quinas e o jovem com a bandeira da Mocidade Portuguesa.
Não resisti à tentação e logo após me ter sido entregue o diploma, fui pessoalmente à escola do Lavradio, tendo tido a oportunidade de quase lhe esfregar com o diploma no rosto, tendo ela mudado de cor baastantes vezes e pedido ajuda para me retirarem de dentro da sala de aula, onde todos os alunos riam a bandeiras da sua cara e de tudo quanto lhe disse nesse dia.
Ainda hoje penso que ela ficou aterrorizada, pensando que eu seria louco ao ponto de ir à sua sala de aula e a agredir, o que obviamente não aconteceu, eu sempre preferi agredir as pessoas que merecem a minha agressão, com palavras, fica muito melhor e acaba por ferir muito mais!
Entretanto a Escola Preparatória Alvaro Velho, no Lavradio, estava à minha espera para iniciar o ensino Preparatório, e as férias eestavam à porta, serima as minhas primeiras férias grandes passadas no Lavradio, junto dos meus novos amigos.

Foi nessa época que descobri a minha apetencia natural para o atletismo, pois ao jogar à bola repaarei que corria bem mais rápido do que todos os outros na disputa de bolas lançadas, foi também ai que senti pela primeira vez que tinha potencial para goleador no futebol, mas para isso tinha que trabalhar como ponta de lanç, ou como se dizia nessa época, colocar-me lá na frente de ataque "à mama", ou seja à espera das bolas lançadas, o que não agradva muito à rapaziada que se fartava de trabalhar na recuperação de bolas e eu feito "calaceirão" a aguardar somente que me chegassem aos pés, para facturar.
Foram também as férias do inicio da minha viciante mania da leitura, e não consegui ter calma suficiente para não lêr imensas obras de Louis Stevenson e ao mesmo tempo Enid Bluton e a famosa colecção dos 7, para além de pela primeira vez ter tido contacto com Guerra e Paz e também com Dom Quixote de la Mancha, algumas das minhas obras preferidas até hoje, e também não me esqueço de ter ficado muito confuso com muitas das ocorrências históricas e relatos sobre um País estranho que tinha uma organização muito diferente do meu, no caso concreto de Guerra e Paz.
É também nestas férias que cultivo algumas das grandes amizades que ainda hoje me acompanham como por exemplo o Joaquim José serronha Nuncio, e outros, que parece ter sido ontem que tive o previlegio de os conhecer, mas afinal já passaram mais de 30 anos.
O tempo passa! Estou, estamos todos a ficar velhos...
Eram os tempos dos primeiros grandes jogos de matraquilhos, disputados ali no velho quintal, que já não existe, do Sporting Clube Lavradiense, e também na taberna que ficava ao lado e onde também jogavamos à Laranjinha, era um local optimo pois tanto um jogo como o outro davam para enganar o proprietário, ao meter-mos a mão no local da saida das bolas, conseguia-mos abrir a caixa, e sempre eram uns quantos jogos à borla.
Eram os tempos dos jogos de futebol disputados frente ao café do Luis com a bola a saltar para a relva da Fabrica do Sal, do Camarão, onde ninguém se atrevia a pisar para recuperar a bola, pois o porteiro era uma "fera". Noutras ocasiões os jogos eram disputados dentro da quinta do "Facho" ou junto dos Eucaliptos, onde o Luis Costa jogava sempre à baliza, para não se cansar muito, e para não suar, pois quase sempre aparecia o pai, o Sr. Costa com o lenço na mão para limpar o suor do Luis, e aameaçar que nãao o queria a jogar à bola pois estava (sempre) muito calor, fosse de verão ou de inverno.
Também se realizavam jogos de futebol durante o inicio da noite, no alcatrão da Rua Grão Vasco, onde era sempre necessário estar alguém de vigia para avisar quando vinha a policia, pois naqueles tempos era proibido jogar à bola na via publica, e ainda mais que os nossos grandes desafios não raras vezes eram alvo de chamadas de atenção dos moradores, contemplados com umas boladas nos estores de casa.
Também é de recordar as tropelias feitas na casa do Azevedo - "Azedo" - que como: "menino mais bonito da rua" ficava á janela do r/ch a vêr jogar e arranjava sempre maneira de obrigar a mãe a intervir para nos chamar à atenção, o que também originava no dia seguinte, mais um persiguição por parte do Alfredo, que era realmente, junto com o Pedro Super, os seus grandes amigos de estimação...
As idas ao Parque dos Pardalitos, que tinha sido inaugurado pelo próprio Presidente da República, Américo Tomaz, que nessa altura fazia lembrar o Alberto João jardim da actualidade, pois até para inaugurar, (ou seja cortar a fita), fontanários ele se deslocava. Era um parque onde o pessoal da zona alta do Lavradio não era muito bem recebido, pois os jovens daquela zona e da piscina eram os nossos grandes rivais, conjuntamente com o pessoal das "salinas", que moravam junto do Clube C.R.C.L.
Mas sobretudo era a época da grande rivalidade com os jovens da Baixa da banheira, com quem tinha-mos grandes batalhas de pedrada e de salvas de bolas dos restos do sal da Fabrica de Sal do Camarão, atiradas à fiscada e que pareciam bolas de pedra, com efeitos devastadores quando acertavam numa cabela ou num rosto.
Nesses tempos uma ida à Baixa da Banheira era algo verdadeiramente épico, e com riscos imensos e incalculáveis. Por exemplo para se poder ir ao cinema, tinha-mos que nos deslocar em grupo, pois caso contrário, estaria-mos sugeitos ao risco de uma tareia.
Recordo aindaa uma ida para uma aula na casa do Professor Guerra, em que fui ameaçado, e em que ficaram 3 "magarefes" à minha espera, na Estrada Nacional, defronte da casa do Professor onde me tinha deslocado para assistir a uma aula de preparação para o exame, precisamente no local onde hoje está instalada a sede da sucursal do Futebol Clube Barreirense.
Quando sai, vi que tinha o caminho barrado pelos cavalheiros, e que não poderia seguir directamente para casa, então como bom corredor; resolvi correr e entrar duas ruas mais abaixo e ir cortando caminho cruzando uma rua e outra, tentanto despistar os perseguidores. No entanto acabei por ir sair junto de umas garagens que estavam em construção, e uns quintais, e como continua-se a ser perseguido, resolvi dár a volta tentando despistar as criaturas, mas nada feito, e para piorar ainda mais a situação surgiu o Manelito, perseguido por outro cavalheiro, tendo acabado por ficar encurraalado junto de mim, foi então que eu decidi que se queriam guerra pois iam ter guerra, como ficámos situados junto de um monte de pedras para calcetar a calçada, à portuguesa, demos inicio a um verdadeiro bombardeamento, com tanta sorte que eu com a minha habitual pericia/pontaria parti a cabeça a um dos contendores, sendo desde logo colocado fim na batalha, pois os gritos eram imensos para que se fizesse um intervalo nas hostelidades.
aproveitámos o intervalo na guerra, e fugi-mos a sete pés até ao Lavradio, pensando que poderia ter morto o tipo, tal a quantidade de sangue que vi e ainda o facto de ter ficado postado no chão sem se mexer, e também os gritos lacinantes dos que o acompanhavam.
Dias depois, encontrei a vitima com um valente penso no couro cabeludo, de um dos lados da cabeça, e para minha sorte ficou com tanto receio de mim que fugiu a toda a velocidade, pelo que das duas uma; ou era tão valente que só atacava em grupo, ou ficou com receio de sofrer novo ataque...
Mas as batalhas eram constantes, como constantes eram os ataques à fruta do velho "Facho", e muitas vezes com resultados menos animadores, como por exemplo no dia em que o Mário Nuncio recebeu uma chumbada de sal numa perna e até hoje ainda conserva no seu corpo a marca dessa valentia.
Foram tempos de muitas memorias de saudade, as primeiras memorias que abriam caminho para uma juventude cheia de aventuras que nos aguardava, eram tempos em que a vida que nós consumiamos diariamente não estava contabilizada, e parecia que o nosso tempo nunca mais iria ter fim, e seria brincar, brincar para todo sempre, como se o tempo fosse engolido e não fosse possivel andar de um dia para o outro...

Mas a vida não era isso, e o Verão de 1973 acabou com um certo ár de que algo estaria para acontecer num País que vivia de manifestações de apoio a Caetano e a oposição,de uma forma inteligente, na Assembleia Nacional, por parte, entre outros de um tribuno fabuloso, que sabia muito bem o que queria para o "Portugal do Futuro" do livro que Spinola tinha escrito, era homem era Francisco Sá Carneiro, e os seus pensamentos e opiniões deixavam o meu pai como que incredulo com o possivel momento do País, em que tudo tinha mudado tanto, ao ponto de admitir tais posições de forma tão frontalç e publica, e ainda mais na Assembleia Nacional.
Eu, ainda um jovem, inconsciente politicamente, que vivia nas nuvens, e imaginava a liberdade como tudo quanto já tinha-mos nesses momento no país e estava a viver, não sabia o que estava reservado para conhecer poucos meses mais tarde, uma outra liberdade, e outra realidade do mesmo país, no mesmo Lavradio que eu agora só via com aqueles olhos.
A realidade do crescimento desordenado do Lavradio, do fim do meio tipo ainda meio-rural onde viviamos. O fim da lei e da ordem em que a autoridade mandava, no fundo o fim de um ciclo que para muitos durou 48 anos, mas que para mim muito pouco durou, e muito poucos efeitos negativos teve.
Com o inicio do ano escolar, na chamada Escola Preparatória Alvaro Velho, entendi que realmente alguma coisa não batia muito bem naquele País de 1973, e que algo tinha que mudar.
No Refeitório uma mesa corrida era posta diáriamente para os Professores, e os alunos não podiam começar a comer antes que eles fossem servidos, e nós tinha-mos de andar de tabuleiro na mão em busca dos componentes da refeição, enquanto eles eram servidos no local. Tinha que estar tudo no maximo silencio, até parecia uma igreja...
Existiam aulas de Moral e Religião e Educação Musical obrigatórias, o que desde logo me colocou como faltista eximio, era no geral uma organica verdadeiramente militarista a que eu não estava acostumado e a que não iria de forma alguma respeitar.

Em Março de 1974, estava já com uma situação de faltas injustificadas, em disciplinas que eram impossiveis para mim de aturar como Moral e Religião e Educação Musical, mais do que consumada para obeter um valente chumbo, ou seja uma "raposa". Nas outras disciplinas eu tinha médias razoáveis, mas como as faltas pesavam para a avaliação, decidi começar a praticar futebol todos os dias no horário escolar, conjuntamente com outro faltista eximio, o Victor.
Não passaram muitos dias que não fosse comunicado, por via de um postal, a minha situação, e fui colocado pelo meu pai em Lisboa, na sua loja, para acabar o ano lectivo, como que estagiário, como paga de tão bom trabalho lectivo...
A juntar a toda esta situação, ainda tive um acto de rebeldia com uma das criaturas que compunham o Conselho Directivo da Escola Alvaro Velho, que foi esbarrar em mim na sala de convivio, derrubou todas as peças de um tabuleiro de um jogo de damas, e se recusava a pedir desculpa ou sequer a apanhar as peças, e ainda queria que eu apanha-se as peças que ela tinha mandado para o chão e lhe pedisse desculpas.
Eu muito raramente assumo pedir desculpa a alguém, e muito menos quando tenho razão, ai eu não peço mesmo desculpas a ninguém.
Esta minha atitude foi entendida como um acto muito grave, ainda mais que acabaram por ser os continuos a apanhar as peças, e eu deixei a criatura no meio do salão a falar sozinha.
Estavamos em Abril de 1974, e a revolução tudo apagou, até eu acabei por vêr o meu ano lectivo salvo, e passei para o 2º Ano do Ensino preparatório, graças ás notas que tinha nas outras disciplinas.
Nessa época foi um divertimento total, pois passau a ver-se uma multidão de garndes democratas, ou melhor de muitos vira-casacas, que antes eram Fascistas e agora se diziam, na sua maioria, Comunistas de longa data.
Foi um aprendizado pessoal sem igual, e se na época tivesse existido uma verdadeira investigação sobre certos pseudo-democratas, alguns partidos politicos tinham ficado com muito menos militantes filiados, e alguns dirigentes nunca teriam ocupado certos cargos, mas como eram os anos da "brasa" tudo valia a pena, em termos de risco, porque a oportunidade era unica, para entrar no grupo da "maralha" e apostar numa nova situação...

Hoje, olho para trás no tempo, 33 anos, e pergunto-me como foi possivel terem feito tantas barbaridades debaixo de uma revoluçãao que até diziam ter sido tão linda, a dos cravos, que curiosamente eu considero uma flor de cemiterio, e não terem desparado um tiro, o que também é mentira, mas enfim fica melhor na história, tal como antes ficava bem Amalia, Eusebio e vinho tinto...
Como foi possivel terem feito de um País uma radicalização de um regime, com resultados diluidos no tempo, algo a que só as novas gerações vão sentir realmente na pele, pois nem tudo estava mal no antes do 25 de Abril, e muitas coisas deveriam ter sido aproveitadas.
A independencia das antigas colonias, e a forma como foi processada, e os seus efeitos devastadores no País dos anos 70 e nos anos seguintes, com uma geração a ser atirada para o desemprego, para o inicio do consumo desenfreado de drogas, e tantos outros problemas que dai resultaram.
Para a maioria dos jovens da minha geração, tirando a não ida para a guerra colonial, se parar um pouco e olhar apra trás, resulta numa pergunta de dificil, muito dificil resposta: afinal o que conseguimos conquistar de diferente, que não fosse possivel alcançar de outra forma, como por exemplo foi conquistado pelo povo espanhol?
Posso ferir muitas mentalidades, mas para mim a resposta é NADA!!!

Aqueles primeiros 2 anos de Lavradio - Barreiro, serviram para me transformar de menino a menino - homem, e para começar a vêr sociologicamente a transformação de um local puramente rural-industrial, num local muito diferente, com o fim da ruralidade e ao mesmo tempo o inicio do fim da própria industrialização, transformando aquela terra de gente laboriosa e alegre, numa terra dormitório de gente meio triste, meio ensonada, nalguns casos amargurada, e com um dia-a-dia de luta constante, de corrida para o transporte publico, de insegurança, de marginalidade, e em muitos casos de rendição a um futuro culturalmente abjecto em termos sociais.

Seria nesse mundo em inicio de mutação que eu iria viver a minha juventude, conseguindo no entanto não entrar nas ruas e avenidas da droga, da delinquencia juvenil, da marginalidade, a que infelizmente alguns jovens da minha geração não conseguiram fugir, e hoje são farrapos no meio de uma sociedade desumanizada, e na qual eu não me revejo, e chego a perguntar-me:
Eu realmente vivi aqui?
Não existirá outro Lavradio no mapa de Portugal?
Será que eu também não tenho alguma culpa na construção deste Lavradio dos anos 2000?
Acho que não, acho que tudo tentei para pessoalmente contribuir para uma situação bem diversa, mas uma coisa é objectivamente certa:
É a minha geração, são jovens da minha geração, que ontem não conseguiram dár a volta nos caminhos certos da vida, e que hoje estão no mesmo Lavradio geográfico onde um dia de um modo bem diferente também eu vivi!
Garanto que vivi!!!

XVII - ESTRATIFICAÇÃO MASSAPINA

Ao longo da minha vida percebi que os Massapina são como que uma "casta" especial, pois vivem sob um sistema social mais ou menos rigido, fixo num sobrenome - Massapina - que nos conduz a uma estrutura própria tipo nobiliário, como que uma obrigação de ter que efectivar um pedágio especial no sentido de terminar a vida deixando algo que justifique a nossa passagem terrena.
Uns mais do que outros, mas a obra surge sempre, e nas mais variadas áreas de actuação, não fora o nome uma composição dinamica, a vêr:

"Massa - sf - mistura de farinha de trigo com um liquido, formando pasta; substancia mole ou pulverizada; o todo cujas partes são nda mesma natureza; totalidade; (Fis.) a quantidade de matéria de um corpo; mistura de cal, areia e água; argamassa; nome de um tipo de vinho fabricado em Massa, provincia da Toscana - Italia; mandioca ralada que, depois de espremida no tipiti, é peneirada antes de ir ao forno, onde pelo cozimento se completa a fabricação da farinha e das diversas espécies de beijus; (Sociol.) multidão; agregado social; que se caracteriza por um estado elementar ou grau infimo de coesão dos indivíduos do grupo - fundamental: (Pet.) base, pasta amorfa ou finalmente cristalina que envolve os fenocristais; pl. aglomeração de gente; o povo; a população".
E em relação à segunda parte do nome:

Pina - sf - cada uma das peças que formam a circunferência da roda de um veiculo.

Este conjunto de designações conduz a algo como familia unida, familia unida em circulo, circunferencia, e com origem numa cidade da Toscana Italiana, Região realmente com fundadas origens da familia.
A minha mãe conhecedora da minha grande curiosidade em relação à familia, as suas origens e diversas ligações, deixou-me um verdadeiro tesouro inscrito em 3 simples bocados de papel, que quando conjugados ded uma forma armonioza conseguem deixar bem visivel o percurso e ligações de alguns dos ramos da familia.
Estas verdadeiras obras primas foram escritas já no hospital, nos ultimos momentos de lucidez antes de entrar num estado comatoso e vegetativo de onde já não voltou mais a sair, e foram agora recuperadas por mim, por mero acso de dentro de um monte de papeis, fotos e outros documentos pessoais, que me deixou numa caixa e que tem merecido a minha massima atenção.
Para além da sua publicação por imagem a quando da complementação que irei fazer no final com fotos, documentos originais e outras imagens, não poderia de forma alguma deixar de aqui reproduzir na integra tudo quanto ficou expresso pelo seu punho nesses importantes relatos de historia.
Assim, documento nº 1:

"Libânia da Conceição Massapina, nascida em Lisboa em 18-03-1920, na Freguesia de S. Sebastião da Pedreira na Rua de campolide nº 21 - r/c, filha de José Francisco Massapina de trinta e nove anos, nascido em Moura, Freguesia de S. João Baptista, casado, profissão funcionário publico, e de Clara da Conceição Massapina de 26 anos, natural de Beja, Freguesia de S. salvador, neta paterna de José Augusto Massapina, Enfermeiro e de Maria Albertina de Sousa Freire Massapina, Enfermeira e neta materna de Francisco Manuel Caeiro Massapina, Professor e de Maria do carmo Vargas.
Tem três filhos vivos, Carlos Alberto, casado, Alcina, Casada, e José João, casado. Tem um irmão, José Francisco Massapina Junior, casado com Maria Gabriela Pires Vicente Massapina, tem dois filhos Maria Clara Vicente Massapina e José Carlos Vicente Massapina, vivem em Tavira são filhos, netos, e bisnetos de José Augusto Massapina e Maria Albertina Sousa Freire Massapina".

Uma explanação rigorosa em termos da familia mais chegada, no entanto nota-se o seu esquecimento relativamente aos outros seus irmãos, só considerou o José Francisco Massapina Junior, talvez devido já à sua memoria debilitada, que se pode registar inclusivamente na sua letra algo tremula e desfazada do seu normal tipo de escrita em termos de firmeza.
No documento nº 2, mais resumido e com a letra ainda mais debilitada, ficam de alguma forma descritas algumas ligações familiares a outros ramos da familia, a vêr:

" Oficinas de ferreiro - Cuba - Joaquim José Massapina (irmão de Avõs Libânia, Rodrigo, José Antonio, Manuel António) Mariana Leitão Abreu, pais de António Maria Massapina, Luisa da Conceição Vargas, esposa, pais de Manuel António Massapina, casado com Isaura dos Anjos Bexiga, pais do falecido Joaquim Bexiga Massapina e de Nelson Bexiga Massapina.
José de Jesus Vargas Massapina, Servola Augusta Janeiro Azevedo (Massapina) pais de Osvaldo Francisco Azevedo Massapina, Ivone Assunção Azevedo Masspina, bisnetos de Joaquim José Massapina.
Viana do Alentejo - Rodrigo Massapina, tio Rodrigo Massapina Gusmão, primo 2º grau de José de Jesus vargas Massapina, Libânia da Conceição Massapina, Manuel António Massapina."

Depois surge o 3º documento, o mais longo e também o mais confuso em termos de entendimento, em alguns dos seus dados, a vêr:

"Hospitais de Moura, Clinica da Rainha em Alcobaça, ultimo onde julgo esteve.
Trabalhou com o Dr. Libânio, José Augusto Massapina, Enfermeiro, casado com Maria Albertina de Sousa Freire (Massapina) Enfermeira, pais de José Francisco Massapina, filho mais velho, nasceu em Moura na Freguesia de São João Baptista, foi funcionário publico esteve na Companhia Inglesa dos Telefones, grande politico republicano, amigo dos 1ºs Presidentes da Republica, empregou-se no Ministério da Agricultura, como capataz Agricola, esteve nos postos agrarios de Evora, Silves, castro Verde, tavira, foi promovido a Prático Agricola, faleceu em tavira onde está sepultado. Conhecido, estimado e respeitado por todos, a Provincia do Algarve prestou-lhe várias homenagens por sua competência.
Casou com a sua prima Clara da Conceição Massapina, nascida em Beja, Freguesia de S. Salvador, filha de Francisco Manuel Caeiro Massapina, professor e Maria do Carmo Vargas.
Maria Antónia Massapina, nasceu numa caçada na fronteira de Portugal-Espanha onde sua mãe se encontrava na companhia dos Reis D. Carlos e d. Amélia, de quem era Enfermeira, casou com o Arquitecto Henrique Ferreira da Silva, foram pais de Julia, Maria Albertina, Ermelinda e Isabel Massapina Ferreira da Silva, falecidos, todos não há descendentes.
Libânio Massapina, oficial da marinha casou com D. Laura filha do Médico do navio onde estava a prestar serviço e foi a Africa combater o 'Gungunhaná' não existe rigor em relação à sua morte pois existem registos de morte em combate e outros que dizem que faleceu em Colares na sua quinta que foi doada aos padres e D. Laura esteve internada no lar das viuvas dos oficiais da marinha e creio já ter falecido. Não tiveram filhos.
José Francisco Massapina e Clara da Conceição Massapina pais de Libânia da Conceição Massapina que nasceu em Campolide, Freguesia de S. Sebastião da Pedreira a 18-3-1920, seu pai tinha 39 anos e sua mãe 26 quando Libânia nasceu".

Depois desta longa análise, e de posse de outros documentos recolhidos aos mais variados apoios que tenho recebido para conseguir compor esta obra, pude chegar à conclusão que sou membro da 6ª geração de Massapina's em Portugal, porquanto:

O casal de Enfermeiros Italianos eram Massapina pelos dois lados das suas familias, eram portanto primos, e acompanharam a D. Maria Pia de Saboia, futura Rainha de Portugal, eram os meus 5ºs avos, se assim se pode chamar.
Depois surgem os meus 4ºs avos, que eram Massapina pelo lado da mãe, e eram Enfermeiros do rei D. Carlos e da Rainha D. amélia.
Em seguida surgem os meus Trisavós, Maria Antónia Massapina e Henrique Ferreira da Silva.
Dos meus Bisavôs pelo ramo Massapina existem todos os registos, ainda mais que se trata de mais um cruzamento de vários ramos da familia, a saber, por um lado, surge Maria do Carmo Vargas e Francisco Manuel Caeiro Massapina e por outro José Augusto Massapina e Maria Albertina de Sousa Freire Massapina.
Também os meus Avôs eram primos, o José Francisco Massapina e a Clara da Conceição Massapina, que geraram a Libânia da Conceição Massapina, que por sua vez me gerou a mim com um elemento da familia Antunes da Silva.

Uma rota de entendimento familiar algo dificil de esclarecer quando se trata dos outros ramos da familia que se vão cruzando ao longo das épocas e diversas gerações.
Mas o mais importante em termos de Massapina, é que se não fora o casamento de D. Maria Pia de Saboia, vinda de Italia, com o futuro Rei de Portugal, e talvez nunca fosse possivel hoje encontrar Massapina's por todo o Portugal, e também um pouco por todo o Mundo, e já com algumas gerações de realizações e profundas e estruturantes obras com o nosso cunho especial de "casta" multiplicadora de um nome que só por si justifica a passagem terrena.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

VII - BOLONHA E TURIM, O BERÇO MASSAPINA

A cidade de Bolonha foi fundada no seculo II a.c., e tem como seu maior exlibriz a sua universidade, nada mais, nada menos do que a mais antiga universidade do mundo, tendo por ali passado como estudantes figuras miticas, de entre outros Dante e Petrarca.
A Basilica de São Petronio é a sexta maior igreja do mundo, e constitui outro orgulho dos Bolonheses.
Quem hoje passa por Bolonha fica extasiado com a beleza de alguns dos seus palacios, e com monumentos como a Basilica de São Petronio, a Torre dos Asinelli ou o Palazzo Re Enzo.
Bolonha é a sede da Região Italiana da Emilia-Romana, tem actualmente cerca de 370.000 habitantes, e esta situada na região centro norte de Italia, possuindo uma importancia fundamental nas comunicações terrestres e maritimas da Italia e da Europa, como centro motor das comunicações entre o Norte e o Sul.
Politicamente navega nas ondas da esquerda socialista, sendo no periodo monarquico desde logo um importante centro republicano, dai o facto estranho de no final dos anos 1800, os Massapina serem origináriamente monarquicos, afectos à Casa de Saboia, e estarem divididos entre duas cidades, Turim e Bolonha.

A cidadde de Turim é a capital da Região do Piemonte Italiano, situada junto à extremidade ocidental do Rio Pó. Actualmente é uma das cidades mais importantes de Italia, capital da industria automovel, graças a importantes marcas ali instaladas como a Fiat. Hoje com os seus cerca de 908.000 habitantes, para uma área de 130 km2, pode gabar-se de já ter sido a capital de Italia de 1861, até 1864, curiosamente na época da vinda dos Massapina para Portugal.
Esta coincidencia proporciona a ideia mais do que provável da origem, naquela zona de Italia, de um dos ramos da familia Massapina.
Após 1864, a capital Italiana passou para Florença, e mais tarde retornou a Roma, mas mesmo com esta perca de importancia administrativa, Turim desenvolveu-se e, o incremento economico e industrial nunca mais parou, tornando-se na segunda cidade mais industrial de Italia, logo a seguir a Milão.
Um desses exemplos de grandiosidade industrial, ainda hoje pode ser visto, é o edificio Lingotto, que já foi a maior fabrica de automoveis do mundo e hoje esta transformado num importante espaço cultural da Europa.
Falando de Cultura, a cidade de Turim alberga o famoso "Santo Sudário", para além dos inumeros monumentos e bonitos palacios.
Por outro lado Turim é a sede do meu clube futebolistico do coração, mais conhecido pela "Velha Senhora", no final desta época desportiva a Juventus de Turim, vai passar a ser o unico clube do mundo que detem todos os titulos possiveis, tanto a nivel internacional como nacional em Italia, pois devido a um escandalo desportivo, foi rebaixada para a série B do futebol italiano, mas vai sagrar-se campeã e retornar à série A, tornando-se, de novo, no próximo ano, numa seria candidata ao "Scudetto", que já conquistou inumeras vezes, sendo a equipa detentora do maior numero de titulos de campeã nacional Italiana.
Desde que me conheço que admiro aquele time, e tal como o Sporting Clube de Portugal, eu não encontro explicação para essas minhas opções clubisticas.
É bom também não esquecer, em termos desportivos, que Turim já albergou Jogos Olimpicos, sendo portanto uma Cidade Olimpica na verdadeira razão da palavra, e também, não se pode esquecer que Turim tem no seu outro grande clube o "Torino" uma razão de não mais se esquecer que existe um destino e a historia não se apaga, passem os anos que se passarem sobre algum faacto.
Num desastre de aviação, em que o avião embateu numa montanha já próximo de Turim, dessa forma tragica, o Torino viu desaparecer numa só noite toda a sua equipa de futebol, bem como grande parte da Selecção Nacional Italiana da época. E tudo isto após um jogo contra o Benfica em Lisboa, e na viagem de regresso, e mesmo assim a Italia voltou a sagrar-se Campeã do Mundo de Futebol. Quanto ao Torino tornou-se numa chamada equipa amaldiçoada, e nunca mais ganhou nenhuma competição futebolistica a nivel nacional ou internacional, é assim o Torino, memoria, historia, tradição.

Penso que existiriam pelo menos duas correntes na familia Massapina, os Monarquicos em Turim e os Republicanos em Bolonha.
Até à bem pouco tempo toda a familia em Portugal pensava que as suas origens provinham de Bolonha, eu vim a descobrir que não é bem assim, com factos comprovados, de forma inequivoca pela historia de quatro gerações e também pela origem dos primeiros Massapina em Portugal.
Tenho no entanto que respeitar os estudos feitos pelo meu ilustre amigo e primo Vasco Massapina e também pela minha irmã Alcina, que tem e apresentam argumentos diferentes dos meus, e que cimentam cada vez mais a ideia das duas correntes existentes em Bolonha e Turim, e uma provável terceira ligada a Garibaldi, e a historia de dois irmão fugidos ás revoluções constantes em Italia.
Na realidade apurei que Libanio e Fabiola, eram Monarquicos e trabalhavam para a filha do Principe de Piemonte, Victor Emannuel, que em 1849 foi aclamado Rei da Sardenha e em 1867 foi aclamado Rei de Italia.
A Princesa Maria Pia de Saboia, nasceu em Turim a 16 de Outubro de 1947, e com apenas 7 anos de idade viu falecer a sua mãe a Arquiduquesa D. Maria Adelaide Francisca Reinero Elisabete Clotilde, tendo ficado entregue aos cuidados da Condessa de Vila Marina.
Em 1862, precisamente 100 anos antes do meu nascimento, a Princesa Maria Pia de Saboia, foi pedida em casamento pelo Principe Real de Portugal, D. Luis, tendo o casamento sido realizado por procuração em Turim em 27 de Setembro de 1862, tendo a jovem Princesa, e que posteriormente viria a ser Rainha de Portugal, embarcado para Portugal no dia 29 de Setembro, desse mesmo ano.
A partida para Lisboa foi efectuada no Porto de Genova, e a aventura dos Massapina em Portugal começa ai. Ele, Libanio como Enfermeiro particular da futura rainha de Portugal, e ela, Fabiola como Aia da futura Rainha de Portugal. Embarcaram por certo na Corveta Bartolomeu Dias, onde viajou a Princesa Real, embora esteja registado na historia, para a posteridade, que do Porto de Genova partiram ainda as Corvetas Portuguesas Estefânia e Sagres e as Corvetas Italianas Maria Adelaide, Duque de Genova, Italia, Garibaldi e o Vapor Aviso Anthion, tendo toda esta esquadra chegado a Lisboa no dia 05 de Outubro de 1962, (ironia ser no dia 05 de Outubro, data importante para Portugal e para a própria futura Rainha, anos mais tarde), tendo esta esquadra tido sido aguardada na entrada da barra pelos Vapores de Guerra Lince e Argos e pelos Vapores de Comercio A. Antonia, D. Luis, Açoriano e Torre de Belém.
A Corveta Bartolomeu Dias fundeou em frente de Belém, indo logo a bordo o Principe Real D. Luis, o Rei D. Fernando, o Conselho de Estado e outras altas individualidades da Monarquia Portuguesa daquela época.
A chegada a terra portuguesa só foi oficializada no dia 06 de Outubro, desse ano de 1862, com a recepção a acontecer no Terreiro do Paço, em Lisboa, tendo inclusivamente tido sido construido um pavilhão com a replica do Templo de Hymineu, tendo, segundo reza a historia, nos frizos as seguintes inscrições, feitas por António Feliciano de Castilho:

- Do Lado Norte - Da bela Italia Estrella Soberana sejães bem vinda à Patria Lusitana;

- Do Lado Sul - Filha de Reis Heroes, de Reis Heroes origem em nova Italia os ceus throno D'Amor te Erigem.

A festa foi enorme, com cortejo até à igreja de S. Domingos, onde se procedeu à cerimonia de ratificação do casamento e se cantou um solene "Te Deum", composição do Maestro Manuel Inocencio dos Santos, tendo-se seguido 3 dias de festas, com brilhantes iluminações paradas, fogos de artificio, e recitas de gala no Teatro D. Maria, com o drama histórico em 5 actos de Mendes Leal, "Egas Moniz", e no Teatro S. Carlos, a Opera "Emni" de Verdi.
Esta foi a ultima grande festa de casamento da Monarquia Portuguesa, pois o casamento do Rei D. Carlos, já não teve tanto brilhantismo.

Os Massapina, chegam assim a Portugal no ano de 1862, para se radicarem como Enfermeiro e Aia da futura Rainha D. Maria Pia de Saboia.
Penso que vem dai a obstinação de sempre dos Massapina, em defenderem contra tudo e contra todos, aquilo em que acreditam.
Ou o convite foi muito tentador, ou o seu apego a D. Maria Pia de Saboia seria grande, ou a situação em Italia estava de tal forma degradada em termos de ideologia monarquica para terem aceite tão honroso mas ao mesmo tempo desafiante convite.
É desta forma que os descendentes Massapina em 5ª geração chegam a Portugal, e iniciam a espansão da familia por estas bandas.
Segundo relatos escritos da minha mãe, a que somente agora tive acesso, e a que vou dedicar um unico capitulo; o velho Libanio foi um dos responsáveis pelo seu nome Libania, conjuntamente com um tio do meu avó, portanto tio-avo da minha mãe, também de nome Libanio, que era Oficial da Marinha, e que participou na grande caçada ao heroi africano "Gongunhana" e que veio a falecer como um heroi ao serviço da nação Portuguesa, em combate no alto mar. Em sua Homenagem o avó José Francisco Massapina, decidiu que o primeiro filho a nascer em seguida se chamaria Libanio, só que veio ao mundo uma moça, e dai nasceu a Libania da Conceição Massapina, sendo que Libania é um nome muito pouco comum em Portugal.
Vi um dia uma foto desse heroi de familia, era um homem alto, arruivado, olhos verdes grandes, e de farto bigode, com uma compleição fisica de fazer inveja a qualquer grande atleta. Não deixou, que se tenha conhecimento, descendentes directos.

Em Italia, na idade média, surgem as corporações medievais para fazer oposição ao próprio estado medieval. No final do seculo, a luta social era feroz, na zona de Bolonha, com um comercio e industria fortes inicia-se o despontar dos Sindicatos, e o apróximar do final do regime Monarquico. Curiosamente a Monarquia só termina por referendo, e o ultimo Rei foi Humberto II de Italia, que reinou até 1946, antes dele reinaram Victor Emannuel III, Humberto I e Victor Emannuel II, Pai de D. Maria Pia de Saboia.
O primeiro Presidente de Italia foi Alcide de Gasperi, e teve uma curta presidencia, pois durou tão somente 17 dias, mais precisamente do dia 12 de Junho de 1946 até ao dia 29 de Junho de 1946, a que se seguiu Enrico de Nicola até 11 de Maio de 1948.
A Princesa de Italia e Rainha de Portugal, D. Maria Pia de Saboia, bem como os primeiros Massapina em Portugal, assistiram a factos muito importantes para a historia de Italia, de Portugal e do Mundo, o Regicidio em 01 de Fevereiro de 1908, com a morte do então Rei D. Carlos e do Principe Real D. Luis Filipe, e também a proclamação da Republica em 05 de Outubro de 1910, para além de todas as convulsões sociais que se viviam em Italia e na Europa da época.
Desconheço o fim desses primeiros Massapina, sabe-se no entanto que a Rainha D. Maria Pia de Saboia, veio a falecer na sua terra natal, Turim, em 05 de Julho de 1911, podendo suspeitar-se com alguma probabilidade de veracidade, que esses primeiros Massapina a tenham acompanhado até aos seus ultimos dias, falecendo também em Turim, deixando no entanto a semente aqui em Portugal, pois os seus descendentes, nomeadamente ela ficou como Enfermeira do Rei D. Carlos e da Rainha D. Amélia, esses eram os massapina da 4ª Geração anterior à minha e deram lugar a Maria Antónia Massapina minha Trisavó pelo lafdo paterno e que foi casada com Henrique Ferreira da Silva, que por sua vez foram os pais da minha Bizavo, Maria Albertina de Sousa Freire Massapina, casada com um primo, meu Bisavo de nome José Augusto Massapina.
O que esta provado e comprovado é a descendencia que ficou em Portugal, de que eu próprio sou um exemplo, para além de várias dezenas de Massapina's, que embora de vários ramos da familia, todos descendemos do saudoso Libanio e da Fabiola, que um dia embarcaram no Porto de Genova e rumaram a Portugal, tendo-se posteriormente espanhado o nome, Massapina, um pouco por todo o Mundo.

A casa de Saboia, ainda hoje existe, mas os seus membros até 2002, estavam proibidos legalmente de entrar em Italia.
No final dos anos 40, devido ao finalizar da IIª Guerra Mundial, e à confusão que ficou instalada no País com a morte de Mossulini, e a destruição de práticamente todo o sector produtivo, e a desorganização e desunião, que ainda hoje se sente, entre o Norte rico e produtivo e o Sul pobre e deserificado, levou os Americanos a tentarem impor a via da Monarquia para tentar reorganizar o País, tal não se concretizou e na realidade o que veio a acontecer foi o desenvolvimento por toda a Italia da "Mafia", tanto a Norte, como no Centro em Napoles e no Sul em especial na Secilia, onde se tornou um factor de participação social.
O "Sindicato do Crime" organizou-se de tal forma que passou a controlar a economia, criando o seu próprio sistema economico, com impostos próprios e com a sua lei do mais forte a imperar.
Passados tantos anos, a situação sofreu algumas mudanças, mas continua a ser um factor determinante a importancia da "Mafia" e da "Camorra" na vida diária Italiana, pois nada nem ninguém conseguiu até hoje acabar difinitivamente com a importancia das "Familias" na sociedade, e de politicos a simples e anonimos italianos, até mesmo no interior do Vaticano, tudo tem um pouco o dedo da "Mafia" infiltrado.

A importancia do nucleo central da familia na vida social é derminante, e os codigos de honra ainda hoje fazem decidir muito da realidade italiana actual, e das familias de ascendencia italiana no exterior.
A Italia é o País da Europa onde os filhos % mais tarde saiem da casa dos pais, isso demonstra a importancia da familia como centro aglutinador social.
Por outro laado em algumas regiões continua a imperar a tradição de que o filho mais velho tem que um dia tomar conta dos negocios da familia, nem que para isso tenha que largar toda a sua vida profissional do momento.
Por outro lado os italianos da provincia gostam muito de um dia retornar à sua terra natal, e ali acabarem em paz os seus dias, é uma questão de tradição, tal como é uma tradição a questão do codigo de silencio "omerta" e o facto de para se celebrar um acordo valer mais a palavra dada do que mil assinaturas, no entanto se alguém falhar o acordo, fiquem certos de que mais dia menos dia vai correr sangue para se fazer justiça. No entanto existe uma profunda lealdade no aviso de que se vai fazer e justiça, pois um Italiano avisa sempre que vai fazer justiça, existe mesmo a tradição de enviar ao condenado ou infractor uma encomenda contendo um peixe podre enrrolado numas folhas de papel de jornal. Quem recebe esta encomenda fica a saber que esta encomendada justiça para a sua pessoa e inclusivamente a sua mais do que provável morte. Quando ou como vai acontecer, essa resolução, não se sabe, mas que a justiça vai ocorrer isso é certo.
O querer, a vontade de vencer custe o que custar, tem feito do povo Italiano por um lado um martir, mas por outro um povo que joga tudo na sua vida para ganhar sempre, para ser um vencedor, e este lema foi-me transmitido pela minha mãe e também pelo meu avó, que nos seus ensinamentos me deixaram maximas que até hoje não esqueço:

"Luta sempre para ganhar. Luta sempre para seres o primeiro em tudo o que faças na vida, se fores o segundo dá os parabens ao primeiro, porque foi melhor do que tu, e merece ser aplaudido, porque devemos saber ganhar e perder na vida, mas fica certo de que foste o primeiro dos vencidos, o primeiro dos ultimos"

"Nunca tentes a perfeição porque ela não existe, é uma utopia, mas tenta ser o mais perfeito e organizado possivel, em tudo o que fizeres na tua vida"

"Lembra-te sempre que a familia é o centro de tudo, a familia esta sempre primeiro do que tudo. Se decidires algum dia romper com a familia, sabe que vais ser excomungado por essa decisão. Mas constroi outra tão ou mais forte do que a que destruiste, ou perdes-te, mas nunca vivas sem fazeres parte de uma familia. Se ficares isolado até os lobos, durante o dia, te podem comer"

"Escolhe os amigos com cuidado e com lealdade, mas nunca perdoes a traição de alguém que se te dizia teu amigo"

"Procura ter os amigos perto, mas mais perto ainda os inimigos para os poderes vigiar e controlar"

"Todos os anos, efectua uma avaliação daqueles que merecem continuar a acompanhar-te na jornada da vida, e não tenhas qualquer pudor em cortar relações com quem não merece a tua confiança pessoal. Separa os amigos em dois grupos: os com (A) maisculo, que são aqueles por quem deves dar a vida se necessário for, porque eles por certo farão o mesmo por ti. E os outros com (a) minusculo, que não são mais do que conhecidos, e que nunca te podem ser leais na vida, e não merecem que percas muito tempo e recursos"

"Nunca te percas em pormenores na vida, pensa sempre no global, e sempre que te pensarem derrotado, respira fundo, dá um passo atrás para depois no primeiro momento oportuno dares dois passos em frente e venceres com coragem e caracter"

"Nunca percas o teu caracter, a tua personalidade, a tua maneira de ser. Muitos vão tentar ao longo da vida moldar-te aos seus gostos, mas tu para o mal ou para o bem deves sempre, mas sempre, seres tu próprio, e não outra pessoa em que te queiram construir"

"Nunca deixes de fazer justiça, custe o que custar. Na primeira oportunidade vinga o que ficou por resolver antes, e não tenhas medo nem vergonha de seres vingativo, pois sempre que não fizeres justiça o inimigo vai chegar-se a ti, mais forte do que antes e pode atentar contra a tua segurança. Assim que puderes liquida-o como se de uma "cobra" se trata-se, não podes ter piedade ou contemplações, pois a piedade é um braço escondido do medo e da derrota, e não podemos ter medo de nada nem de ninguem"

"Nunca faças nada de cabeça quente, pára uns minutos, pensa, e hage de acordo com o teu raciocinio frio e calculista. Mas procura nunca ser oportunista ou injusto, pois não existem piores defeitos na vida do que a injustiça e o oportunismo"

"Não tenhas piedade de quem te fez mal. Observa todos aqueles que tiveram piedade de alguém, e verás que todos vieram a ser abatidos pelo inimigo por quem tiveram um dia o dom de absolver. Mas faz justiça digna dos homens de caracter, e nunca te esqueças de que quem com fero mata com ferro morre, por isso se tiveres de matar, na hora de matar nunca falhes"

"Nunca tentes fazer algo apressadamente, para não te arrepender mais tarde de ter feito mal. Não te esqueças de que devagar se vai ao longe"

A minha mãe dizia-se Catolica não praticante, mas eu desde tenra idade que me assumi como Ateu, mas se observar tudo quanto me foi dizendo ao longo da vida, bem como o pouco ou muito que o meu avó me transmitiu em termos de ensinamentos, quando eu era ainda criança, fico sempre com duvidas sobre a cristandade dela. Acho que era mais uma pessoa justa na medida certa, e que pecava muitas vezes por ter medo de aplicar a justiça.
Em relação a ele sei que era Republicano dos sete costados, e está escrito na história que Republicanos e pessoal da batina e da biblia debaixo do braço nunca se deram lá muito bem. Por isso em relação a ele fica tudo esclarecido, era um homem justo, rigoroso, bondoso, não caritativo mas amigo de ajudar aqueles que mais necessitavam, e procurava sempre ensinar a pescar e não a dar o peixe directamente, pois dizia que: "... quem vai dando peixes, e não ensina a pescar, um dia não vai ter mais peixes para dar, ou comer, e aquele que os recebe não vai nunca mais aprender a pescar, vamos assim acabar os dois por morrer à fome, eu por não ter mais peixe e ele porque não os sabe apanhar"
Em relação a ela, nunca a vi ir a uma unica missa. Não sei se rezava, sei que era apreciadora do Padre Cruz, e em relação a Fatima e Maria, olhava como qualquer credulo da Igreja Catolica, para o assunto, mas sem andar a fazer viagens de fé ao "supermercado da Cova da Iria", e estava convicta de que Salazar e Cerejeira tinham aproveitado muito bem uma historia antiga, muito bem contada, para deixar os Portugueses a pensar noutros assuntos, que não os problemas concretos do Portugal dos anos 60 como por exemplo a Guerra Colonial, a Emigração para fugir à fome e miseria, a pobreza e analfabetismo do interior esquecido.

De Salazar e Cerejeira e dos anos 60 em Portugal, a decada do meu nascimento, muito existe para falar, mas o importante é analisar e verificar as raizes Italianas dos Massapina, em termos de País de origem e Regiões, e a importancia da origem da sua plena integração na sociedade Portuguesa daquele seculo, e as raizes que deixaram em Portugal e que hoje se estendem um pouco por todo o Mundo, sendo que eu próprio sou hoje um exemplo dessa expansão geografica, iniciada num dia do ano de 1862 no Porto de Genova.

vii

14 de abril
VII - BOLONHA E TURIM, O BERÇO MASSAPINA
A cidade de Bolonha foi fundada no seculo II a.c., e tem como seu maior exlibriz a sua universidade, nada mais, nada menos do que a mais antiga universidade do mundo, tendo por ali passado como estudantes figuras miticas, de entre outros Dante e Petrarca.
A Basilica de São Petronio é a sexta maior igreja do mundo, e constitui outro orgulho dos Bolonheses.
Quem hoje passa por Bolonha fica extasiado com a beleza de alguns dos seus palacios, e com monumentos como a Basilica de São Petronio, a Torre dos Asinelli ou o Palazzo Re Enzo.
Bolonha é a sede da Região Italiana da Emilia-Romana, tem actualmente cerca de 370.000 habitantes, e esta situada na região centro norte de Italia, possuindo uma importancia fundamental nas comunicações terrestres e maritimas da Italia e da Europa, como centro motor das comunicações entre o Norte e o Sul.
Politicamente navega nas ondas da esquerda socialista, sendo no periodo monarquico desde logo um importante centro republicano, dai o facto estranho de no final dos anos 1800, os Massapina serem origináriamente monarquicos, afectos à Casa de Saboia, e estarem divididos entre duas cidades, Turim e Bolonha.

A cidadde de Turim é a capital da Região do Piemonte Italiano, situada junto à extremidade ocidental do Rio Pó. Actualmente é uma das cidades mais importantes de Italia, capital da industria automovel, graças a importantes marcas ali instaladas como a Fiat. Hoje com os seus cerca de 908.000 habitantes, para uma área de 130 km2, pode gabar-se de já ter sido a capital de Italia de 1861, até 1864, curiosamente na época da vinda dos Massapina para Portugal.
Esta coincidencia proporciona a ideia mais do que provável da origem, naquela zona de Italia, de um dos ramos da familia Massapina.
Após 1864, a capital Italiana passou para Florença, e mais tarde retornou a Roma, mas mesmo com esta perca de importancia administrativa, Turim desenvolveu-se e, o incremento economico e industrial nunca mais parou, tornando-se na segunda cidade mais industrial de Italia, logo a seguir a Milão.
Um desses exemplos de grandiosidade industrial, ainda hoje pode ser visto, é o edificio Lingotto, que já foi a maior fabrica de automoveis do mundo e hoje esta transformado num importante espaço cultural da Europa.
Falando de Cultura, a cidade de Turim alberga o famoso "Santo Sudário", para além dos inumeros monumentos e bonitos palacios.
Por outro lado Turim é a sede do meu clube futebolistico do coração, mais conhecido pela "Velha Senhora", no final desta época desportiva a Juventus de Turim, vai passar a ser o unico clube do mundo que detem todos os titulos possiveis, tanto a nivel internacional como nacional em Italia, pois devido a um escandalo desportivo, foi rebaixada para a série B do futebol italiano, mas vai sagrar-se campeã e retornar à série A, tornando-se, de novo, no próximo ano, numa seria candidata ao "Scudetto", que já conquistou inumeras vezes, sendo a equipa detentora do maior numero de titulos de campeã nacional Italiana.
Desde que me conheço que admiro aquele time, e tal como o Sporting Clube de Portugal, eu não encontro explicação para essas minhas opções clubisticas.
É bom também não esquecer, em termos desportivos, que Turim já albergou Jogos Olimpicos, sendo portanto uma Cidade Olimpica na verdadeira razão da palavra, e também, não se pode esquecer que Turim tem no seu outro grande clube o "Torino" uma razão de não mais se esquecer que existe um destino e a historia não se apaga, passem os anos que se passarem sobre algum faacto.
Num desastre de aviação, em que o avião embateu numa montanha já próximo de Turim, dessa forma tragica, o Torino viu desaparecer numa só noite toda a sua equipa de futebol, bem como grande parte da Selecção Nacional Italiana da época. E tudo isto após um jogo contra o Benfica em Lisboa, e na viagem de regresso, e mesmo assim a Italia voltou a sagrar-se Campeã do Mundo de Futebol. Quanto ao Torino tornou-se numa chamada equipa amaldiçoada, e nunca mais ganhou nenhuma competição futebolistica a nivel nacional ou internacional, é assim o Torino, memoria, historia, tradição.

Penso que existiriam pelo menos duas correntes na familia Massapina, os Monarquicos em Turim e os Republicanos em Bolonha.
Até à bem pouco tempo toda a familia em Portugal pensava que as suas origens provinham de Bolonha, eu vim a descobrir que não é bem assim, com factos comprovados, de forma inequivoca pela historia de quatro gerações e também pela origem dos primeiros Massapina em Portugal.
Tenho no entanto que respeitar os estudos feitos pelo meu ilustre amigo e primo Vasco Massapina e também pela minha irmã Alcina, que tem e apresentam argumentos diferentes dos meus, e que cimentam cada vez mais a ideia das duas correntes existentes em Bolonha e Turim, e uma provável terceira ligada a Garibaldi, e a historia de dois irmão fugidos ás revoluções constantes em Italia.
Na realidade apurei que Libanio e Fabiola, eram Monarquicos e trabalhavam para a filha do Principe de Piemonte, Victor Emannuel, que em 1849 foi aclamado Rei da Sardenha e em 1867 foi aclamado Rei de Italia.
A Princesa Maria Pia de Saboia, nasceu em Turim a 16 de Outubro de 1947, e com apenas 7 anos de idade viu falecer a sua mãe a Arquiduquesa D. Maria Adelaide Francisca Reinero Elisabete Clotilde, tendo ficado entregue aos cuidados da Condessa de Vila Marina.
Em 1862, precisamente 100 anos antes do meu nascimento, a Princesa Maria Pia de Saboia, foi pedida em casamento pelo Principe Real de Portugal, D. Luis, tendo o casamento sido realizado por procuração em Turim em 27 de Setembro de 1862, tendo a jovem Princesa, e que posteriormente viria a ser Rainha de Portugal, embarcado para Portugal no dia 29 de Setembro, desse mesmo ano.
A partida para Lisboa foi efectuada no Porto de Genova, e a aventura dos Massapina em Portugal começa ai. Ele, Libanio como Enfermeiro particular da futura rainha de Portugal, e ela, Fabiola como Aia da futura Rainha de Portugal. Embarcaram por certo na Corveta Bartolomeu Dias, onde viajou a Princesa Real, embora esteja registado na historia, para a posteridade, que do Porto de Genova partiram ainda as Corvetas Portuguesas Estefânia e Sagres e as Corvetas Italianas Maria Adelaide, Duque de Genova, Italia, Garibaldi e o Vapor Aviso Anthion, tendo toda esta esquadra chegado a Lisboa no dia 05 de Outubro de 1962, (ironia ser no dia 05 de Outubro, data importante para Portugal e para a própria futura Rainha, anos mais tarde), tendo esta esquadra tido sido aguardada na entrada da barra pelos Vapores de Guerra Lince e Argos e pelos Vapores de Comercio A. Antonia, D. Luis, Açoriano e Torre de Belém.
A Corveta Bartolomeu Dias fundeou em frente de Belém, indo logo a bordo o Principe Real D. Luis, o Rei D. Fernando, o Conselho de Estado e outras altas individualidades da Monarquia Portuguesa daquela época.
A chegada a terra portuguesa só foi oficializada no dia 06 de Outubro, desse ano de 1862, com a recepção a acontecer no Terreiro do Paço, em Lisboa, tendo inclusivamente tido sido construido um pavilhão com a replica do Templo de Hymineu, tendo, segundo reza a historia, nos frizos as seguintes inscrições, feitas por António Feliciano de Castilho:

- Do Lado Norte - Da bela Italia Estrella Soberana sejães bem vinda à Patria Lusitana;

- Do Lado Sul - Filha de Reis Heroes, de Reis Heroes origem em nova Italia os ceus throno D'Amor te Erigem.

A festa foi enorme, com cortejo até à igreja de S. Domingos, onde se procedeu à cerimonia de ratificação do casamento e se cantou um solene "Te Deum", composição do Maestro Manuel Inocencio dos Santos, tendo-se seguido 3 dias de festas, com brilhantes iluminações paradas, fogos de artificio, e recitas de gala no Teatro D. Maria, com o drama histórico em 5 actos de Mendes Leal, "Egas Moniz", e no Teatro S. Carlos, a Opera "Emni" de Verdi.
Esta foi a ultima grande festa de casamento da Monarquia Portuguesa, pois o casamento do Rei D. Carlos, já não teve tanto brilhantismo.

Os Massapina, chegam assim a Portugal no ano de 1862, para se radicarem como Enfermeiro e Aia da futura Rainha D. Maria Pia de Saboia.
Penso que vem dai a obstinação de sempre dos Massapina, em defenderem contra tudo e contra todos, aquilo em que acreditam.
Ou o convite foi muito tentador, ou o seu apego a D. Maria Pia de Saboia seria grande, ou a situação em Italia estava de tal forma degradada em termos de ideologia monarquica para terem aceite tão honroso mas ao mesmo tempo desafiante convite.
É desta forma que os meus Bisavós Massapina chegam a Portugal, e iniciam a espansão da familia por estas bandas.
Segundo relatos da minha mãe, o velho Libanio foi um dos responsáveis pelo seu nome Libania, conjuntamente com um irmão do meu avó, portanto tio da minha mãe, também de nome Libanio, que era Oficial da Marinha, e que veio a falecer como um heroi ao serviço da nação Portuguesa, em combate no alto mar. Em sua Homenagem o avó José Francisco Massapina, decidiu que o primeiro filho a nascer em seguida se chamaria Libanio, só que veio ao mundo uma moça, e dai nasceu a Libania da Conceição Massapina, sendo que Libania é um nome muito pouco comum em Portugal.
Vi um dia uma foto desse heroi de familia, era um homem alto, arruivado, olhos verdes grandes, e de farto bigode, com uma compleição fisica de fazer inveja a qualquer grande atleta. Não deixou, que se tenha conhecimento, descendentes directos.

Em Italia, na idade média, surgem as corporações medievais para fazer oposição ao próprio estado medieval. No final do seculo, a luta social era feroz, na zona de Bolonha, com um comercio e industria fortes inicia-se o despontar dos Sindicatos, e o apróximar do final do regime Monarquico. Curiosamente a Monarquia só termina por referendo, e o ultimo Rei foi Humberto II de Italia, que reinou até 1946, antes dele reinaram Victor Emannuel III, Humberto I e Victor Emannuel II, Pai de D. Maria Pia de Saboia.
O primeiro Presidente de Italia foi Alcide de Gasperi, e teve uma curta presidencia, pois durou tão somente 17 dias, mais precisamente do dia 12 de Junho de 1946 até ao dia 29 de Junho de 1946, a que se seguiu Enrico de Nicola até 11 de Maio de 1948.
A Princesa de Italia e Rainha de Portugal, D. Maria Pia de Saboia, bem como os primeiros Massapina em Portugal, assistiram a factos muito importantes para a historia de Italia, de Portugal e do Mundo, o Regicidio em 01 de Fevereiro de 1908, com a morte do então Rei D. Carlos e do Principe Real D. Luis Filipe, e também a proclamação da Republica em 05 de Outubro de 1910, para além de todas as convulsões sociais que se viviam em Italia e na Europa da época.
Desconheço o fim desses primeiros Massapina, sabe-se no entanto que a Rainha D. Maria Pia de Saboia, veio a falecer na sua terra natal, Turim, em 05 de Julho de 1911, podendo suspeitar-se com alguma probabilidade de veracidade, que os Massapina a tenham acompanhado até aos seus ultimos dias, falecendo também em Turim.
O que esta provado e comprovado é a descendencia que ficou em Portugal, de que eu próprio sou um exemplo, para além de várias dezenas de Massapina's, que embora de vários ramos da familia, todos descendemos do saudoso Libanio e da Fabiola, que um dia embarcaram no Porto de Genova e rumaram a Portugal, tendo-se posteriormente espanhado o nome, Massapina, um pouco por todo o Mundo.

A casa de Saboia, ainda hoje existe, mas os seus membros até 2002, estavam proibidos legalmente de entrar em Italia.
No final dos anos 40, devido ao finalizar da IIª Guerra Mundial, e à confusão que ficou instalada no País com a morte de Mossulini, e a destruição de práticamente todo o sector produtivo, e a desorganização e desunião, que ainda hoje se sente, entre o Norte rico e produtivo e o Sul pobre e deserificado, levou os Americanos a tentarem impor a via da Monarquia para tentar reorganizar o País, tal não se concretizou e na realidade o que veio a acontecer foi o desenvolvimento por toda a Italia da "Mafia", tanto a Norte, como no Centro em Napoles e no Sul em especial na Secilia, onde se tornou um factor de participação social.
O "Sindicato do Crime" organizou-se de tal forma que passou a controlar a economia, criando o seu próprio sistema economico, com impostos próprios e com a sua lei do mais forte a imperar.
Passados tantos anos, a situação sofreu algumas mudanças, mas continua a ser um factor determinante a importancia da "Mafia" e da "Camorra" na vida diária Italiana, pois nada nem ninguém conseguiu até hoje acabar difinitivamente com a importancia das "Familias" na sociedade, e de politicos a simples e anonimos italianos, até mesmo no interior do Vaticano, tudo tem um pouco o dedo da "Mafia" infiltrado.

A importancia do nucleo central da familia na vida social é derminante, e os codigos de honra ainda hoje fazem decidir muito da realidade italiana actual, e das familias de ascendencia italiana no exterior.
A Italia é o País da Europa onde os filhos % mais tarde saiem da casa dos pais, isso demonstra a importancia da familia como centro aglutinador social.
Por outro laado em algumas regiões continua a imperar a tradição de que o filho mais velho tem que um dia tomar conta dos negocios da familia, nem que para isso tenha que largar toda a sua vida profissional do momento.
Por outro lado os italianos da provincia gostam muito de um dia retornar à sua terra natal, e ali acabarem em paz os seus dias, é uma questão de tradição, tal como é uma tradição a questão do codigo de silencio "omerta" e o facto de para se celebrar um acordo valer mais a palavra dada do que mil assinaturas, no entanto se alguém falhar o acordo, fiquem certos de que mais dia menos dia vai correr sangue para se fazer justiça. No entanto existe uma profunda lealdade no aviso de que se vai fazer e justiça, pois um Italiano avisa sempre que vai fazer justiça, existe mesmo a tradição de enviar ao condenado ou infractor uma encomenda contendo um peixe podre enrrolado numas folhas de papel de jornal. Quem recebe esta encomenda fica a saber que esta encomendada justiça para a sua pessoa e inclusivamente a sua mais do que provável morte. Quando ou como vai acontecer, essa resolução, não se sabe, mas que a justiça vai ocorrer isso é certo.
O querer, a vontade de vencer custe o que custar, tem feito do povo Italiano por um lado um martir, mas por outro um povo que joga tudo na sua vida para ganhar sempre, para ser um vencedor, e este lema foi-me transmitido pela minha mãe e também pelo meu avó, que nos seus ensinamentos me deixaram maximas que até hoje não esqueço:

"Luta sempre para ganhar. Luta sempre para seres o primeiro em tudo o que faças na vida, se fores o segundo dá os parabens ao primeiro, porque foi melhor do que tu, e merece ser aplaudido, porque devemos saber ganhar e perder na vida, mas fica certo de que foste o primeiro dos vencidos, o primeiro dos ultimos"

"Nunca tentes a perfeição porque ela não existe, é uma utopia, mas tenta ser o mais perfeito e organizado possivel, em tudo o que fizeres na tua vida"

"Lembra-te sempre que a familia é o centro de tudo, a familia esta sempre primeiro do que tudo. Se decidires algum dia romper com a familia, sabe que vais ser excomungado por essa decisão. Mas constroi outra tão ou mais forte do que a que destruiste, ou perdes-te, mas nunca vivas sem fazeres parte de uma familia. Se ficares isolado até os lobos, durante o dia, te podem comer"

"Escolhe os amigos com cuidado e com lealdade, mas nunca perdoes a traição de alguém que se te dizia teu amigo"

"Procura ter os amigos perto, mas mais perto ainda os inimigos para os poderes vigiar e controlar"

"Todos os anos, efectua uma avaliação daqueles que merecem continuar a acompanhar-te na jornada da vida, e não tenhas qualquer pudor em cortar relações com quem não merece a tua confiança pessoal. Separa os amigos em dois grupos: os com (A) maisculo, que são aqueles por quem deves dar a vida se necessário for, porque eles por certo farão o mesmo por ti. E os outros com (a) minusculo, que não são mais do que conhecidos, e que nunca te podem ser leais na vida, e não merecem que percas muito tempo e recursos"

"Nunca te percas em pormenores na vida, pensa sempre no global, e sempre que te pensarem derrotado, respira fundo, dá um passo atrás para depois no primeiro momento oportuno dares dois passos em frente e venceres com coragem e caracter"

"Nunca percas o teu caracter, a tua personalidade, a tua maneira de ser. Muitos vão tentar ao longo da vida moldar-te aos seus gostos, mas tu para o mal ou para o bem deves sempre, mas sempre, seres tu próprio, e não outra pessoa em que te queiram construir"

"Nunca deixes de fazer justiça, custe o que custar. Na primeira oportunidade vinga o que ficou por resolver antes, e não tenhas medo nem vergonha de seres vingativo, pois sempre que não fizeres justiça o inimigo vai chegar-se a ti, mais forte do que antes e pode atentar contra a tua segurança. Assim que puderes liquida-o como se de uma "cobra" se trata-se, não podes ter piedade ou contemplações, pois a piedade é um braço escondido do medo e da derrota, e não podemos ter medo de nada nem de ninguem"

"Nunca faças nada de cabeça quente, pára uns minutos, pensa, e hage de acordo com o teu raciocinio frio e calculista. Mas procura nunca ser oportunista ou injusto, pois não existem piores defeitos na vida do que a injustiça e o oportunismo"

"Não tenhas piedade de quem te fez mal. Observa todos aqueles que tiveram piedade de alguém, e verás que todos vieram a ser abatidos pelo inimigo por quem tiveram um dia o dom de absolver. Mas faz justiça digna dos homens de caracter, e nunca te esqueças de que quem com fero mata com ferro morre, por isso se tiveres de matar, na hora de matar nunca falhes"

"Nunca tentes fazer algo apressadamente, para não te arrepender mais tarde de ter feito mal. Não te esqueças de que devagar se vai ao longe"

A minha mãe dizia-se Catolica não praticante, mas eu desde tenra idade que me assumi como Ateu, mas se observar tudo quanto me foi dizendo ao longo da vida, bem como o pouco ou muito que o meu avó me transmitiu em termos de ensinamentos, quando eu era ainda criança, fico sempre com duvidas sobre a cristandade dela. Acho que era mais uma pessoa justa na medida certa, e que pecava muitas vezes por ter medo de aplicar a justiça.
Em relação a ele sei que era Republicano dos sete costados, e está escrito na história que Republicanos e pessoal da batina e da biblia debaixo do braço nunca se deram lá muito bem. Por isso em relação a ele fica tudo esclarecido, era um homem justo, rigoroso, bondoso, não caritativo mas amigo de ajudar aqueles que mais necessitavam, e procurava sempre ensinar a pescar e não a dar o peixe directamente, pois dizia que: "... quem vai dando peixes, e não ensina a pescar, um dia não vai ter mais peixes para dar, ou comer, e aquele que os recebe não vai nunca mais aprender a pescar, vamos assim acabar os dois por morrer à fome, eu por não ter mais peixe e ele porque não os sabe apanhar"
Em relação a ela, nunca a vi ir a uma unica missa. Não sei se rezava, sei que era apreciadora do Padre Cruz, e em relação a Fatima e Maria, olhava como qualquer credulo da Igreja Catolica, para o assunto, mas sem andar a fazer viagens de fé ao "supermercado da Cova da Iria", e estava convicta de que Salazar e Cerejeira tinham aproveitado muito bem uma historia antiga, muito bem contada, para deixar os Portugueses a pensar noutros assuntos, que não os problemas concretos do Portugal dos anos 60 como por exemplo a Guerra Colonial, a Emigração para fugir à fome e miseria, a pobreza e analfabetismo do interior esquecido.

De Salazar e Cerejeira e dos anos 60 em Portugal, a decada do meu nascimento, muito existe para falar, mas o importante é analisar e verificar as raizes Italianas dos Massapina, em termos de País de origem e Regiões, e a importancia da origem da sua plena integração na sociedade Portuguesa daquele seculo, e as raizes que deixaram em Portugal e que hoje se estendem um pouco por todo o Mundo, sendo que eu próprio sou hoje um exemplo dessa expansão geografica, iniciada num dia do ano de 1862 no Porto de Genova.