segunda-feira, 14 de abril de 2008

XXXIV – OS CAMINHOS DE UM PREDADOR INTRANSIGENTE DE CAUSAS

“Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam.”
‘Platão’


Este profundo pensamento de Platão transmite uma imensa sabedoria e ao mesmo tempo moderação, pois a maioria das pessoas não tem realmente a noção de que tanto o auxilio como os; prejuízos pessoais são assim; obra simplesmente do intimo de nós mesmos, e olham para a política; fascinadas com as aparências, sem, no entanto, terem a noção exata da realidade da vivencia interior de um mundo criado para habitat de autênticos predadores.
Muitos dizem odiar a política e os políticos de um modo simplista sem conseguirem entender o muito que está harmonizado no exercício da política. E digo eu mesmo que não é necessário ser nenhum sábio, tipo Platão, para conseguir entender que nós os homens, mesmo sem sermos ou exercermos a política ativa, somos a fonte de tudo o que é bom ou mau para nós próprios, e, portanto; não serve de nada fugir das responsabilidades, nem acusar ou culpar os outros de coisa alguma, pois nós votemos ou não, estamos na política, basta estar vivo para desde logo ser um político, ativo ou passivo, mas um político.
A minha entrada na política ativa no PPD/PSD, sem que eu próprio o tenha entendido desde logo, ocorreu no preciso instante em que me candidatei a Presidente da Comissão Política Concelhia do Barreiro da Juventude Social Democrata.
Com a minha candidatura eu estava a dar total razão ao pensamento de Robert Brault:
“Aprecie as pequenas coisas, pois um dia você pode olhar para trás e perceber que elas eram as grandes coisas.”
Para mim, naquele instante, aquela simples candidatura era uma pequena coisa, no entanto para os membros do PPD/PSD era algo muito grande, demasiado grande para o meu entendimento naquele momento. Eu era uma ameaça tremenda á sua hegemonia de anos seguidos de controle do poder local do Partido.
Sem ter a noção exata da importância da minha atitude, eu estava de certa forma a concordar com Frank A. Clark:
“Todos tentam realizar alguma coisa grande não percebendo que a vida é composta de pequenas coisas”
A certeza de que poderia mudar efetivamente algo na política local, com a minha candidatura, era uma mera conjuntura, formalizada com base no visível desconforto criado nas hostes partidárias.
Ninguém na política é anjo, e na vida todos somos imperfeitos, por vezes mesmo tragicamente desumanos, mas pensando e repensando, creio ser sempre o melhor da vida, o contrariar as estações da viagem do comboio da nossa vida, e seguir sempre em frente, defendendo as nossas convicções. Porque existem pequenos e grados fatos na nossa vida de que no final acabam por fazer a grande diferença entre; viver corretamente realizando as nossas convicções, ou levar uma vida de percalços e negações de nós próprios.
Na política foi isso que me aconteceu ao longo de cerca de duas décadas, mas para tal tive que me transformar num autentico predador intransigente na defesa de causas. E quando medito sobre a carreira, passando em revista todos os seus momentos, como num dos muitos filmes que de tempos em tempos surgem na minha mente, medito sobre a estrutura organizacional que criei a nível pessoal, os seus êxitos, problemas e obviamente desilusões, e, ao mesmo tempo; me vai surgindo á cabeça a luta que foi a minha vida para conseguir chegar até aqui, até ao homem que hoje sou, e que já vive fora da política ativa.
Os obstáculos que enfrentei por anos a fio e que; espero sempre tê-los já superado, só por querer ser, sobretudo justo, independente e leal, sobretudo; comigo próprio. Tudo isto e muito mais são cenas de uma; longa-metragem mental que se vislumbra aos meus olhos com um epílogo vitorioso, porque devido em grande medida á minha frontalidade e irreverência nunca me esquivei de a meu; jeito dizer e fazer cumprir as minhas regras de vida pré-estabelecidas.
Confesso que também tenha começado a sofrer por antecipação a certeza de que a breve tempo e sem perder a minha integridade eu me sentiria um vencedor.
Um dia uma colega minha de trabalho no Ministério da Saúde, em Lisboa, a Paula Leitão, perguntou-me porque estava na política ativa, porque aceitava expor-me daquela maneira, dar a cara, e o que realmente poderia ser-me retribuído pela política, e eu respondi-lhe com aquelas mesmas palavras sabias de Platão, dizendo-lhe ainda que não admitia ser governado, simplesmente comandado por aqueles que gostam de política. Claro que ela ficou a meditar nas palavras de Platão e também nas minhas, e nunca mais voltou a questionar-me, porque obviamente deve ter chegado, tal como eu, á conclusão de que Platão tinha toda a razão, e ainda a tem totalmente nos dias de hoje.
Quanto ao que podemos auferir, a resposta esta também subentendida nas palavras de Platão, pois ao não se deixar governar ganhamos sem duvida muita liberdade, algo que não tem qualquer preço, mas que tem um valor morar sem capacidade de ser avaliado.
O mesmo se passava no PPD/PSD daqueles saudosos anos 80 já do século passado, onde a escolha era tentar mudar algo na sociedade ou ser governado pelo projeto político pessoal do Francisco Mendes Costa. Eu optei por ajudar de forma efetiva a tentar essa mudança.
Desde logo ficou bem patente, para mim, que não iria ser nada fácil criar um processo civilizacional tanto na oposição como na chamada maioria. A vivência partidária daquela época não era nada fácil e estava claramente alicerçada na hipocrisia, na arrogância e mesmo na prepotência.
Nunca poderei esquecer o dia em que numa reunião da Comissão Política Concelhia do Barreiro, o Francisco Mendes Costa, do topo da mesa de reuniões, confrontado com a opinião diversa e frontal de um, outro membro, e com o intensificar da discussão se levantou e o ameaçou com um tiro.
Assim mesmo:
“Eu não tenho medo de si e estou farto de si nestas reuniões, se não muda eu mudo-o, e dou-lhe um tiro...”
Era o cumulo da prepotência, era o levar ao extremo a idéia do poder total, sem discussão.
Era para o lado da maioria uma cultura de intrujice, utilizada normalmente por todos os detentores do efêmero poder, mas por aqueles que se julgam eternos e confundem esperteza com inteligência e procuram burilar todas as leis e regras, e dessa forma desmoralizar os que pensam e agem de modo diverso do seu.
Embora o Partido tivesse um programa, uns estatutos e regulamentos, a arrogância produzia como que novos regulamentos criados á medida das idéias e necessidades daquele grupo de claros oportunistas do situacionismo de deterem no momento o poder.
Não posso esquecer que a opinião publica se desiludiu, com aquele tipo de representações publicas, e o Partido não crescia localmente tanto a nível interno como externo. Muito embora anos mais tarde se tenha conseguido uma vitória eleitoral no Distrito de Setúbal, no caso concreto do Barreiro, os malefícios criados ao longo dos anos, e sempre pelas mesmas figuras, não permitiam uma alteração considerável no poder local em termos de resultados. Criei então na minha mente um ideal de modernização e socialização da chamada oposição interna.
No entanto naquela época, como conseguir fundir tantas mínimas linhas de pensamento existentes; por um lado existia Oliveira Soares, para quem o objetivo máximo era a concretização das suas ambições pessoais, por outro lado Adolfo Vitorino que via o Francisco Mendes Costa como a razão principal de todos os problemas políticos locais, chegando a criar um decálogo do Francisco... um grande macacão, de que até hoje guardo religiosamente o original,e que versa assim, ao longo dos seus 10 pontos:

1º - É intriguista...
... especialidade do bicho.
2º - conta por ouvir dizer...
... mas afirma não acreditar.
3º - insinua-se facilmente...
... fala ao coração do interlocutor.
4º - É mentiroso por natureza...
... mas desculpa-se dizendo que é política.
5º - Faz sempre figura de inocente...
... para mais facilmente culpar os outros.
6º - É choramingas...
... canta frequentemente a canção do ceguinho.
7º - É gastador...
... principalmente se o dinheiro não lhe custou a ganhar.
8º - Eu, eu e eu; posso, consigo e sei...
... conjuga sempre o presente do indicativo dos 3 verbos na primeira pessoa do singular.
9º - Faz planos maquiavelicamente a curto, médio e longo prazo...
... e todos os métodos lhe servem para atingir os seus objetivos.
10º - Tem a manhã da raposa...
... mas ataca como um felino.

O decálogo tinha ainda uma importante chamada de atenção:

“Por favor, tenha você sempre em mente este decálogo e quando ‘alguém’ vier com ‘bocas’ puxe por estas verdades, cite o artigo em questão e ponha um ponto final na conversa”.

Era assim um ódio visceral que passava muito para além da política.
Estes reduzidos grupos; agrupavam no seu seio uma oposição sazonal, que só surgia e se manifestava quando se realizavam Assembléias Concelhias do Partido, e que produziam criticas sem acompanhar a atividade política diária na sede ou mesmo muito raramente compareciam a assistir a Assembléias de Freguesia ou Municipais, ou mesmo a Sessões Publicas da Câmara, para assim poderem criticar a atuação dos autarcas do partido, todos, sem exceção, afetos á maioria que comandava os destinos do Partido no Concelho.
Somando todos os integrantes da oposição, eu tinha a sensação de estar em presença de um pequeno grupo de “arruaceiros”, mal armados e organizados tipo; “maltrapilhos” e preparados como “soldados” que faziam uma guerra de emboscadas, tipo guerrilha, mas em que cada um dava tiros para onde lhe apetecia. Do outro lado estava um exercito numeroso, bem experimentado e razoavelmente preparado e equipado, mas nada que não se conseguisse na minha mente poder vir a ser derrotado a médio prazo.
Desde logo percebi que seria possível derrotar esse experimentado “exercito” desde que se conjugassem uma serie de condicionantes e fatores que obviamente obrigavam a muito trabalho, astúcia e inteligência, e claro; uma, certa, e determinada paciência temporal, porque “Roma e Pavia não se fizeram num dia...”, e ainda um pouco de sacrifício.
Ao principio foi bem difícil tentar convencer aquelas “cabecinhas pensadoras empedernidas” de que com a sua estratégia jamais conseguiriam mudar o Partido e a sua direção local, simplesmente porque não tinham qualquer estratégia.
Recordo ainda uma acalorada reunião em casa do Engenheiro Vilela, em Vila Chã, em que eu tentei por todos os meios argumentar por uma solução sem qualquer efeito, tendo inclusivamente abandonado a reunião, pois verifiquei estar a ser uma perda de tempo pessoal continuar a escutar certas “pataculadas”. Partindo para mais uma Assembléia eleitoral, e com os seus métodos, mais uma vez foram massacrados.
Já antes disso, numa reunião que verifiquei inconseqüente, em casa do Adolfo Vitorino, eu decidi passar a noite a beber uns drinques do seu bar, ao invés de perder tempo com idéias descabidas, que apenas serviam para ocupar tempo.
Foram assim necessárias muitas cabeçadas e muita discussão, e acima de tudo muitas conversas individuais para ir mudando a mentalidade de cada um dos “empedernidos”.
Depois de contar os “soldados” era visível que a diferença era enorme, pois para cada 1 (um) militante da oposição podíamos contar com 4 (quatro) do lado da maioria, e muito pior do que isso era o fato de que aqueles grupozinhos não conseguiam juntar novos militantes para a causa, antes pelo contrario, alguns que se deixavam seduzir por promessas de negocio ou variadas vezes por serem pessoas com pouco caráter que como foi o caso do casal Vinagre, tanto jogavam de um lado como do outro, segundo as suas conveniências e as da sua esposa, e perante isto nada a fazer, só ser inflexível de que quando mudavam, deixar bem claro que o destino da escolha era definitivo e sem retorno.
Eu sempre entendi que mais vale poucos militantes, mas bons e leais, a um grupelho imenso de gente interesseira e sem caráter, que apenas se anexa por momentos, atendendo a cada circunstancia da época.
Se realmente no meu ideal de mudança queria votos, só tinha uma solução, tinha que ser a JSD que teria de ir trabalhar e construir, ou seja; arranjar esses preciosos votos, e assim decidi fazer, e ao mesmo tempo, que; fortalecia a JSD, crescíamos também no interior do Partido.
O primeiro verdadeiro teste á nossa capacidade de mobilização foram as eleições para Delegados á Assembléia Distrital Partido. Até a esse momento a maioria conseguia eleger quase a totalidade dos Delegados, deixando um simples Delegado na melhor das hipóteses para a oposição, isto quando se conseguia formar uma lista alternativa candidata. A partir daí tudo mudou, e desde essa eleição tiveram que passar a contar com a nossa presença e correspondente votação. Elegemos 2 Delegados do total de 5, tiveram assim que repartir a representatividade, e só ganharam por uma diferença de pouco mais de uma dúzia de votos, para a lista por mim encabeçada.
Nesse dia para além do aviso dos 3 delegados a 2 delegados, e do nosso claro aumento de votação tinham caído no pior dos erros em tudo na vida e também na política, o excesso de confiança.
Foi um susto!
Um susto bem grande e que nunca mais esqueceram.
O mais grave desse dia foi o fato de que Francisco Mendes Costa se candidatava daí a uma semana para a Presidência da Distrital de Setúbal e perdia assim a larga maioria de votos no seu próprio Concelho.
Sem contar ainda que, por via da JSD Distrital, nós do Barreiro contávamos ainda com mais 3 votos por inerência, o que acabava por nos dar a vitória em termos de total, por 5 a 3, a nível de Barreiro.
E na verdade, devido ao nosso empenho, essas eleições para a Comissão Política Distrital de Setúbal do PPD/PSD, foram a nossa primeira grande vitória, e também um primeiro objetivo cumprido.
A minha estratégia de mudança passava também pela Distrital de Setúbal, eu via o poder da estratégia do grupo de Mendes Costa como um polvo, cheio de tentáculos, e só seria possível deteriorar o se poderio, acabando um a um com os seus tentáculos, ou seja; se aquele grupo fosse perdendo poder a nível Distrital, diretamente perderia força a nível Concelhio, e como tal, se nós tivéssemos alguma, por pouca que fosse, influencia Distrital, o peso e influencia deixaria de estar diretamente nas mãos deles, e, portanto; de um só lado dos pratos da balança, possibilitando uma repartição do poder mais equilibrada.
Assim, nas eleições para a Distrital, apostamos todas as nossas fichas no jogo da candidatura de Joaquim Eduardo Gomes, e a nossa influencia acabou mesmo por ser decisiva na hora da contagem de votos, pois as forças estavam tão divididas, que nós com os simples 5 votos podíamos e pudemos mudar muito o resultado final dessas eleições. Fomos nós; com a transferência de votos que acabamos por dar a vitória a Joaquim Eduardo Gomes, e a derrota para Francisco Mendes Costa, por uma diferença de 9 votos.
É muito fácil de ver que se esses nossos 5 votos tivessem ido parar na candidatura contraria, de Francisco Mendes Costa teria tido mais 5 votos e com a retirada desses votos na outra candidatura, ele teria conseguido ganhar por 1 (um) voto, um simples voto.
Nunca mais desde esse dia, eu voltei a ser olhado da mesma forma pelo grupo da maioria no Barreiro, e se até ai eu era uma ameaça, agora era mesmo um pesadelo, considerado como o “carrasco”, o responsável pela derrota Distrital.
Esta vitória distrital resultou desde logo num custo pessoal para mim, pois nas Eleições Autárquicas que se seguiram, como pura vingança fui banido das listas candidatas, muito embora fosse o Presidente da JSD Concelhia, tendo no entanto negociado vários nomes para as listas, e acabado por ser candidato no local mais difícil para o Partido no Alentejo, naquela época, em Santa Susana, próximo da Barragem do Pego do Altar, o que para mim foi um orgulho enorme, e imagine-se que até acabei por ser eleito, no entanto renunciei ao mandato para que um natural da terra exercesse em pleno o seu mandato na Assembléia de Freguesia.
O próximo passo da criação de um espaço próprio e com liderança da oposição, era tentar que Francisco Mendes Costa, perde-se ainda mais espaço de influencia, e como tal a sua posição como; Deputado na Assembléia da Republica, nas eleições legislativas seguintes.
A sua posição como; Deputado da Nação era naquela época um veiculo direto para o clientelismo, a abertura a muitas influencias e prestigio em termos de imagem pessoal, o que acarretava diretamente também a algum poderio do seu grupo no Concelho.
Assim, como membro da JSD Distrital, eu tinha acento e direito de voto, como Vogal na Comissão Política Distrital do Partido. Movimentei assim todas as minhas influencias distritais para captar votos no sentido de afastar Francisco Mendes Costa dos lugares elegíveis da lista candidata. Consegui alguns votos preciosos no Sul do Distrito, inclusivamente de elementos com que á partida ele pensava contar como, por exemplo; o Rubio de Grandola, e em troca apoiei a candidatura do Professor Costa, ao mesmo tempo, que; também obtive a garantia de votos de Setúbal, que não queriam mais apoiar o doutor Fernando Cardoso Ferreira na lista de deputados, e claro em troca apoiei o candidato alternativo.
Aqui o trabalho para obter votos contrários foi ainda mais encrencado, pois obrigou a trabalhar-se uma verdadeira campanha na comunicação social, na tentativa de queimar o Fernando Cardoso Ferreira, em Lisboa, onde tinha fortes influencias na época, nomeadamente no interior do grupo de Fernando Nogueira.
Após a votação bem negativa que obteve o Fernando Cardoso Ferreira na reunião Distrital, foi lançado o movimento na comunicação social de que não tinha apoio das estruturas concelhias e distritais para continuar como Deputado. Só mesmo o fato de ser um declarado adepto de Fernando Nogueira, o acabou por salvar, mas já nada nem ninguém o conseguiu salvar da vergonha publica da votação que o colocava mesmo fora da lista de elegíveis, e claro da sua imagem negativa na comunicação social.
No dia da votação também Francisco Mendes Costa foi parar a um 12º lugar em 16 possíveis, o que o colocava diretamente fora dos elegíveis. No caso dele foi o fim da carreira parlamentar a escassos 6 meses de poder ascender a uma reforma parlamentar.
Eu não tinha esquecido, eu nunca esqueço por toda a minha vida, a vingança das eleições autárquicas e a situação de; mesmo enquanto Presidente da Concelhia do Barreiro da JSD, ter sido banido das listas. Assim de um simples tiro resolvi 2 situações; a minha vingança política pessoal, e ao mesmo tempo o corte de mais um tentáculo do imenso polvo que aquele grupo tinha andado a construir ao longo de anos e anos de trabalho pessoal do Francisco Mendes costa, na realidade o grande mentor de toda aquela estratégia de poder interno.
Agora a luta era local. E só ai se tinha que jogar com total inteligência e astúcia, para possibilitar a criação dos alicerces para uma vitória no Barreiro a médio prazo.
Estávamos a pouco e pouco a conseguir entrar no eleitorado da maioria, e a diminuir a diferença para 1 militante para 2 militantes, no entanto eu sentia que era necessário um golpe de asa para diminuir ainda mais essa diferença, e eu acabei por imaginar essa solução.
Por um lado verifiquei que os militantes estavam mais esclarecidos e também começavam a ficar conscientes da necessidade de uma mudança interna, o problema era que não se podia mudar de um dia para o outro, eles não estavam preparados para um choque tão grande e rápido.
Facilmente consegui constatar que Francisco Mendes Costa ao verificar a sua cada vez menor influencia a nível local e, sobretudo; distrital, por certo iria querer voltar a ter projeção e capacidade de liderança. No entanto de tudo quanto poderia ambicionar somente a Comissão Política Concelhia do Barreiro do Partido estava naquele momento ao seu alcance, e á medida das suas capacidades eleitorais do momento. No entanto era visível que ele ambicionava por mais poder e mais influencia, e para isso necessitava de alargar a sua capacidade eleitoral interna, o que só seria possível entrando no espaço eleitoral da oposição.
Era uma estratégia muito similar á nossa, ou seja; nós queríamos ser maioria e para isso necessitávamos diretamente do seu eleitorado, ele queria ter mais poder e para isso necessitava de mais votos.
Só uma transferência de votos poderia dar a um ou a outro lado, o que cada um ambicionava, e eu sabia que naquele momento ainda não tinha capacidade de entrar vitoriosamente no seu eleitorado.
Chamei a esta estratégia, o “Beijo Mortal”, e assim iniciei conversas com o próprio Francisco Mendes Costa, que se realizavam somente longe dos olhares matreiros do Barreiro, mas por outro lado sempre em local público, nas esplanadas da Rua Augusta em Lisboa, no horário do almoço e algumas vezes também ao fim da tarde.
Foi sendo costurada e cozinhada nesses encontros a lista candidata á Concelhia do Barreiro do PPD/PSD, e curiosamente até hoje, a última Comissão Política Concelhia presidida por Francisco Mendes Costa.
Ele estava tão aberto a novas propostas que inclusivamente aceitava a minha indicação de nomes para compor a lista candidata, aceitando no seu interior a presença dos chamados opositores moderados.
Até parecia a chamada primavera marcelista, pós Salazar, e que acabou por levar Marcelo Caetano, até á derrocada no Convento do Carmo, no dia 25 de Abril de 1974.
Eu aceitei como muito boa aquela oportunidade de entrar diretamente no seu mundo, e assim poder conhecer mais aprofundadamente o seu funcionamento. Por outro lado era uma forma de mudar o sistema, estando dentro dele próprio. Era como poder entrar dentro do polvo e verificar, in-loco, quais os tentáculos que ainda estavam de pé, e aqueles que poderiam ser cortados a curto prazo, e aqueles que podiam ser danificados, para serem abatidos mais tarde.
No entanto de pouco serviu a minha argumentação, junto da oposição, a fim de entenderem quais os objetivos reais, pois eles continuavam numa estratégia isolamento, e sem real capacidade de combate, queriam manter a estratégia de combate inconseqüente que até aquele momento não tinha levado a lugar nenhum.
Para mim era mais do que obvio que naquele momento a oposição éramos nós, os novos militantes, e que; portanto, ao entrar para essa Comissão Política, e seguir a minha estratégia de desgaste interno, esta não iria ter praticamente nenhuma oposição, enquanto nós por lá estivéssemos, pois todos os militantes estavam já esclarecidos dos objetivos estratégicos do meu alegado sacrifício, em pertencer a uma Comissão Política com o Francisco Mendes Costa.
Mas mesmo assim, recordo que os grupozinhos ainda tentaram arrastar alguns jovens para a sua ingênua luta, é claro que é precisamente nessa época que nasce a animosidade com Bruno Vitorino, que sempre comandado pelas “idiotices” do pai tentava recrutar, sem efeito, votos no interior da JSD da época.
Eu levei a estratégia até ás ultimas conseqüências, e integrei 2 elementos da minha máxima confiança pessoal na Comissão Política.
O objetivo era muito claro, mostrar aos militantes da maioria, que nós, vindos da área da oposição, não éramos nenhuns bichos e que podiam também confiar em nós para gerir o partido. Por outro lado foi assim possível conhecer por dentro a própria “carroça do poder” e como estava compartimentada e o seu modo de funcionamento a nível geral.
Tinha ainda a vantagem de; alargar mais a nossa influencia a nível local, com um maior conhecimento dos assuntos autárquicos, uma vez que os Autarcas eram praticamente todos da área da maioria, salvo muito raras exceções, e essas eram na época da JSD, e estavam dentro das contrapartidas que me tinham dado, a quando do meu afastamento das listas autárquicas, como, por exemplo; o Carlos Vitorino na Assembléia Municipal, e felizmente que o Carlos não emprenhava pelos ouvidos, e estava longe do domínio do pai, Adolfo.
Foi sempre algo que admirei e respeitei até hoje no Carlos Vitorino, a sua independência, e capacidade de pensar e agir pela sua própria cabeça.
Era também importante o fato de alguns elementos, da chamada maioria, terem começado a ver e pensar por uma ótica diferente, e assim um Navalho, Bencatel, Gorjão, Bernardino, Pineza, Pinto Ferreira e Carlos Couto, dentro da própria Comissão Política, passaram a até apoiar e votar de outro modo algumas propostas minhas.
A minha entrada provocou, no entanto; algumas rupturas com o próprio Francisco Mendes Costa, e, por exemplo, o seu relacionamento com João Monteiro, aparentemente, ficou afetado e acho até que nunca mais se recompôs como era anteriormente, um relacionamento de total e mutua confiança.
Posso garantir com toda a certeza de que tanto eu como os outros 2 elementos, desempenhamos nesta Comissão Política um mandato com a máxima dedicação e lealdade possível, e que quando chegou o momento de sair para; lançar um novo projeto político concelhio, fui totalmente leal e frontal com o Francisco Mendes Costa. Nada, nem absolutamente ninguém me pode acusar de deslealdade pessoal ou política nesse aspeto.
No entanto nesses momentos, eu sigo a máxima da canção de Paulo Pontes, Zé Kéti e de Oduvaldo Vianna Filho, ‘Opinião’:
“Podem me prender;
Podem me bater;
Podem até deixar-me sem comer;
Que eu não mudo de opinião!”
Nessa altura já o meu trabalho e o dos restantes elementos tinha surtido totalmente o efeito desejado. Por outro lado já muitos elementos da Comissão Política estavam do lado contrario, como, por exemplo, o Pineza, Engº Pinto Ferreira e o Carlos Couto, entre outros. E também muitos militantes tinham mudado o seu sentido de ver a situação, e obviamente também o seu sentido de voto.
Agora era chegada a hora de voltar a ter uma conversa com os lideres dos grupozinhos de oposição, e saber se queriam entrar numa nova estratégia, esta sim uma estratégia de vitória imediata, pois para mim era chegada finalmente a hora do tal golpe de asa.
Eu não confiava totalmente nesses elementos, e como tal nunca poderia ir mostrar a estratégia na sua totalidade. Mas pude mostrar grande parte do jogo, pois também sabia que eles não tinham outra alternativa, ou apostavam nesta proposta ou ficavam como o 3º grupo a navegar á deriva, como até ali.
Hoje sei que nunca os deveria ter convidado para integrar a estratégia, deveria ter seguido com os meus quadros, os meus militantes, até alcançar a vitória e seguir toda a estratégia de mudança da imagem do Partido, mas nessa época ninguém podia adivinhar que aqueles indivíduos, não fossem mais do que Mendes Costa’s em ponto pequeno, e que em troca de um prato de “lentilhas” vendem a alma ao criador...
Desde aquela tarde da vitória, por um voto na JSD, até ali, tinham passado mais de 6 anos. Seis longos e cansativos anos; de muita luta, trabalho e estratégia. Agora era apostar para ganhar, ou então abandonar tudo, era como entrar no casino com um saco de dinheiro sabendo que a intuição dava a parada da roleta no 19 vermelho, e colocar todo o dinheiro no 19 vermelho. Ao apostar, ou se ganha tudo, ou se perde tudo, muitas vezes tem que ser esse o jogo da vida, e na política passa-se um pouco assim.
Acabaram aceitando e dando razão á minha estratégia inicial, e tinha eu na minha mente que a grande possibilidade de alcançar uma vitória imediata, passava por se apresentar uma candidatura liderada por um candidato diferente, alguém que não fosse ainda conotado com os grupos em presença, e a única pessoa eqüidistante e que sem duvida me dava as mínimas garantias de unificar a JSD naquele momento de certa forma dividida, com uns 65% para mim e uns 35% para o lado contrario, e inclusivamente poder ir buscar alguns votos no próprio partido nomeadamente na maioria, era sem duvida um professor de filosofia, o Eduardo Calisto, um natural da Guiné-Bissau, que dizia ter alguma experiência política, no entanto voltada para a realidade africana, como representante em Portugal do PCD – Partido da Convergência Democrática, um partido de oposição a Nino Vieira na Guiné-Bissau.
No primeiro momento foi bem visível que muita gente se mostrou céptica e muito reservada á minha idéia, sobre o nome, e, sobretudo; pela razão de raça, uma vez que o Calisto é negro, e daqueles negros retintos, como se costuma dizer.
Por outro lado a razão do ceticismo prendia-se com a minha proposta segundo eles, ser demasiado ousada, nunca se vira um Presidente Negro no Partido, e ainda mais no Barreiro.
Na verdade o PPD/PSD dessa época eu o sentia como um partido de certa forma racista, e por incrível que possa parecer fui eu que fui integrando a pouco e pouco outras raças no seu interior, e depois do famoso Neno guarda redes do Benfica, apareceram o Adélio, o Calisto, o Nandinho, e depois foi a abertura total, para a situação que se vive hoje.
Mas depois de conhecerem o Eduardo Calisto pessoalmente, acabaram por aceitar, e assim se constituiu um grupo de trabalho do qual o Oliveira Soares, como que se auto-excluiu numa primeira fase, para depois acabar por surgir e aderir, mas; apenas para fazer figura de corpo presente, assim como para não perder o comboio caso o mesmo realmente fosse o comboio da vitória. Eu entendi isso desde o inicio, mas deixei um compartimento com a porta aberta na estação para acolher esses viajantes oportunistas.
A sede de candidatura acabou por funcionar no escritório do Doutor Joaquim Navalho, curiosamente situado na época a menos de 100 metros da casa do Francisco Mendes Costa, ali na chamada Rua Brás. Toda a campanha foi; desenvolvida, até ao mais ínfimo pormenor, tendo como único objetivo ganhar e mudar a postura do partido em relação ao Concelho e ao passado.
Eu já sonhava com o partido voltado para a rua, para a conquista de espaço na política local, pois tinha uma convicção inabalável que a vitória era algo já concretizado. Acho ate que por incrível, nunca acreditei tanto numa vitória antecipadamente, como naquela do Calisto, pois eu tinha apostado todas as minhas fichas nessa candidatura, e nunca na vida gosto de perder, sobretudo quando vou a jogo.
Lamentavelmente o candidato adversário era um dos homens mais honestos e íntegros que eu encontrei em toda a minha vida pessoal e política, o Engenheiro Nogueira Branco, que acabou por ser copiosamente derrotado, por uns; esmagadores e expressivos 68% de votos.
Ao mesmo tempo; o João Monteiro era também derrotado nas eleições para a Mesa da Assembléia Concelhia, pelo Álvaro Ferreira, e pela mesma margem de votos.
E pela primeira vez na historia da Concelhia do Barreiro, do PPD/PSD tinham votado bem mais de duzentos militantes, o que fez com que na eleição para Delegados á Assembléia Distrital, o desnível ainda fosse maior, e assim em 9 Delegados eles somente conseguiram eleger 3 contra a lista encabeçada; por mim próprio.
Foi uma noite grandiosa, e o destino do PPD/PSD do Barreiro jamais voltaria a ser traçado pela mesma régua e esquadro do passado.
As eleições autárquicas estavam á porta e com elas o ultimo passo do processo de renovação do partido que eu tinha idealizado ser possível. Ou seja; um projeto de tentar a médio prazo mudar todo o destino derrotista, e de pequeno partido a nível local do PPD/PSD, para um partido vencedor e que ambicionaria poder vir a ser poder no Concelho do Barreiro. Por outro lado anular toda uma estratégia situacionista a nível pessoal que tinha sido implantada por Francisco Mendes Costa.
Com a nossa vitória eleitoral na Comissão Política e em todos os órgãos concelhios, uma nova era se abria, e a passagem de oposição a liderança de forma alguma significaria para mim que devíamos cruzar os braços, e esquecer que o partido era uma luta constante, e que agora as responsabilidades além de serem diferentes eram bem maiores. Agora existia um programa para cumprir, uma oposição a ser feita a nível autárquico, responsabilidades acrescidas a nível local, distrital e nacional. Agora nós éramos os observados a cada instante por parte de todos os militantes e simpatizantes.
A facilidade não podia ser uma palavra a integrar no nosso vocabulário, muito pelo contrario, incursões preliminares convenceram-me que a motivação é a principal arma para se conseguir obter resultados positivos quando se esta em maioria, quando se é poder e se tem que o exercer de forma implacável.
Desta forma o poder de construção das listas candidatas estava politicamente nas; nossas mãos, e sem duvida nenhuma, em política mais do que em tudo na vida, quem tem o poder deve exercer o mesmo sob pena de o mesmo acabar por cair na rua.
E se eu entendo realmente o exercício do poder como algo para ser efetivamente exercido, não sou também daqueles que aceitam ou apóiam a chamada caça ás bruxas ou aos judeus como aconteceu num tempo pós-constantino, tão cheio de crueldade como no Egipto dos idos 1.300 a.c., ou na nossa Ibéria de 1.500 d.c., com a Inquisição, ou mesmo mais recentemente com o regime nazi-fascista de Hitler, no entanto naquela época do PPD/PSD do Barreiro, duas personagens estavam para mim totalmente banidas no meu ideal de constituição de listas candidatas, e caso alguém ousa-se tentar a sua inclusão teria sido uma decisão do tipo ou eles ou eu, eram o João Monteiro e o Fernando Cruz, e obviamente pelas mesmas razões que se prendiam com o passado recente.
Eu como bom Ateu, não sou individuo que quando leva uma bofetada numa face, oferece a outra, e desta forma, esta até hoje fora de questão a ressalva de situações desse tipo. Para mim existe a lei natural da vida e em muitas situações; amor com amor se paga!
Por outro lado, eu via de maneira geral, alguns personagens a levarem a efeito ao longo do tempo, um relacionamento promiscuo com as diversas administrações do município.
Um relacionamento baseado no assistencialismo político, funcionando a dois tempos com a utilização do mandato nos primeiros três anos em que nada exigiam e politicamente de nada reclamavam, votando muitas vezes ao lado do poder estabelecido, ou abstendo-se de ter toda e qualquer opinião, não obstaculizando quantas vezes medidas injustas ou que iam mesmo contra as diretrizes do partido, nomeadamente nos orçamentos e planos municipais e em projetos verdadeiramente bárbaros para o Concelho e a sua população. Viviam apenas para manter o poder mais próximo de si, e reservavam para o ano final de mandato toda a voz de descontentamento, através da arte sagaz, irônica e irreverente como se os três anos anteriores não tivessem existido, continuando, no entanto; a receber os proventos de algumas nomeações anteriores, mas não deixavam de criticar ou protestar, mas de uma forma que infelizmente não podiam sequer ganhar o titulo de “bobos da corte”, pois; seria desrespeitoso para com os próprios “bobos”.
A história mostra-nos que os “bobos da corte”, serviram para divertir os monarcas, mas também serviram para ser a voz do povo, para assim com total liberdade criticarem as administrações reais, aqui no PPD/PSD do Barreiro, isso não acontecia, pois os ‘bobos’ após três anos de silencio reservavam um ultimo ano para a omissão dos principais problemas locais.
Este tipo de comportamento era já abordado como uma tradição estimulada pela chamada estratégia Mendes Costa, seu iniciador a que se seguiram todos os outros Vereadores do PPD/PSD, que passaram por esse lugar na Câmara Municipal do Barreiro, e sem qualquer exceção, e o mais grave é que essa situação contraria as mais elementares leis de que uma oposição política se deve reger, que é ser verdadeiramente uma oposição responsável e exigente, sem deixar de ser oposição, e nunca passar a ser capa ou moleta do poder como continua a acontecer até aos dias de hoje.
Portanto, bem mais de três décadas após a instauração do poder democrático em Portugal, e mesmo assim o Partido ainda não conseguiu entender que esse não é o caminho a seguir se algum dia quer realmente ser poder no Concelho do Barreiro.
Eu tinha, e ainda tenho; uma perspectiva totalmente diferente. Achava, e ainda hoje continuo; a pensar da mesma forma, que quem ganha deve exercer o poder, e quem perde deve ficar na oposição, deve assumir esse seu papel integralmente, sem obstaculizar o que não deve ser obstaculizado, porque não vai contra o nosso programa eleitoral e político. Mas mantendo uma posição firme de oposição, consciente e consistente, regida com a devida publicidade publica da razão de ser de cada posição tomada, e esta posição deveria ser a norma a ser tomada em todos os órgãos autárquicos sem qualquer exceção.
Por outro lado entendia a importância de constituírem-se equipas idôneas. E uma equipa candidata á Câmara Municipal capaz de dirigir a Câmara nas suas mais diversas vertentes, tal como se fosse efetivamente eleita na sua totalidade.
Por essa razão me bati ferozmente pela constituição de uma equipa boa, e da mesma forma entendia que era fundamental ter; como candidato a Presidente da Câmara, um candidato idôneo, bem preparado tecnicamente e, sobretudo; conhecedor do Concelho do Barreiro e dos seus problemas e realidades, para ter a capacidade de apresentar as soluções certas para cada questão.
Eu tinha na minha cabeça esse candidato, e apesar de todos os avisos que me chegavam pelos diversos contatos de que seria impossível contar com ele, eu insisti e na companhia do meu bom amigo Helder Gabriel, partimos á abordagem do Arquiteto Eduardo Porfírio.
Tinham razão todos quantos me garantiram a sua indisponibilidade, mas só quem não me conhece bem não sabe que eu não desisto facilmente de conquistar um objetivo determinado na vida. Depois de muitas abordagens, e conversas, e de conseguir convencer o apoio de membros da Distrital se Setúbal para esta minha idéia, tal como o Presidente e na época Ministro da Educação, Engenheiro Fernando Couto dos Santos, do apoio do meu bom amigo, que na época era Eurodeputado, o Engenheiro Carlos Pimenta, que aceitou ser o apoiante publico numero um da candidatura, e do apoio de outros Ministros do Governo da época, chegando ao ponto de conseguir um contato com o próprio Presidente do Partido e Primeiro Ministro, Prof. Cavaco Silva, atual Presidente da Republica, numa interessante tarde passada em Sintra, ele acabou por dar o seu sim á candidatura numa reunião com o Secretario Geral á época doutor José Nunes Liberato, que acompanhou e tenho que o divulgar; apoiou como nenhum outro, toda esta minha luta, que no fundo era a luta do Partido por apresentar um bom candidato, e assim poder apresentar boas listas para as eleições autárquicas.
Era sem duvida um candidato de grande peso técnico e social, respeitado tanto pela esquerda como pela direita, do espectro político local, mas uma pessoa totalmente sem preparação política, pelo que foi necessário moldar toda a sua imagem e capacidade de presença, desde a simples imagem, postura técnica e uso da palavra, no fundo foi necessário construir e adaptar um técnico, para o moldar num político minimamente capaz de enfrentar os desafios que iria ter pela frente.
Foi ele que ao contrario de outros candidatos anteriores, teve liberdade para poder escolher toda a sua equipa, obviamente com a nossa concordância e aprovação dos diversos nomes propostos, seguindo também os nossos critérios de analise dos respectivos perfis, e para meu grande agrado pessoal aceitou opiniões e incluir nomes para mim fundamentais na constituição de uma boa lista de candidatos, como a doutora Ana Teresa Xavier, Manuel de Oliveira, Luis Engrossa, Professor Batista Pereira, entre outros, e acabou por aceitar até a meia imposição de incluir uma proposta de Adolfo Vitorino, relativa a Oliveira Soares, que eu muito sinceramente até ao dia de hoje, não consegui entender que tipo de mais valia pode trazer numa lista de candidatos á Câmara Municipal, mas que respeito em termos de personagem e ideal pessoal de sociedade, embora seja um ideal personalista e individualista baseado na sua imagem e pessoa, não o consigo rever como social democrata em termos ideológicos, e acho que hoje esta muito melhor no papel de Presidente dos Bombeiros, um cargo mais á sua altura como antes também estava mais á sua altura na direção do Clube de Ciclismo do Barreiro.
A lista de candidatos, no entanto; conseguia cobrir bem todas as áreas de atuação, e desta forma foi possível desenvolver um bom programa eleitoral, tão atual que grande parte dele poderia ainda hoje ser utilizado, pois se mantém atualizado, atendendo a que grande parte dos problemas estruturais e concretos do Concelho estão ainda por resolver nos dias de hoje, e outros existem que se agravaram com o passar do tempo.
A constituição da lista para a Assembléia Municipal acabou por ser a grande surpresa. Eu também tinha ai um nome em mente para a encabeçar, mas que acabou por recusar participar, talvez por algum receio pessoal de uma mudança tão brusca da esquerda para o centro direita. Assim o Engenheiro Álvaro Ribeiro Monteiro, muito embora tenha acompanhado pessoalmente todo o processo, acabou por não aceitar a liderança da lista, que lhe oferecia, uma vez que tinham aprovado o meu nome para ser o numero um como candidato a Presidente da Assembléia Municipal, e eu até hoje não entendi se o que o afastou realmente foi o fato de não querer retirar-me esse lugar, que no fundo eu próprio lhe oferecia, se a mudança radical em termos de; posicionamento político da esquerda para o centro/direita.
Então, face á recusa de Álvaro Monteiro, decidi mudar a minha estratégia, e falei com o Presidente da Distrital do Partido no sentido de que uma nova proposta fosse analisada, desta feita o convite seria para o Francisco Mendes Costa. Foi uma decisão cozinhada entre mim, o Arquiteto Porfírio, e mais uma meia dúzia de colaboradores diretos onde se incluía o meu amigo e eterno colaborador José Martins do Rosário, que me acompanhou em mais esta batalha política, como um dos meus braços direitos.
Esta decisão, de candidatar o Francisco Mendes Costa, para a Assembléia Municipal, foi uma posição tomada contra a vontade inicial de grande parte da Comissão Política Concelhia, e muito em especial do Adolfo Vitorino. E também da JSD, liderada á época pelo Bruno Vitorino, que nessa altura funcionava como um mero garoto de recados do pai, do tipo “Cachorrinho Perdigueiro” que ia farejando e contando as novidades, e do outro lado recebia as ordens para atuar, ‘mijando’ aqui ou ‘latindo’ ali.
Deve salientar-se que foi sem duvida o Presidente da Distrital, de Setúbal, o Engenheiro Fernando Couto dos Santos que; conseguiu convencer tanto o Mendes Costa como os oposicionistas, o que reconheço me deu um enorme prazer, assim como que uma retribuição mais pessoal que política, no convite e negociação para a minha participação na sua última presidência Concelhia. Naquela candidatura que afinal abriu caminho para todas as mudanças que se estavam a viver.
E se essa minha candidatura, ao lado de Francisco Mendes Costa, tinha sido uma surpresa digna de manchetes jornalistas na época, a situação atual de Mendes Costa, na Assembléia Municipal, despertou igual curiosidade e surpresa.
Eu apesar de toda a luta política interna sempre reconheci a importância e o enorme potencial de Francisco Mendes Costa no historial do PPD/PSD do Barreiro, e a sua própria importância no Concelho enquanto cidadão. Posso não concordar com alguns dos seus métodos, agora seria uma profunda injustiça e ingratidão, mesmo uma deselegância pessoal, deixar de reconhecer que é á sua maneira um bom manipulador e construtor de estratégias e profundo conhecedor da política e, sobretudo da legislação autárquica.
Lamento ter que hoje ser verdadeiro, e reconhecer publicamente que ele foi realmente; uma segunda escolha para liderar a lista para a Assembléia Municipal, pois eu tinha decidido não desgastar a minha imagem pessoal naquela época da minha vida, se fosse colocado á frente de uma lista ainda sem qualquer potencial vitorioso, e a primeira escolha, o Engenheiro Álvaro Ribeiro Monteiro, que tinha as mesmas características do Francisco Mendes Costa. No entanto com o grande beneficio de que o Álvaro Monteiro já tinha sido Presidente da Assembléia Municipal e ainda por cima conhecido pela esquerda, sabendo todos os meandros do funcionamento da casa, e da própria Câmara, seria um bom auxiliar para o Partido e para o Arquiteto Porfírio na Câmara. Por outro lado ele também já tinha sido Deputado da Nação, nos tempos inclusivamente da Constituinte, e, portanto; não deixava nada a dever a Mendes Costa nesse aspeto.
Também tinha um, outro, objetivo esta candidatura; eu imaginava que ele poderia entrar em determinado eleitorado da esquerda moderada, e dessa forma estancar algum crescimento do Partido Socialista que iria crescer á custa da transferência direta de votos da esquerda moderada. Era uma questão de Sociologia, pois com a sua candidatura o eleitor pensaria duas vezes antes de votar, e assumiria que se um homem de esquerda era candidato nas listas do PPD/PSD, algo estava já a mudar naquele Partido, e claro que a linha divisória entre a esquerda e a direita não é assim tão firme como muitos imaginam, olhem o exemplo da Helena Roseta e também da Zita Seabra, entre muitos outros como por exemplo o de Durão Barroso.
Portanto o meu pensamento esta nos votos que a esquerda moderada poderia depositar em nós, em vez de os; colocar no Partido Socialista, uma vez que o momento político nacional era terrivelmente difícil para nós, com a popularidade de Cavaco Silva em baixa, a atravessar um dos seus piores momentos governativos em termos de aceitação. Eu tinha a noção clara de que iríamos ter; muitas dificuldades para segurar algum eleitorado mais descontente, e normalmente flutuante, aquele eleitorado que vai dando sistematicamente a vitória umas vezes ao PS outras ao PPD/PSD a nível nacional. Para agravar tudo isto; ainda por cima estávamos a dois passos de Lisboa, e a influencia da “Picareta falante” Guterres, em plena ascenção política, iria sem duvida fazer-se sentir, isto para além de, a nível local também existir na época um adversário bem difícil chamado Aires de Carvalho, á época o líder do Partido Socialista, e um tremendo montador de estratégias.
Na verdade o saudoso Aires de Carvalho seguiu praticamente a minha linha de raciocínio de recuperação da imagem do Partido, e embora não tivesse a JSD para começar a construir a mudança, utilizou a pequena Secção do Lavradio do Partido Socialista para iniciar a construção, de tal forma que acabou por conquistar o Partido a nível do Concelho, retirando o Partido Socialista das ruas da amargura, e acabou por o levar, á presidência da câmara em meia dúzia de anos, pouco antes de falecer prematuramente.
O Partido Comunista encontrava-se com uma nítida perda de eleitorado, como não deixa de acontecer desde a revolução de Abril, e dos primeiros atos eleitorais, eleitorado que tem circulado diretamente para o PS e também para o Bloco de Esquerda, que nessa época era ainda um mero tijolo furado no Concelho do Barreiro. Nesses tempos o prestigio do Presidente da Câmara, Pedro Canário, mal ou bem ainda segurava algum eleitorado comunista, em virtude da recuperação financeira que tinha conseguido realizar ao longo do seu mandato, muito graças ao feliz momento das taxas de juro reduzidas nos diversos empréstimos que foram contraindo ao longo dos anos, e que tinham afogado o Município com compromissos avultados. Por outro lado graças também a muitos investimentos governamentais no Concelho, que fizeram girar um pouco a economia, e também a arrecadação de impostos municipais. Relembrar que nascem nesta época importantes obras como a melhoria da rede viária, novas instalações para os Transportes Coletivos, e o inicio da política social de habitação, entre outras iniciativas.
Talvez que nessa época só eu e Francisco Mendes Costa, e um pouco o Arquiteto Porfírio, e o núcleo duro da direção de campanha que me estava mais próximo, tivéssemos a real noção das dificuldades, e do quão difícil ia ser aquela batalha eleitoral para o PPD/PSD do Barreiro.
Mas nem só a batalha eleitoral com os adversários iria ser difícil para o PPD/PSD, tínhamos que contar também com; os próprios adversários internos, e por incrível que possa parecer, os adversários que estavam sentados ao nosso lado, na própria Comissão Política, que se insinuavam como tendo os mesmo objetivos, mas que estavam a jogar ao mesmo tempo em outros tabuleiros, e com objetivos muito diferentes.
A estratégia tinha sido montada de acordo com as necessidades do momento, partindo do principio de que o Partido como um todo, iria assim responder á chamada, e colaborar como uma verdadeira equipa numa hora tão importante.
Eu esperava tudo isso, ainda mais que nunca existiu tanta disponibilidade tanto financeira como de figuras vindas de fora do próprio partido para assumirem dar a cara por um projeto político diverso no Concelho.
No entanto; pode parecer estranho estar a comparar, neste momento, o passado do PPD/PSD com a realidade que se vivia nessa época, mas tenho que o fazer, pois não era novidade para ninguém que algo estava a começar a ficar errado em todo o projeto político e naquele processo. Lamentavelmente não existe nenhum termo de comparação plausível, nem com o passado, nem com a atualidade com o que realmente aconteceu.
Assim, e enquanto uma equipa preparava e levava a efeito toda uma estruturação das listas candidatas e da pré-campanha e a campanha política de rua, nas nossas costas dois alegados contra poderes defrontavam-se:
Por um lado o Adolfo Vitorino, que já tinha maquinado um projeto de poder familiar, a concretizar a médio prazo, e que está neste preciso momento em que escrevo estas linhas, a atingir já uma fase de acentuada queda. E por outro lado o Professor Eduardo Calisto, que como que levado nas ondas do poder, navegava nas nuvens, imaginando-se já quem sabe; Diretor, Adjunto, Secretário de Estado, eu sei lá o que poderia passar por aquela enevoada cabeça, naqueles momentos, e tudo isso desde o dia em que foi chamado ao Gabinete do Presidente da Distrital, lá no Ministério da Educação no Palácio das Laranjeiras. Assim desde esse dia, o Eduardo Calisto passou a morar nas nuvens e a imaginar-se tal como um extraterrestre, a tal ponto que só faltava planar, pois falava nisto e naquilo, porque o Sr. Ministro dizia, porque o Sr. Ministro fazia e acontecia, etc..., esquecendo-se de que quem ainda mandava no Concelho era a Comissão Política no seu todo e os militantes, e que ali Ministro nenhum manda, ou tem poder.
Para mim, que nunca reverencio ninguém, nem o Primeiro Ministro ou o Presidente da Republica, era muito estranha esta postura de subalterno, uma postura que eu de todo desconhecia no Eduardo Calisto, aquele homem que eu mesmo tinha convidado para entrar naquele projeto político e social.
A sua imaginação voava de tal forma, que até se esquecia dos compromissos assumidos em reuniões da Comissão Política e da Comissão Técnica Eleitoral.
Assim, foi muito fácil começar a entrar em choque comigo, que assumo até ás ultimas conseqüências os compromissos assumidos. Por outro lado o Adolfo Vitorino entrou em choque pessoal com ele, e conseguiu mesmo colocar-me no meio das contendas. Umas vezes eu nem sabia o que se estava a passar, pois eram assuntos tratados em exclusivo entre eles, e em outras; tornavam-se por vezes ridículas as situações, pois que se tratava de assuntos que se tinham acabado de discutir e aprovar em termos de decisões a tomar ou; posições a assumir, e logo em seguida surgiam as duvidas e o embate ideológico e pessoal.
A minha paciência, no meio daquela guerrilha, foi ficando; saturada com tantas ocorrências, muitas delas; fora do comum, e muitas vezes descabidas em termos políticos.
A explosão final deu-se; numa reunião da Comissão Política Distrital de Setúbal, alargada as Concelhias, Candidatos ás Câmaras Municipais e Diretores de Campanha, uma vez que antes dessa reunião, se realizou uma, outra, reunião no Barreiro, alargada que contou com a presença de vários candidatos e do próprio Arquiteto Porfírio, para acertar as suas necessidades pessoais, e algumas exigências de ultima hora que tinham surgido. De entre as necessidades pessoais do Arquiteto, surgiu a de retirar o mesmo profissionalmente da Câmara, e concretizar a sua transferência para a Câmara Municipal de Oeiras, que na época era presidida por Isaltino de Morais. Era na realidade um verdadeiro ninho de acolhimento de candidatos que necessitassem de receber avençados, por isto quando hoje se fala de algumas trapalhadas do Dr.Isaltino de Morais, eu só posso no mínimo sorrir e acreditar perfeitamente nessas e em muitas mais de que é autor, porque destas situações eu tomei pessoalmente conhecimento em termos factuais.
No entanto nessa reunião ficou tudo combinado, e também estabelecido que era totalmente minha, a responsabilidade da apresentação de todos os assuntos a resolver, efetuando essa tarefa nas minhas qualidades de Vice Presidente da Comissão Política Concelhia, Mandatário da Candidatura e Diretor de Campanha, para assim tentar acertar todas as questões pendentes, ainda mais que o Presidente Eduardo Calisto, dizia não se poder deslocar a essa reunião com a Distrital em Setúbal.
Sabemos hoje que nas minhas costas e do Arquiteto Porfírio, bem como da larga maioria dos presentes a essa reunião, o Sr. Adolfo e o Sr. Calisto, embora em guerra permanente, cozinharam novas posições, não aprovadas em reunião, e combinaram que o Sr. Calisto iria á reunião apresentar as mesmas.
Já com a reunião a decorrer na Distrital de Setúbal, o Sr. Calisto apresentou-se na sala, e desde logo numa atitude bastante estranha. Foi-se sentar estrategicamente, todo “lampeiro” no lado contrario da mesa onde eu estava sentado, e como se nada tivesse sido acordado na reunião do Barreiro entre todos os presentes, apresentava-se para iniciar uma intervenção para indicar novos assuntos não aprovados no Barreiro.
Aprestava-se assim para indicar assuntos e decisões diversas das que se tinha aprovado, pelo que eu como que virei a mesa, e publicamente o desautorizei, com todo o poder que a reunião oficial me tinha atribuído, expondo todas as situações tal como tinham ficado aprovadas, perante o olhar incrédulo dos membros presentes que não entendiam o que na verdade se estava a passar no Barreiro.
Eu tinha entendido perfeitamente, naquele momento, o que se estava a passar, por causa de todos os fatos já ocorridos, e os antecedentes com situações muito parecidas. E, sobretudo, aquela tentativa de fazer de todo o mundo tonto, para além de que eu jamais aceitaria ser desautorizado após uma decisão colegial já tomada por um órgão competente para o efeito, pelo que desde logo decidi que não existiam mais condições para a manutenção do Sr. Calisto como Presidente da Comissão Política Concelhia do Barreiro do PPD/PSD.
Por mero acaso do destino, essa era uma das peças do puzzle que o Sr. Adolfo Vitorino estava a montar, e que tinha como base a mudança de líder no Barreiro, passando o poder de Presidente a ser exercido por si mesmo. Eu nesse momento estava a fazer o papel de inocente que acredita nas boas intenções do profeta assassino.
Assim depois de uma muito quente reunião em que chegou ao ponto do Sr. Calisto fazer o papel de vitima, chorando em plena reunião, foi apresentada uma moção de desconfiança, a qual nem chegou a ser votada, pois; ele sabia que o resultado lhe seria totalmente adverso. Realmente naquele momento nenhum elemento da Comissão Política iria votar ao seu lado, e apenas podia contar com o seu voto, o que seria uma vergonha e enxovalho pessoal para si.
Apresentou o seu pedido de demissão, o que com base nos estatutos desde logo obrigou o Presidente da Mesa, Álvaro Ferreira, a marcar e convocar imediatamente novas eleições para a Comissão Política Concelhia.
O programa não foi alterado, e a lista candidata sofreu apenas uma entrada para substituir a saída do Sr. Calisto, sendo o candidato a Presidente com a minha concordância, o Sr. Adolfo Vitorino.
Sei também hoje, de que á revelia da Comissão Técnica Eleitoral, o Sr. Adolfo fazia e desfazia convites pessoais, com este e aquele lugar nas listas. Antes da implosão do Sr. Calisto da Comissão Política chegou a maquinar uma estratégia em que o Sr. Calisto avançava como numero dois da lista candidata á Câmara Municipal, sendo o numero três ele próprio, e caso fosse eleito o numero dois renunciaria o mandato para ele assumir o lugar de Vereador. Esta estratégia não surtia efeito porque o Arquiteto Porfírio exigia como seu numero dois o Engenheiro Carlos Bicas, o que deixava pessoalmente muito contrariado o Sr. Adolfo.
A saída prematura do Sr. Calisto de Presidente da Comissão Política Concelhia, em plena pré-campanha eleitoral, caiu como uma bomba na opinião publica local, no entanto acabou por ter muito menos impacto negativo do que o inicialmente esperado por mim próprio.
Acho que uma das razões desse menor impacto negativo, foi precisamente o fato de; ele ter enveredado por uma campanha de ataques pessoais, em vez de ter caminhado pelo lado político, o que teria sido de qualquer forma muito difícil de garantir, pois que ao longo do tempo se verificou que o Sr. Calisto era um elemento totalmente inapto para a prática política em Portugal.
Os ataques pessoais chegaram ao ponto de querer fazer passar para a opinião publica que quase tinha sido obrigado a candidatar-se contra a sua vontade pessoal, o que desde logo pressupõe que é uma pessoa sem vontade própria e muito vulnerável á opinião de outrem. Bem como tentar também fazer crer que eu; meses antes, tinha estado na Guiné-Bissau não a ministrar um curso de ação política mas; a fazer turismo, o que também caiu pela base pois para além de ter sido publicado num jornal local que nesse momento atravessava um fase de muita falta de credibilidade, ainda hoje existem as filmagens das ações ministradas por mim e pelo José Rosário na Guiné-Bissau. Por outro lado a senhora que se prestou a fazer esse trabalho, dando uma entrevista, nem sequer tinha freqüentado os cursos e posteriormente o Doutor. Victor Mandinga, Presidente do Partido - PCD, á época, acabou por ficar incrédulo com tudo aquilo, sendo que eu próprio fui procurado no meu local de trabalho por altos dirigentes do Partido da Guiné-Bissau, para me solicitarem um pedido de desculpas oficial pelo ocorrido, ainda mais que a referida senhora, uma tal Alina Ferraz, não representava nada no Partido, só se representava portanto a ela própria, e aos favores que lhe solicitavam
Tudo tinha sido uma maquinação da oposição interna, que sem capacidade eleitoral naquele momento para nos poder fazer frente, utilizou o Sr. Calisto e essa tal de Alina Ferraz, que inclusivamente se veio a saber; posteriormente, ter mantido um relacionamento pessoal com o alegado jornalista que se vendeu por um “prato de lentilhas” como alias era seu habito, e talvez uma noite bem passada com a cidadã da Guiné-Bissau, a troco de publicar aquelas “pataculadas”, para além de manter comigo uma questiúncula pessoal desde os tempos da Rádio Arremesso, onde foi apanhado a furtar discos enviados pelas editoras, e que eram portanto propriedade da radio, tendo então nessa época seguido obviamente o seu caminho normal, que foi o olho da rua, por indecente e má figura.
Quanto ao Sr. Adolfo, o seu sonho primário era ser Presidente da Concelhia do Partido, e estava assim concretizado. No entanto o seu objetivo final era muito mais profundo, e só posteriormente vim a conseguir descortinar isso.
Ele não queria ter nada que ver diretamente com a campanha, e assim embora fosse nomeado mandatário, da lista candidata, desde logo substabeleceu em mim esse cargo, e para todos os efeitos legais eu fui também o mandatário da candidatura. A entrega das listas candidatas em tribunal foi já efetuada por mim como mandatário como se pode facilmente comprovar tanto por fotos publicadas na comunicação social, como pelos documentos, existentes no Tribunal do Barreiro, referentes a esse ato eleitoral, e ele compareceu como que para simplesmente surgir na fotografia.
Por outro lado, lançou grande apoio verbal na abertura da sede de campanha no centro do Barreiro, apresentando até como argumento positivo o fato do Partido passar a ter duas sedes abertas ao mesmo tempo. No entanto acabou por fechar, imediatamente, a sede do Partido para só a voltar a abrir após as eleições.
Foi também dele a idéia peregrina da exploração externa do bar da sede de campanha, e para isso como que nomeou o seu filho Bruno para arranjar um “tasqueiro” para assumir o bar de aluguer.
A situação de degradante imagem do bar, que mais parecia uma taberna, conduziu a um enfrentamento comigo para que tudo fosse devidamente regularizado em termos de funcionalidade, com a devida higiene e organização.
Antes mesmo da inauguração da sede de campanha, a equipa contratada para a sua decoração, e paga quase a peso de ouro, por proposta pessoal do Sr. Adolfo, enveredou por uma estratégia de queimar tempo, e de destruir dinheiro, ao utilizar indevidamente muito material, com sucessivas e variadas pinturas. Dessa forma despropositada quase que dobraram o orçamento inicial previsto para a aquisição de tintas e outros materiais de decoração.
Acabei por descobrir que essa estratégia era incentivada por elementos da JSD, na época liderada pelo Bruno Vitorino, por grande coincidência filho do Sr. Adolfo.
Mas como em tudo na vida, também nessa situação existia um limite, que quando ultrapassado me coloca sempre na posição de imediata explosão e resolução do assunto.
Para mim, o limite eram as 72 horas para a inauguração da sede, e verificado por mim que; ou pegava eu mesmo no assunto ou não tinha inauguração na data e hora previstas, eu entendi que era chegada a hora de explodir e tomar nas minhas mãos a condução do processo.
A situação tinha chegado ao cumulo de; terem mandado pintar de azul escuro, na sua totalidade, os vidros de um expositor de bolos e sanduíches do balcão do bar, o que como facilmente se pode entender não iria permitir que se visse do exterior absolutamente nada dos produtos expostos para consumo. Por outro lado as paredes exteriores da sede já estavam na sua terceira camada de tinta e o logotipo que se tinha definido para a candidatura continuava por surgir.
No interior as paredes iam mudando de cor todos os dias e nada de definitivo para se poder trabalhar de forma normal, e exceto o meu gabinete, nada mais estava efetivamente pronto.
Na hora certa, e á minha maneira; chamei as duas senhoras e foram simplesmente demitidas, tendo eu apontado uma a uma as muitas razões da sua imediata demissão, que era irrevogável, e depois disso as ter mandado colocar for das instalações. Recusaram-se então em abandonar a sede, e ai eu tive que também á minha maneira mostrar quem realmente mandava ali. Os vidros do expositor do bar foram partidos pelos meus próprios punhos, a murros á sua frente. E eu manifestei a intenção de em seguida arrancar em cima delas próprias para lhes dar uns “punhetaços”, caso não abandonassem a sede naquele preciso instante. Ainda recordo que saíram aos gritos e eu; como se tivessem esquecido, de; algum material pessoal pura e simplesmente o lancei pela porta fora a pontapé, limpando a sede de todos os seus pertences, para que não existisse mais razão para algum regresso.
Para alguns elementos da JSD foi um grande lamento, pois com a saída da equipa da D. Fátima “borra telas” perdiam assim umas grandes aliadas na sua estratégia de obstrução ao nosso trabalho e dessa forma caia por terra a estratégia de bloquear a inauguração da sede no dia e hora marcados.
Eu já tinha acautelado a situação, e uma equipa de amigos, liderada pelo Cardoso, montou imediatamente andaimes tanto no interior como no exterior da sede e tudo foi concluído tal como tinha sido idealizado. A sede foi inaugurada pelo Engenheiro Carlos Pimenta, no dia e hora marcados.
Foi graças a este problema e perante a reação de certos elementos afetos ao Sr. Adolfo, que eu percebi que existi uma estratégia bem definida de assalto ao poder e de tentativa de me afastar a todo o custo, pois eu era uma seria ameaça ao seu projeto familiar político de futuro.
Como em tudo o que acontece na minha vida, nada ocorre por acaso, e eu quando entro numa missão ou objetivo, entro para concluir, e levar mesmo até ao fim, e decidi que mais uma vez assim iria ser.
A campanha acabou por decorrer esforçada, mas; dentro do previsto, mesmo com os imensos boicotes e clara falta de empenhamento da JSD que era comandada pelo Bruno Vitorino, que tentaram fazer sempre contra vapor nas ações programadas. O Arquiteto e a sua esposa aperceberam-se claramente da situação, mas ficaram descansados, pois eu lhes garanti que o meu trabalho enquanto diretor de campanha, e compromisso pessoal para com ele, face ao desafio lançado só terminaria no dia seguinte ás eleições.
E assim ao contrário do que se poderia esperar face ás ocorrências, fomos bastante cordiais e até para além do razoável, pagou-se á JSD a elaboração e impressão de um desdobrável de campanha bem mais caro do que o do próprio partido para a Assembléia Municipal. Apoiaram-se todas as iniciativas que decidiram realizar, tal como festas, e outras manifestações. No final nada puderam reclamar, pois tiveram todo o apoio solicitado.
No entanto em resposta obtivemos um apoio mínimo na colocação de pendões e outro material de propaganda, e constantes boicotes em termos de participação nas nossas ações de campanha.
Quem muito lucrou financeiramente nesta campanha eleitoral, foi pessoalmente o Bruno Vitorino, que ganhou dinheiro extra, ao ser ele próprio a propor-se em vender ao partido algum material de propaganda, em especial todo o material da JSD, tal como tarjas e bandeirolas plásticas, foi ele quem ganhou a comissão de venda e por outro lado ainda conseguiu; empolar os preços, de forma a permitir-lhe ganhar o diferencial para o preço real, ganhando assim ele e a firma ao mesmo tempo.
Eu pessoalmente, a tudo fui assistindo e registrando com a maior das calmas do mundo, assumindo a postura messiânica de sagrado coração de Jesus em quarto de prostituta, a tudo presenciando em regime de silenciosa e hierática solenidade.
O Arquiteto Porfírio foi eleito, o Partido agüentou em termos percentuais o grande choque que foram as derrotas locais a nível distrital e nacional, e até reforçou a sua posição de representação a nível de Freguesias, passando a ser o Partido “charneira” em muitas delas. O PCP perdeu a maioria absoluta e o PS sem conseguir ganhar a Câmara foi, no entanto; o grande vencedor ao igualar o numero de Vereadores, quatro, do Partido Comunista Português, sendo que o Vereador Eduardo Porfírio fazia a diferença para um lado ou para o outro.
No dia seguinte ás eleições; apresentei oficialmente o meu pedido de demissão de Vice-Presidente da Comissão Política Concelhia do Barreiro, pois jamais poderia pactuar com tamanho cinismo e hipocrisia. Em conjunto com o Arquiteto Porfírio, reunimos e decidimos; efetuar os pagamentos de todas as despesas e dividas ainda não saldadas e mais urgentes, e outras contas pendentes para que o dinheiro disponível ainda desse, nomeadamente despesas de campanha entre as quais estavam dividas do Fernando Pineza, e que ele rigorosamente tinha a titulo pessoal assumido em nome da candidatura, como o pagamento da carne do churrasco de encerramento da campanha e outras despesas, bem como compromissos pessoais do próprio Arquiteto e meus.
Foi o desespero total do Sr. Adolfo, que exigia que o dinheiro da campanha servisse para pagar contas do Partido, como água, eletricidade e renda mensal da sede do Partido, que inclusivamente ele tinha mantido fechada. Chegou ao cumulo de nos ameaçar processar judicialmente ao que eu pessoalmente só pude sorrir tal a pobreza de espírito e baixeza moral a que tinha conseguido chegar. Finalmente, eu conhecia o verdadeiro Adolfo Vitorino de que alguns já me tinham falado, um individuo de baixa nobreza de personalidade, que vidrado num objetivo pessoal e, sobretudo, familiar, não media limites para tentar obter aquilo com que sonhava.
Recebi os ataques pessoais mais vis, cobardes, vingativos e mentirosos que alguém pode receber, mas seguindo uma regra que considero de ouro, transmitida pela sabedoria do avo Massapina, mantive a minha educação.
As pessoas sábias entendem perfeitamente que o homem é a fonte de tudo o que é bom ou mau para nós próprios. E, portanto, não costumam ocupar ou acusar os outros de coisa alguma.
Não sentem qualquer necessidade ou obrigação imperiosa de tentar fazer com que os outros acreditem que elas; tem valor, são assim especiais e importantes.
Quando estão diante de um desafio, de um objetivo, olham para dentro de si mesmas.
Se, são; elogiadas pelos outros, simplesmente sorriem de forma tranqüila certas do dever cumprido e não se alteram de modo algum. Mas se são caluniadas, as pessoas sabias não acham necessário defender o próprio nome, pois que todos sabem que se trata de uma simples calunia que o tempo e o destino vão acabar por provar não ter o mínimo de razoabilidade.
No entanto, levam a sua vida adiante sem medos, conscientes de que tudo esta bem e harmonizam os seus desejos com a vida como ela é, e procuram apenas evitar as coisas que prejudicariam a sua capacidade de exercer a sua vontade mais suprema da maneira mais adequada.
Nunca nos importamos nem um pouco em parecer ignorantes ou sem qualquer sofisticação, sabemos que temos apenas que estar atentos a nós mesmos e ao rumo que queremos dar aos nossos próprios objetivos pessoais.
Hoje, embora continue a pensar desta mesma forma, no entanto já não resisto em ficar calado, em não chamar crápula a um verdadeiro crápula, ou gatuno, como por exemplo, aconteceu com o Pinto das madeiras da Mata Nacional da Machada, no Barreiro. Hoje escrevo o que me dá na real gana descrevendo a realidade doa a quem doer. E claro cá estou e estarei para assumir as minhas responsabilidades, se for caso disso, mas claro que como só escrevo a verdade e aquilo que factual e documentalmente posso provar. Durmo todos os dias; tão calmo e tranqüilo com a minha consciência como se de um bebe se tratasse.
Como resultado direto das eleições autárquicas daquele ano de 1993, eu fui eleito Deputado Municipal, tendo tomado posse em Janeiro de 1994, tal como Francisco Mendes Costa, Carlos Miguel Vitorino e Maria Geny Rocha, todos da bancada do PPD/PSD na Assembléia Municipal do Barreiro. Por outro lado obtive desde logo uma clara vitória pessoal, ao ser eleito Presidente da Comissão Municipal de Meio Ambiente, Obras e Serviços Públicos, o que para a Comissão Política Concelhia, do senhor Adolfo, foi mais uma trágica noticia.
Desde logo houve uma clara preocupação da Comissão Política, em relação á possível diversidade das minhas tomadas de posição em relação ás diretrizes do Partido. Na verdade nem chegou a ser preocupação, pois que ao longo de dois anos de mandato da Comissão Política liderada pelo senhor Adolfo, eu não recebi absolutamente nenhuma diretriz estratégica do Partido, uma vez que a Comissão Política Concelhia liderada por ele nada de nada conseguiu produzir em termos de estratégia política, para complementar o nosso trabalho na Assembléia Municipal.
O Partido caiu novamente para os patamares anteriores do descrédito. Esse foi o resultado real da gestão do senhor Adolfo Vitorino
O grupo parlamentar reunia, amiudadas vezes, quase sempre na casa do Francisco Mendes Costa, e tomava as suas decisões em consonância com aquilo que em cada momento e para cada assunto a nossa consciência política e social mandava.
Além disso; o partido, mais uma vez entrou na estratégia da troca direta de um programa por simples lugares, e de um modo geral a oposição correspondeu na Câmara e nas Juntas de Freguesia a um tipo de passividade na ação, caracterizado pela perca dos mais elementares valores partidários.
Os objetivos estratégicos pelos quais tanto se tinha lutado, tinham assim sido mais uma vez colocados na gaveta e o Sr. Adolfo acentuou ainda mais o demonstrativo da “prostituição” política, ao colocar negociações tanto com o Partido Socialista como com o próprio Partido Comunista Português, para assim conseguir penetrar no ‘abismo’ do poder a qualquer preço.
Fundamentalmente colocou o Vereador Porfírio como o quinto Vereador do Partido Comunista Português. Em Palhais colocou o Sidonio Sousa no executivo da Junta de Freguesia ao lado dos Comunistas, bem como em Santo André com o Manuel Fernandes, também sentado ao lado dos Comunistas. Na Verderena colocou o Jaime Gonçalves ao lado dos Socialistas, e no Barreiro o Helder Gabriel Baeta ao lado dos Comunistas. Não perdeu a oportunidade de negociar mais “tachos” contra natura em todas as outras Freguesias, e desta forma colocar o PPD/PSD como um partido que em nada se podia distinguir de todos os demais. O PPD/PSD voltou a ser a “prostituta” colocada o serviço dos outros.
Foi tal e qual como mandar para o lixo anos e anos de trabalho no sentido de mudar a postura do Partido. Para mim este projeto político estava encerrado, não valia a pena voltar ao combate, pois que rosto se poderia apresentar no futuro, perante os eleitores, a quem se tenha já vendido um projeto de mudança radical com as praticas anteriores e agora tudo ficava na mesma, ou pior ainda do que anteriormente.
Como seria possível ter rosto para no final do mandato de alianças tanto com Comunistas como com Socialistas ir; novamente vender um projeto de uma historia já; tantas vezes repetida e já tantas vezes adulterada, com um cinismo e uma sem vergonha sem tamanho.
Eu pessoalmente não tenho cara para isso, sou demasiado frontal para aceitar mentir aos eleitores, e quase que escarnecer na cara deles.
O PPD/PSD do Barreiro não tem mesmo emenda, comporta-se sempre da mesma forma, não tem ambição, não sabe esperar pela sua hora assumindo-se com humildade como oposição, no fundo não tem estratégia de vencedor, tem apenas um ideal de comedor das migalhas dos outros, e tanto lhe faz que sejam de um ou de outro, o importante é apanhar as migalhas... estar dentro do tacho do poder!
A prova, provada, de tudo isto que acabo de lhes dizer pode ser comprovada com a seqüência posterior de eleições autárquicas, sempre com o partido sem crescer eleitoralmente, e sempre a cometer o mesmo erro estratégico, e assim a marcar sempre passo, sem capitalizar qualquer meta de crescimento, rumo ao futuro.
A seguir ao Vereador Eduardo Porfírio, seguiu-se o Vereador Eduardo Xavier que pactuou com o Partido Comunista mais uma vez, depois seguiu-se o Francisco Mendes Costa que pactuou com o Partido Socialista, agora está por lá o Bruno Vitorino, que faz de moço de recados para o Partido Comunista Português. Em 2009, outro Vereador se vai seguir isto se conseguir ainda ser eleito. E pouco importa o seu nome porque mais uma vez ira trocar um ideal, uma estratégia, um programa eleitoral, se tiver capacidade para o, apresentar; por um simples “tacho” garantido por 4 anos.
O PPD/PSD do Barreiro é assim um; tipo de projeto para servir só e unicamente alguns interesses pessoais, fechado no seu casulo e a não ser que surja um “messias salvador” de dentro de algum milagre. Se isso não acontecer vai continuar por muitos e bons anos a ser a simples “moleta” do poder, em vez de sequer sonhar em ser ele próprio o Partido do poder, o Partido que pode alterar alguma coisa de profundo no Concelho.
Voltei a freqüentar a sede, após as eleições, tão somente em dias de Assembléia Concelhia, e escolhi as eleições que substituíram Adolfo Vitorino da presidência, pelo doutor Eduardo Xavier, para apresentar a minha ultima candidatura, diga-se vitoriosa, á Assembléia Distrital de Setúbal do PPD/PSD, e em seguida abandonar o partido, como fazem os toureiros, após uma boa tarde de touros, pela porta grande da praça...
Nessa noite tive oportunidade de dar os parabéns ao meu amigo doutor Eduardo Xavier pela vitória na sua eleição como Presidente do Partido no Barreiro, e de lhe dizer em primeira mão que iria abandonar o Partido, por tudo o que naquele momento já não representava para mim. Também lhe disse que ele em termos políticos não iria mudar nada sobre o funcionamento daquela casa, pois os “lobys” eram muito fortes, somente retirava momentaneamente o Adolfo do poder, e que um dia lhe diria as muitas razões porque saia e não acreditava no futuro próximo do PPD/PSD no Barreiro.
Pois para quem leu estas linhas, e conhece a atual realidade, pode confirmar que eu tive razão em tudo, não errei nenhuma das minhas previsões, e ele próprio Eduardo Xavier veio a repetir todos os erros cometidos no passado, ao servir de “moleta” ao poder e a diluir o poder nas Freguesias, sem se assumir como verdadeira oposição.
A minha ultima premonição sobre o PPD/PSD do Barreiro é que tão somente quando um dia perder o seu Vereador na Câmara Municipal, é que vai abrir realmente os olhos, e fazer oposição a valer...
Naquela época ainda por um momento aventei uma leve e remota hipótese de mudar a minha militância de Concelho, pois convites não faltaram. Essa seria uma forma de assim continuar a poder dar a minha contribuição ao Partido, só que também a nível nacional o PPD/PSD se tinha descaracterizado de tal forma, que a cada dia que passava cada vez se afastava da Social Democracia.
A anunciada derrota nas eleições legislativas, do delfim de Cavaco Silva, o doutor Fernando Nogueira contra o populista socialista, Engenheiro Guterrez, e a cada vez mais certa entrada dos marxistas no poder do PPD/PSD, com o grupo do ex-MRPP Durão Barroso, deixaram para mim a nítida imagem de um futuro Partido sem metas. Achei, com toda a razão que ficaria mais parecido com um “saco de gatos”, sem liderança ou projeto definido, exceto a sua cada vez maior opção pelo crescente federalismo europeu.
O federalismo para mim é o pior dos situacionismos, a maior das maiores faltas de capacidade de liderar. É o caminho mais rápido para um País, como Portugal, passar a ser comandado como um joguete nas mãos das potencias européias, é assumir em definitivo a perda de independência nacional que tantas vezes foi gloriosamente defendida e reconquistada, é aquilo a que eu jamais deixaria a minha consciência ser contaminada, por participar diretamente nesse descalabro.
Para mim, naquele momento o PPD/PSD era também um projeto fechado e, portanto; em nada mais iria adiantar a minha militância contra natura num partido que programaticamente cada vez tinha menos que ver comigo e com a minha forma de ser e pensar.
Aproveitei a Assembléia Distrital de Setúbal que se seguiu ás eleições no Barreiro para usar da palavra e explicar publicamente a razão da minha saída de militante do PPD/PSD.
Renunciei ao meu mandato de Delegado á Assembléia Distrital, fazendo assim assumirem os lugares, os militantes seguintes na minha lista candidata, que curiosamente na sua maioria também acabaram por abandonar imediatamente o Partido e consequentemente a Assembléia Distrital de Setúbal.
Chegava assim a hora da ruptura total com uma parte importante da minha vida, a hora da separação, sempre dolorosa como todas as separações o são, mas sem duvida, necessária para eu me sentir de bem comigo próprio.
Na Assembléia Municipal do Barreiro, a bancada do PPD/PSD começa a ser bombardeada com; Moções e Protestos e ataques variados, baseados precisamente com tudo o que eu era contra. E por outro lado o Partido a nível local suportava a escandalosa gestão do Hospital Distrital do Barreiro por parte do Dr. Cabrita, o que já me tinha obrigado a subir ao palanque da Assembléia Municipal por mais do que uma vez, para usar da palavra demonstrando a minha posição contraria ás opções do Partido e da restante bancada parlamentar.
Também nada mais ali estava a fazer, sentado naquela bancada, uma vez que já não era sequer intimamente militante do partido, decidi então honrar o compromisso com os eleitores e não renunciar ao mandato, solicitando a minha passagem a Deputado Municipal Independente.
Foi o clamor total, pois o Partido tinha imaginado que eu iria renunciar, e dessa forma recuperar um Deputado para as suas cores. Ficaram, portanto; reduzidos a 3 Deputados na bancada, e eu mantive o meu ritmo de trabalho, e pelo contrario até o intensifiquei com a apresentação de inúmeras propostas, moções, requerimentos, protestos e outros instrumentos regimentais, passando a intervir em todos os assuntos, mais parecia um grupo parlamentar de um só elemento. Eu sentia-me como peixe na água. Era líder de mim próprio, tanto negociava a aprovação de documentos com a esquerda como com a direita, e assim foi um ano de maravilhoso trabalho parlamentar, que sem duvida deixou raízes na Assembléia Municipal do Barreiro na resolução dos mais variados assuntos.
Na verdade, bem se vê que o Partido continua hoje a enfrentar o seu maior problema, a identidade que se agrava a cada nova eleição, e expõe o Partido à execração publica.
Não admira que o PPD/PSD que tem um Presidente da Republica, e seja alternativa no arco governamental, não consiga traduzir no Barreiro, toda a expressão política do seu poder. Não está nem nas 2 maiores forças políticas a nível local, e os seus militantes e dirigentes deveriam levar isso em consideração.
Enquanto o Partido não adotar uma linha programática claramente definida, para dessa forma; conquistar a confiabilidade do Barreirense continuara a ser um grande Partido nacional, mas um pequeno Partido a nível local no Concelho do Barreiro.
Ganhar identidade, e personalidade, esta é a grande missão dos militantes do Barreiro, que se continuarem, a perder de vista essa prioridade, vão continuar a ver o Partido parado e a ser um eterno coadjuvante de quem não obtiver maiorias estáveis.
Eu, sou, sempre fui um homem de projeto e convicções, que gosto de apostar em projetos em que acredito. E já na posição de Deputado Independente e livre de qualquer militância partidária surge na política portuguesa o novo projeto político do doutor Manuel Monteiro, baseado em ideais de uma direita moderna e de forte pendor social, idéias desenvolvidas um pouco por si. Mas e, sobretudo; por um vasto grupo de jovens pensadores políticos entre os quais se destacava o doutor Paulo Portas, que desenvolvia as suas idéias em interessantes artigos no Semanário “O Independente”. Era sem duvida um projeto arrojado, uma lufada de ar puro na política da chamada área política do Centro Direita, de Portugal, e que pela sua forma ainda embrionária me deixava esperançado numa certa pureza e numa possível mudança a nível da política nacional.
Já nos meus tempos de JSD existia alguma aproximação e amizade pessoal com alguns membros da Juventude Centrista, que agora enquanto militantes do CDS/PP me endereçavam constantes convites para a minha adesão nesse novo projeto, declaradamente anti-federalista, e com objetivos muito claros no apoio aos setores produtivos nacionais como a agricultura, as pescas a industria, o comercio, o pequeno e médio industrial e comerciante, a defesa também da classe media, o combate á burocracia, aos impostos injustos, e sobretudo uma política voltada para os mais necessitados no sentido de lhes proporcionar meios para que a sua realidade de vida se alterasse com a criação de postos de trabalho e apoios sociais diversificados. O combate eficaz á corrupção, era outra imagem de marca do projeto, no fundo um pouco de tudo quanto eu pensava e apoiava em termos sociais e políticos. Um projeto trabalhoso, mas; muito tentador em que eu me revia por completo, e muito embora sendo Ateu convicto, admitia poder defender esses ideais sem esbarrar nas minhas opções religiosas, entrando assim num Partido com raízes da Democracia Cristã.
Por outro lado o simples fato de o Concelho do Barreiro não ter nunca tido uma estrutura implantada do CDS/PP, com cabeça, tronco e membros, era desde logo para mim um, outro; desafio tentador. Um convite que eu resolvi aceitar, tendo para isso começado a lançar alguns convites a alguns dos ex-militantes do PPD/PSD e quadros sem partido que comigo tinham trabalhado tanto nas Associações de Estudantes, na JSD como no PPD/PSD. Muitos dos que tinham abandonado o PPD/PSD, depois de devidamente esclarecidos quanto ao projeto e ás linhas programáticas do mesmo acabaram por aderir, tendo dessa forma conseguido formar um bom grupo de quadros técnicos, prontos a iniciar um novo projeto político e social no Concelho do Barreiro.
Este novo desafio da minha vida, confirmava em tudo a abertura de um novo caminho, em que face a tudo o que já tinha vivido política e socialmente, me deixava sentindo um autentico predador intransigente de causas em que o meu coração nunca se engana.

Um comentário:

Gilda Mattheus disse...

Meu Caro João,

Gostei muito deste capítulo! Sempre soube que a política limpa, independente e preocupada com o social, é a que te atraiu e que a sempre sonhou.
Continue seguindo teu coração.
Pois ele, não te enganará também neste caminho.

Beijo terno e grande!
Gilda