quinta-feira, 17 de abril de 2008

XXXIII – UM PEIXE ATEU DENTRO DE UM AQUARIO DEMOCRATA CRISTÃO

Diante da impossibilidade de conseguir acertar sempre nas opiniões formadas apenas com base numa; simples primeira análise, foi procurar ser, ao máximo, o menos politicamente incorreto no trato da imagem pessoal de certas pessoas, mas claro que todos nós temos o direito de errar, porque isso de errar é humano. Foi o que me aconteceu com larga maioria das pessoas que fui conhecendo ao longo da minha passagem pelo chamado aquário democrata cristão, e logo eu um peixe ateu convicto, analisei de modo muito superficial, o que me obrigou a ter que mais tarde refazer totalmente as minhas primeiras leituras, de analise pessoal.
No esforço por me tentar comportar direitinho comecei a abolir um pouco a minha imagem de marca de batalhador e frontal, por vezes até demasiado para além do razoável. Mas tem sempre alguém que felizmente nos consegue fazer entender pelas suas atitudes ou métodos que devemos continuar a ser aquilo que realmente sempre fomos, para que as aparentes simples dificuldades não se instalem e acabem por transformar em problemas enormes.
Muito rapidamente consegui entender que o CDS/PP vivia na base da chamada política pé de chinelo, querendo criar uma imagem aparentemente de partido de agenda que trabalha em cima do joelho e que dessa forma vem encontrando serias dificuldades para se conseguir instalar de modo consistente na política local e nacional.
O CDS/PP onde eu entrei era um partido dominado pelo cinismo e por um amalgama de castas que tinham no cimo das suas diversas pirâmides internas, as chamadas figurinhas carimbadas, com o claro intuito de dominar setores e com esse seu poder aparente conseguirem manter-se á tona de água dentro do aquário do poder.
No distrito de Setúbal a casta predominante era naquela época dominada por um descendente de judeus, e que fique desde já bem claro que nada tenho de anti-semita, antes pelo contrário. Mas com Krus Abecassis, que com a falta de espaço político na sua reta final de carreira, tentava manter o seu espaço de influencia á custa da dominação política no distrito, eu realmente não posso ter qualquer contemplação pessoal.
Para conseguir manter essa sua realidade temporal, organizava pequenos clãs de indefectíveis que de um modo subserviente lhe iam tentando controlar o território. Ao mesmo tempo iam abanando a cabeça em sinal de assentimento perante tudo o que lhes era questionado, ou solicitado, assim acontecia com a mãe e filha que dominavam Santiago do Cacém, com alguns elementos de Setúbal, Seixal, Montijo, Moita e, sobretudo; com o seu fiel “cão de guarda”, o Delegado Distrital de Setúbal Fernando Belo, que ia tentando controlar todos os outros “Kromos” que estavam espalhados um pouco por todo o distrito, e que na sua maioria mais pareciam saídos de um; qualquer filme de animação.
Nessa época, Carlos Dantas, era o “Kromo” do Barreiro, que ambicionava á muito deixar de o ser, e queria transformar-se em Presidente da Distrital. No entanto o líder da casta dominante entendia ser fundamental conseguir manter as estruturas dos concelhos inativas e assim poder continuar a controlar o poder sem necessidade de se expor a riscos desnecessários ou ter que submeter o seu representante a eleições, que lhe poderiam ser bastante adversas.
Por isso as primeiras impressões por vezes enganam, e só mesmo passado algum tempo se podem criar opiniões consistentes, digo isso entre outros; relativamente ao individuo Carlos Dantas.
Assim, quando fui convidado a organizar a estrutura da Concelhia do Barreiro, desde logo o importante para mim era conhecer com quem lidava e então consegui marcar uma serie de iniciativas, para dessa forma, conseguir trazer o senhor Engenheiro Kruz Abecassis ao Barreiro, para dessa forma tentar conseguir saber o que ele afinal também pretendia. Ele acabou por aceder porque também ele queria saber quais eram as minhas intenções.
Foi assim como uma chamada marcação á zona, homem a homem, palmo a palmo, em que um observava atentamente qual a estratégia do outro.
Foi muito cordial esse nosso primeiro encontro, em que lhe possibilitei uma visita à Santa Casa da Misericórdia, aos Bombeiros Voluntários do Barreiro, Corpo de Salvação Publica, ainda nessa época instalados nas suas; velhas e muito deterioradas instalações, ali junto da sede do Luso Futebol Clube, no chamado Barreiro velho. Uma visita á Quimigal, com uma reunião com o Conselho de Administração, e até a uma audiência privada nossa com o Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, nessa época o Dr. Pedro Canário. No final do dia ainda lhe promovi um jantar com militantes, melhor dizendo com larga maioria de novos militantes que eu tinha conseguido já trazer para o partido sem sequer ser eu próprio ainda militante naquela época.
Durante o desenrolar do dia, ao longo das visitas e no decorrer do jantar, desde logo entendi que aquele “Judeu” estava muito pouco interessado na implantação de uma estrutura concelhia do partido no Barreiro. E muito menos estava interessado na possibilidade da realização a curto prazo de eleições distritais, e muito menos ainda tinha criado alguma empatia comigo, pois me via como uma muito seria ameaça ás suas idéias de ascendente sobre o distrito de Setúbal.
Foi assim iniciada uma relação de aproximação do mais hipócrita que se possa imaginar, entre um Cristão de Bíblia e um Ateu puro e duro, e como eu detesto hipocrisia, estava certo que seria somente uma questão de tempo, até que eu terminasse com a encenação.
Respeitando a sua memória, não posso, no entanto; deixar de dizer que tive a nítida sensação, nesse dia, de ter acabado de conhecer um “Capo da Máfia á Portuguesa”, tal o modo como se movimentava e falava tudo mecanicamente articulado e pré-pensado, e isso não tinha nada que ver com o seu já visível e impossível de esconder; Alzaimer.
Até a forma de se transportar era feita como a tradicional entrada e saída de um mafioso, de um local publico, para não se fazer notar no meio da multidão. Entrava antecipadamente o motorista e segurança, verificava o local, e somente era liberada a sua entrada. A saída era feita de molde a evitar quaisquer surpresas no exterior.
Essa minha, muito má impressão inicial, sobre aquela personagem que tinha fama de bom gestor, enquanto Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, mas que na realidade foi; um dos responsáveis direto e indireto, entre outras coisas importantes da cidade, pela destruição do Chiado naquele fatídico dia 25 de Agosto. E tudo apenas porque a sua teimosia em termos de segurança publica, acabou por deixar as ruas da zona da Baixa Chiado, sem entradas rápidas para as viaturas de emergência. Essa minha imagem pessoal negativa nunca melhorou ao longo do tempo, muito pelo contrario, só se foi agravando com o passar do tempo, chegando a uma situação limite de ruptura e confronto político total.
No então isso não impediu de forma alguma que se prosseguisse com o trabalho político já iniciado no Barreiro. Muito para além do nosso conhecimento de que já tinha sido injetado um personagem para fazer o trabalho de controle concelhio para o Delegado Distrital. Essa figura apareceu do dia para a noite, vindo do nada, era o Sr. Pedro Estadão, uma personagem algo sinistra, com olhar de louco, e modos a fazer lembrar os antigos agentes das SS Nazi-fascistas, só lhe faltando a indumentária apropriada, pois que o restante estava lá todo, e bem visível, nos seus modos e formas de estar.
Os seus objetivos eram indisfarçáveis e desde logo conseguiu entrar em choque direto com o Carlos Dantas e o Luis Pires, as pessoas que até aí, mal ou bem, tinham dado a cara pelo partido no concelho do Barreiro.
Obviamente que logo em seguida entrou em choque também comigo, ou melhor; dizendo, o choque foi simultâneo. Ao ser convidado de um modo afável para participar em reuniões de reflexão sobre a situação do partido no concelho, e que nessa época se realizavam em casa da Drª Fátima Craboila.
Realmente ele comparecia ás reuniões sempre muito bem acompanhado pela namorada da época, e atual Juíza Do Ministério Público, e sempre a meu convite pessoal; na minha tentativa de verificar; e confirmar o que afinal ia dentro daquela cabeça, mas cedo se pode confirmar que somente compareciam para tumultuar as mesmas, com opiniões disparatadas e totalmente fora do contexto das discussões, como que a provocar a perda de tempo, em longas analises totalmente estéreis e sobre assuntos sem o mínimo de cabimento político ou social.
Para mim, mais pareciam crianças, querendo brincar de políticos juvenis.
Mas esses tempos não foram só de política pura e dura, deixaram ainda espaço para um bom relacionamento pessoal e intimo com a Fátima, uma professora de historia que tinha um trauma tremendo, pois tinha sido deixada pelo noivo, no altar no dia do próprio casamento. Esse trauma conduziu a um constante temor, que eu da melhor das formas, tentei anular, passando bons e agradáveis momentos na sua companhia.
Em termos políticos surge nessa época o primeiro grande acontecimento deveras intrigante. Quando tentei efetivar a minha inscrição no partido, a mesma foi recusada, sem qualquer explicação para o fato. Foi simplesmente recusada, e como o Delegado Distrital tinha esse poder pessoal discricionário, eu aceitei perfeitamente, ficando desde logo de pé atrás perante aquela criatura. Somente algum tempo mais tarde vim a conhecer pessoalmente o espécime raro, e á constatar ser uma pessoa temerosa, muito efeminada e claramente com aparência e tendências pró-homossexuais, bem assim como o presidente da JC daquela época, um jovem de Sesimbra a que só faltava vestir um vestidinho para se parecer com uma senhora.
O partido estava no Distrito de Setúbal, claramente entregue ao loby gay, e tudo o que fosse contra isso era por eles considerado contra natura.
Nunca nada tive contra as opções sexuais de cada um, embora entenda que as mesmas devem ser assumidas e em termos políticos, uma coisa nada deve ter que ver diretamente com a outra, o que no, entanto; visivelmente não acontecia naquele caso concreto.
A minha militância política anterior não me tinha permitido nunca verificar a existência de um grupo tão estranho em termos de movimento pessoal, como o que vim encontrar no CDS/PP.
Ao longo do tempo acabei por ficar sempre na duvida sobre os chamados jogos de bastidores e com a nítida sensação de uma, certa; duplicidade de personalidade em termos sexuais de alguns personagens, a começar mesmo pelo mais tarde líder do partido, Dr. Paulo Portas.
Se por um lado era visível alguma objetividade hetero, tanto de alguns homens como mulheres, por outro eu sentia que se vivia uma segunda vida por parte de algumas pessoas, e ainda podia verificar a amigável mistura entre o chamado grupo dos “trombeiros” e os “gay’s” na sua maioria alegados bi-sexuais, não assumidos, que se queriam fazer passar por heterossexuais.
Era obvio para mim que o partido tinha naquela época uma elevada chama e influencia sexual, e um chamado loby gay dominante no seu interior, uma dominação que não mudou com o passar do tempo, apenas foi alterando os elementos, e como todos sabem esses grupos são corporativistas e unidos na defesa total dos seus membros.
O meu lugar, e o da própria Concelhia do Barreiro, dentro do partido, a nível pessoal não era de forma alguma dentro desses grupos sexuais corporativistas, por isso muitas vezes notava alguma reserva na formulação de alguns convites sociais á minha pessoa, e aos militantes que me acompanhavam.
Decidi então apresentar a minha inscrição como militante na concelhia de Lisboa, e a mesma foi aprovada pelo Dr. Telmo Correia e pela Maria Orisia, que não conseguiam entender a razão do Delegado Distrital de Setúbal conseguir aprovar militantes por mim propostos e quando chegada a hora de me aprovar para militante, pura e simplesmente rejeitar a filiação.
Obviamente que a explicação tinha um nome, e esse nome era Krus Abecassis, e o resultado direto da sua visita ao Barreiro, e da analise que tinha feito ás reais possibilidades de ameaça de perda de influencia determinante na zona. Essa ameaça era realmente exata, uma vez que eu fazia questão de afirmar publicamente que em Setúbal deveriam mandar os de Setúbal, e nunca penetras externos enviados por Lisboa.
Passado algum tempo, solicitei a minha transferência para o Barreiro, e a Secretária-Geral da época, Drª Helena Santo, assim procedeu, para desespero do Delegado Distrital e claro também para o Delegado Concelhio, entretanto já nomeado e como seria de esperar, nem mais nem menos do que o Sr. Pedro Estadão. Foi assim bem visível a manobra de me tentar afastar da possível luta pela conquista imediata da Concelhia do Barreiro.
Depois de muitas confusões e excitações só já em pleno ano de 1997, a dois passos das eleições autárquicas, e com todo o nosso trabalho inviabilizado, é que finalmente se resolveram a marcar eleições para a Concelhia do Barreiro.
E se já nas eleições para Delegados ao Congresso Nacional, se tinham verificado muitas e variadas, estranhas ocorrências, então nas eleições concelhias foi o descalabro total. Neste ato eleitoral foi a confirmação de que a própria Secretária-Geral, Drª Helena Santo, estava deveras comprometida com todo aquele nebuloso e ilegal processo, e após várias manobras verdadeiramente infantis, a lista por nós apresentada e candidata á Presidência da Concelhia, e que ainda por cima nem tinha a minha presença, foi liminarmente rejeitada, sem se conseguir entender até hoje a razão de tal atitude, uma vez que ela cumpria todos os requisitos estatutários para poder ser sufragada.
A Mesa Concelhia era dominada nessa época pela JC, através de Nuno Valente, que era nesse momento claramente afeta a Pedro Estadão, e que, portanto, manipulou de forma clara, inequívoca e obvia todo o processo pré-eleitoral, o que alias; mais tarde vieram a confirmar, na pessoa de Nuno Valente, meu Vice-Presidente numa das Comissões Políticas, por mim presididas, como tendo objetivamente acontecido, a mando de Krus Abecassis, e do seu capanga distrital Fernando Belo.
No entanto marcadas que estavam; as eleições, eu numa manobra puramente para envergonhar o partido, resolvi que uma vez que ninguém justificava a razão do afastamento da nossa lista candidata, mesmo assim iríamos a votos e para o efeito no mesmo dia, hora e local colocamos uma urna, para recolher os votos dos eleitores. Existia uma urna no interior do salão nobre e outra na entrada, na sede de os “Franceses”. Tudo foi feito o mais rigoroso possível com listagem de militantes, lista de presenças para descarga de votos e até uma acta foi lavrada no final dos trabalhos, após a contagem dos resultados.
Quando comparamos as votações o resultado foi de uma vitória nossa por expressivos 7 votos de diferença. A eleição da lista e eleição de Pedro Estadão era assim uma farsa e estava ferida de legalidade, uma vez que nos tinham impedido de concorrer livremente e com toda a legitimidade, e ainda por cima face ao resultado obtido se provava que nós tínhamos a legitimidade eleitoral de presidir á Comissão Política Concelhia.
Noutro qualquer partido, aquela situação ridícula, divulgada na comunicação social como inédita, teria merecido um outro, tipo de tratamento. No CDS/PP da época do Dr. Manuel Monteiro, com a Drª Helena Santo como Secretaria Geral, nada se veio a verificar, para além obviamente da chacota pública através da comunicação social, que aproveitou o fato para demonstrar a situação de falta de organização em que se encontrava o partido.
O Presidente do Partido estava num pedestal e pouco ou nada sabia da política efetiva local, mesmo com o facto pessoal de se deslocar várias vezes ao Barreiro, em visita familiar a sua avó. E tão pouco entendia o que seria melhor ou pior para o Partido no Concelho do Barreiro, embora tivesse sido um dos responsáveis da minha entrada no Partido, tal como o Dr. Gonçalo Ribeiro da Costa.
O seu destino estava assim prematuramente traçado, pois um líder de fachada, que desconhece a realidade do seu partido, que diz liderar, é sempre um líder a prazo, alguém em quem não se pode confiar. Como diria um famoso slogan de campanha: “Você compraria um automóvel a este homem?” a resposta só pode ser Não!
As eleições autárquicas foram assim o teste tanto para o Pedro Estadão como para o líder distrital e obviamente para o líder nacional do partido. O partido apresentou como candidato no Barreiro o farmacêutico Marcarenhas Neto, e não conseguiu sequer apresentar candidatos para todos os órgãos autárquicos, o que provou a falta de capacidade da estrutura política Concelhia, e da coordenação de Pedro Estadão.
Pior do que isso, o candidato era apontado como antigo legionário da PIDE/DGS, policia política do antigo regime, e o presidente do Partido nunca conseguiu terminar com essa terrível imagem negativa, esclarecendo a opinião publica, que na verdade não era bem assim, o que era contado pelos esquerdistas. Mais tarde, pude constatar, por documentos que me foram mostrados pelo referido candidato, que ele tinha efetivamente sido aceite como agente da PIDE/DGS, num concurso público, a que concorrera, pensando ir desempenhar funções numa outra atividade do Estado, uma vez que o edital de abertura não fazia referencia clara á PIDE/DGS. E que após a publicação do seu nome, e de ter constatado para o que realmente era a função final, de imediato recusou a investidura, sendo publicado; imediatamente, uma nova publicação com a sua exoneração, de um cargo que nunca sequer ocupou um minuto que fosse.
Nenhum dos militantes por mim propostos aceitou candidatar-se, fosse ao que quer que fosse. O partido não conseguiu apresentar candidaturas a todos os órgãos autárquicos, e por outro lado os resultados finais foram paupérrimos para não os classificar de um autentico desastre, e para agravar ainda mais a situação a Comissão Política contraiu devidas financeiras para o partido que nunca veio a poder honrar na gestão de Pedro Estadão.
A nível nacional o resultado foi em tudo idêntico ao do Barreiro, e, entretanto; como se esperava o líder nacional, do alto do seu pedestal, estava a prazo, e pronto a cair em desgraça.
O congresso do CDS/PP em Coimbra marcou a arrancada para novos tempos no Partido, para a chamada era; Paulo Portas, e foi ai que aconteceu o primeiro confronto direto com Manuel Monteiro, na celebre cena do café de Manuel Monteiro, após a intervenção de Paulo Portas ter sido mais ovacionada do que a sua, que era a de um líder naquele momento.
Eu parti para Coimbra no dia anterior ao inicio do Congresso com a companhia de José Peleja no meu potente Alfa Romeu 33, e a velocidade era tanta, que na auto-estrada passamos a saída de Coimbra e acabamos por ter que sair em Aveiro e voltar para trás. Nessa correria louca consegui gastar um tanque completo de combustível desde a saída do Barreiro até chegar ao hotel a Coimbra, menos de 200 quilômetros.
Depois de devidamente instalados no Hotel, aproveitamos a primeira noite para jantar no Restaurante Alfredo’s e ir conhecer um pouco da cidade á noite. Iniciamos a visita por uma discoteca que nos tinham recomendado como a melhor de Coimbra, mas que era realmente tão boa que se encontrava deserta á hora a que por lá passamos.
Decididamente era a nossa noite de sorte, pois entramos no Bingo do centro da cidade, e em pouco tempo fizemos dois Bingos, e ainda por cima seguidos, o que deu para animar ainda mais a noite, que decorreu a correr tudo quanto era bar e boite, que nos fosse recomendada ou não.
No fim da madrugada, resolvemos ir comer algo, para depois se poder ir dormir um pouco, até á hora da chegada da restante comitiva e inicio dos trabalhos do congresso. Foi então que junto do quartel dos bombeiros voluntários, não muito longe do hotel onde estávamos instalados, um policia “bronco” a cair de bêbado, acho mesmo que tinha conseguido beber tanto ou mais do que nós os dois juntos, resolveu colocar-se em frente do carro em plena avenida, e querer inventar uma infração minha ao código da estrada.
Eu; como alias sempre acontece, não tenho grande paciência para aturar autoridades ou fardas, e muito menos para aturar bêbados fardados ou não. Resolvi desde logo, brincar um pouco com o infeliz, e assim para começar, ao avistar a sua figura no meio da avenida a cambalear, e ao mesmo tempo a mandar parar o carro, nem tive qualquer duvida em acelerar para cima dele e parar bem junto ao local para onde tinha saltado. Acabei por parar o carro bem no meio da avenida, sem encostar junto do passeio. Sai do carro para saber o que se passava, ele ficou deveras incomodado e como ainda por cima era “bimbo” daqueles que trocam os B’s pelos V’s, eu desde logo resolvi falar também á moda de (B)Viseu. Foi nesse momento o delírio para o alentejano, Zé Peleja, que não se conteve, e ria as gargalhadas. Depois pedi ao agente para ser ele mesmo a encostar o carro, por forma a não continuar no meio da via, e foi então nova risota, pois o policia ia mesmo fazer isso, estendendo a mão como se fosse para eu lhe dar a chave da viatura.
Por fim lá acalmou e viu que estava a cair no ridículo, então andou a ver se conseguia arranjar uma forma de me multar, arranjou a idéia de que eu tinha entrado em uma rua de sentido proibido no outro lado da avenida, claro que ainda hoje desconheço qual tinha sido a rua. Tínhamos descido toda a avenida desde o seu inicio, sem entrar em nenhuma rua transversal. Pediu então os meus documentos para proceder á emissão da multa. E eu sem problema algum estendi a carteira com tudo, ai foi mais um problema, pois quanto mais mexia na carteira menos conseguia distinguir ou encontrar os documentos. Ele achava notas, cartões de credito, mas dos documentos nada, e a situação cada vez se tornava mais ridícula, ao ver um agente da autoridade completamente ébrio a vasculhar a carteira de um cidadão em busca de documentos, eu pensava para mim: isto só filmado...
Eu finalmente lá tive um pouco de pena dele e acabei por lhe tirar a carteira das mãos e dar-lhe os documentos necessários. Quando ia passar a multa, nova desordem na sua cabeça, pois que a morada do seguro não era a mesma da carta de condução nem do registro de propriedade do carro e o bilhete de identidade tinha também dados que não coincidiam.
O homem ficou desesperado, com tantas moradas diferentes, e para mim isso sim, era uma infração, andar com os documentos desatualizados, em relação ao ultimo endereço, mas para ele o que contava mesmo era a possibilidade de poder passar a multa, fosse de que forma fosse, pois já estava a verificar que tinha caído no mais baixo em termos de ridículo.
A carta de condução estava ainda com a morada da casa dos meus pais, que; entretanto, já tinham falecido, e a casa já não era nossa pertença. O seguro da viatura estava ainda registrado com a indicação da minha antiga morada, e o registro de propriedade do automóvel, esse sim atualizado na minha morada correta do momento.
Foi uma risota geral, pois perante a pergunta dele, só poderia dar mesmo risota geral.
“Atão o senhor quer que amande a multa pra cal morada?”
Respondi na maior cara de pau do mundo:
“pois senhor guarda; escolha uma das três, a que lhe der menos trabalho a escrever, eu moro, ou morei nas três casas!”
Para culminar o hilariante cenário, ele nem sequer tinha algo com que escrever, e fui eu a retirar uma caneta do meu casaco e estender-lhe para que pudesse preencher o impresso de autuação. E ele não parava de referir: “mas que caneta chique... tem bom escrever...”
Nem sei qual a morada que colocou na multa. Por um lado recusei assinar o impresso, e por outro mal ele virou as costas nos fechamos o carro, entrando na pastelaria que ficava no outro lado da avenida, e fomos assim comer, e eu a primeira coisa que fiz foi colocar o impresso, copia, da multa que me tinha sido entregue, no primeiro receptáculo de lixo que encontrei.
Era uma situação mesmo para esquecer, e só recordar como imenso pagode.
Até hoje nada recebi em termos de multa de transito para pagar. E quando mais recentemente solicitei a verificação do meu cadastro, de transgressões viárias, o mesmo estava totalmente limpo, portanto, o policia ‘bêbado’, nem a multa deve ter conseguido passar corretamente. E por certo, com tanta emoção pela caneta que escrevi bem, e confusão com os diversos documentos e moradas, acho que pode até ter emitido uma multa a si próprio, alegando transgressão alcoólica de um agente da autoridade, sem autoridade nenhuma; diga-se.
As aventuras desse dia ainda não tinham acabado, pois o Zé Peleja resolveu comprar, entretanto; um Jornal local, e já no seu quarto, pegar no telefone e solicitar os serviços de uma massagista. Fazendo o pedido pelo telefone e de certa forma algo ébrio, imaginou que seria uma massagista para executar o trabalho que normalmente a maioria das massagistas que se divulgam em certas e determinadas páginas dos jornais executam.
Ás 7 horas da manha chegou á recepção do hotel uma massagista com destino ao quarto do Zé Peleja. Foi confirmado pela recepcionista o pedido, e subiu o elevador com destino ao quarto, só que ao abrir a porta o Zé Peleja diz que ia morrendo, era uma mulher com bem mais de 50 anos, feia como a noite dos trovões, e acompanhada por uma mala de material para executar mesmo a solicitada massagem.
Claro que a própria massagista se apercebeu da sua reação facial, e o pedido de massagem, mesmo massagem, foi prontamente dado como sem efeito, tendo ele obviamente pago o táxi de retorno da profissional de massagem tailandesa.
Ligou de pronto para o meu quarto para contar a aventura, eu ate me custava a acreditar no que estava escutando, mas do José Peleja, até ao dia de hoje, tudo pode acontecer, em termos de aventuras fora do comum. Com este mesmo José Peleja, já foi possível eu avançar num projeto de abertura de uma imobiliária, em Vila Real de Santo António, alugando loja, montando todos os equipamentos, tirando todas as licenças para a laboração desse tipo de comercio, e no final nem se chegar a abrir a firma, embalando os equipamentos, e entregando a loja ao dono.
Mesmo assim, com um trabalho tão rápido por parte da massagista, nos dias que permanecemos em Coimbra, e sempre que o Zé Peleja, solicitava a chave do seu quarto na recepção, ao dizer o numero do quarto todos os funcionários passavam a olhar para ele de imediato. Ficou tão incomodado com a situação que até chegou a pensar em mudar de hotel, eu, no entanto, para evitar esse constrangimento, passei a solicitar as duas chaves ao mesmo tempo.
No dia seguinte, chegaram o Luis Pires, Sidonio Sousa e a Fátima Craboila, e desde logo decidiram animar um pouco, tentando irritar o Peleja. Para isso, e sem ter muito nexo, começaram com um autentico jogo de futebol no corredor dos quartos, com as laranjas da fruteira do quarto do; Peleja.
Obviamente nasceu logo um atrito, de tal forma incontornável que dura até aos dias de hoje. É que muito embora o Peleja, não tenha comido qualquer fruta da sua cesta, instalada no quarto, a conta acabou por aparecer para ele pagar, pois a fruta apareceu destruída devido ao jogo de futebol.
Nessa mesma época eu vivia um relacionamento escaldante com Fátima Craboila, tão escaldante que nunca passou disso mesmo, antes que ateasse fogo mesmo, e eu me queimasse.
Ela ainda se encontrava afetada psicologicamente com o casamento fracassado, acho que provavelmente ainda hoje se deve encontrar afetada, pois que essa frustração do altar nunca a deixava chegar a vias de fato, e com isso o nosso relacionamento não passava dos preliminares, o que me deixava deveras intrigado e claro numa muito má situação, quando excitado.
Essa situação aconteceu inúmeras vezes, e durante a nossa estadia em Coimbra, eu fixei como a data limite para entender a situação, e andar para a, frente com a relação ou terminar. Assim uma noite ela foi parar ao meu quaro e depois de muita curtição o mais que eu consegui foi colocar o espartilho á vista. Ao mesmo tempo; que ela própria, levava a que eu lhe produzisse orgasmos múltiplos apenas com a ação das minhas mãos na sua vagina e seios.
Eu acabei por ter orgasmos, devido á sua ação com as mãos, pois ela insistia só em masturbar-me, acho que era uma doença, essa sua apetência para esse tipo de caricia, mas daí não se passava de jeito algum, perante a sua tenaz resistência.
Entendi então que essa relação não seria para continuar, pois uma mulher, adulta, que andava comigo á meses, e que não passava o nosso relacionamento de masturbações mutuas, algo deveria ter de preocupante. Eu poderia ainda tentar investigar o que se passava na realidade, mas para mim ele deveria ser algo próximo de: frigida, ou estar a ter algum outro problema psicológico que eu muito sinceramente não conseguia entender, e por outro lado uma relação não pode ser só e exclusivamente sexo, mesmo que feito dessa forma tão artesanal.
Essa deslocação a Coimbra marcou também o fim desse relacionamento, seguindo a velha máxima do papagaio dos 4 F’s de um meu grande amigo de longa data:
“Se Fo...es Ficas, se não Fo...es Fora!”
Entretanto politicamente despontava um novo projeto político, no fundo o criador do projeto queria ser ele próprio a liderar o mesmo, e surge então o Dr. Paulo Portas. O Barreiro, nomeadamente o nosso grupo político, foi assim pioneiro, e por nosso intermédio o Barreiro tornou-se o primeiro Concelho do país a declarar apoiar publicamente a nível nacional, a nova candidatura á liderança, e a manifestar diretamente o apoio ao Dr. Paulo Portas como candidato a líder do partido.
O Dr. Manuel Monteiro acabou por não ter coragem de se voltar a candidatar á liderança do partido, lançando em nome do seu grupo político a doutora Maria Jose Nogueira Pinto, que foi copiosamente derrotada no Congresso de Braga.
Entretanto, no Barreiro o Sr. Pedro Estadão face ás suas inúmeras trapalhadas acabou por ficar isolado, e sem qualquer apoio militante. Até mesmo a JC lhe retirou o apoio e acabou por ser afastado por uma moção de liderança que eu próprio redigi e apresentei e que foi votada por unanimidade dos presentes em elevado numero. Grande número para a grandeza do partido naquela época, assim registraram-se; 51 votos a favor e nenhum contra, uma vez que após a apresentação e discussão da moção, o Sr. Pedro Estadão pura e simplesmente, num ato de pura cobardia, abandonou a sala, de acordo alias com as suas características já habituais em todas as suas atitudes. Seguidamente pediu a desfiliação do partido e inscreveu-se diretamente no Partido Socialista.
Ironicamente o Partido Socialista do Barreiro, é um verdadeiro asilo de recolha de deserdados de outros partidos, pois ao longo do tempo já vários são os exemplos, de que destaco alem dos por mim apontados ao longo desta minha narração, o senhor Julio Freire, vindo do Partido Comunista, ou alguns ex-militantes da rede terrorista FP/25 de Abril, como Amílcar Romano.
Imagine-se alguém deitar-se um dia como militante de um partido de direita e conseguir acordar no dia seguinte, como militante de um partido de esquerda, e logo ele, Pedro Estadão, que é, ou era, um apólogo da causa nazi-fascista, pois até festas de pendor nazi-fascista freqüentou; agora virar um militante incondicional de esquerda, as voltas que o mundo dá.
O Partido Socialista não tinha razão para duvidar das origens desse senhor, pois quando decidiu aderir ao novo partido o Julio Freire e o Carlos Pires militantes ativos do Partido Socialista, tinham manifestado muita curiosidade em saber da razão da sua saída do CDS/PP. E se no caso do Julio Freire, as suas raízes eram comunistas, já no caso do Carlos Pires que se siba a sua família navegou noutros tempos nas ondas da Ação Nacional Popular de Marcelo Caetano.
Após total esclarecimento e como continuassem a duvidar foi-lhe projetado, em casa do Julio Freire, um filme de uma festa nazi-fascista, em que ficaram deveras espantados com a presença nesse filme do Sr. Pedro Estadão em diversas manifestações de eloqüente apoio á causa do saudoso, para alguns, Adolfo, incluindo até farda e medalhas, para além da linguagem verbal e gestual. Apesar de tudo; acabou por ser admitido como Militante Socialista, e imagine-se vim a saber á dias que até apresentou uma candidatura para Presidente da Concelhia do Barreiro do Partido Socialista, que no entanto acabou por retirar, ao verificar que era popular demais para poder conseguir ser eleito Presidente, o que prova que o crime muitas vezes compensa, mas nem sempre...
O Partido Popular tinha agora a rara oportunidade de poder organizar-se ao nível do Concelho do Barreiro, com tempo suficiente para poder enfrentar as eleições autárquicas com esperanças fundadas de obter um resultado honroso, para além de assim se conseguir afirmar ao mesmo nível das outras forças políticas do Concelho.
Seriam cerca de quatro anos de trabalho, com alguns atos eleitorais pelo meio, como testes á capacidade de afirmação do partido a nível local, muito embora os resultados de uma eleição a nível nacional tenham muitos diferenciais a nível de decisão do eleitorado em relação a uma eleição com total influencia local.
Preparei uma moção de estratégia bem ambiciosa tendo como primeiro grande objetivo a organização das diversas estruturas a nível local, nomeadamente o próprio partido, a JC e os FTDC, para concretizar esses objetivos eram necessários em primeiro grau de importância á filiação de quadros e capacidades de trabalho para além de todas as outras obvias e necessárias condições.
É, pois, assim dessa forma determinada que; apresento a todos os militantes por via postal, uma candidatura arrojada e composta dos melhores quadros humanos possíveis do partido no Barreiro naquele momento, tendo inclusivamente ido recrutar quadros políticos a Lisboa ao Ministério da Saúde como o Antonio Amaral e o José Costa (Costinha) entre outros.
Com uma candidatura bem abrangente fomos eleitos sem qualquer oposição, e é desta forma, e com as condições mínimas e necessárias que me torno Presidente da Comissão Política Concelhia do Barreiro do CDS/PP.
Perante a admiração de muitos, e, sobretudo; com a situação a ser evidenciada pela comunicação social local e mesmo nacional, sobretudo da mais adversa ao partido e mesmo á minha pessoa, decidi que o partido tinha que desde logo arriscar e romper com a indiferença. E para isso nada melhor do que uma tomada de posse dos novos órgãos políticos da concelhia eleitos, numa cerimônia tipo ato publico, desafiando a lógica do comportamento banal e subserviente, que sempre acontecia num chamado pequeno partido.
Por outro lado assumia ainda mais o risco ao realizar esse ato público num espaço amplo, para dessa forma determinar a nossa condição de imagem de marca. Era obvio que eu sabia bem os imensos riscos que iria correr, tinha consciência de que existia mais de 75% de chances de se tornar um imenso desastre caso não fossemos capazes de mobilizar os militantes e simpatizantes, bem como a comunicação social e os representantes dos outros partidos e outros convidados, mas os 25% restantes mereciam bem correr o risco.
Existe uma famosa frase que caracteriza a possibilidade de erro:
“Todos tem direito a errar uma vez. Por isso a bigamia é proibida!”
Tudo foi preparado ao mínimo pormenor e até uma exposição de artes plásticas foi anexada á iniciativa bem como um convite para um moscatel de honra que foi servido após a tomada de posse.
Realizamos a tomada de posse no salão nobre dos “Franceses”, contando com a presença do Presidente do Partido, Dr. Paulo Portas, perante uma sala com uma razoável assistência, o que constituiu um êxito. Estava assim ganha a primeira grande batalha, colocar o partido na rua, no conhecimento das pessoas, fora da sede, afirmar que o CDS/PP existia realmente no Barreiro.
Por outro lado a comunicação social aderiu muito bem á iniciativa e com o cinismo que lhe é característico acabou por analisar e comentar de forma correta. O que era quase um fenômeno, pois sempre trabalharam a nível local na base da descaracterização, e todos os que pertencem á minha geração devem ainda lembrar como assistíamos ao tratamento do partido, e em alguns casos a mim próprio e a outros dirigentes como meros excluídos, por não pactuarmos com o chamado sistema institucionalizado. Descaracterizando assim e criando falácia total sobre o nosso trabalho e imagem.
Desde logo ficou bem patente para a comunicação social, e em especial para os nossos adversários políticos, que a nossa luta era com a gestão municipal do Partido Comunista Português e com o espaço político do Partido Socialista, e restante esquerda. Na verdade os seus representantes tinham sido convidados e estavam na sala bem como o Partido Social Democrata, representado pelo seu Presidente Concelhio da época, Dr. Eduardo Xavier, que escutaram a minha longa intervenção de cerca de quarenta minutos, onde situei o partido face ao espaço político local e suas vertentes futuras.
O Presidente do Partido estava satisfeito, não por cinismo ou hipocrisia, estava mesmo satisfeito e muito bem disposto, chegando ao ponto de até querer jogar uma partida de matraquilhos comigo como parceiro contra uma equipa de voluntariosos militantes da Distrital de Setúbal. Regressou a Lisboa no fim daquela intensa tarde; certo de que poderia contar com o nosso máximo empenho e vitalidade, e com um comportamento deveras audaz e ambicioso, mas sempre leal e frontal, e não para simplesmente lhe agradar, com falinhas mansas ou cínicas palmadas nas costas.
A distrital também iniciava as suas primeiras passadas, e as eleições e referendos distritais eram; sempre um problema em termos de controle em algumas mesas eleitorais, em especial no Sul do Distrito.
O Secretário-Geral tendo conhecimento dessa situação, nomeou-me para eu controlar o ato eleitoral em Alcacer do Sal. No entanto sem o partido dispor sequer de uma sede local, ou outro sitio para proceder ao ato eleitoral, o mesmo acabou por ser realizado em urna móvel instalada numa das minhas viaturas, assim de forma perfeitamente original, e também diga-se irregular, somente eu e o Jorge Pereira da JC, passamos toda uma tarde para conseguir recolher preciosos 3 votos. Só no CDS/PP se poderiam ver situações idênticas com a complacência do Secretário-Geral da época Dr. João Rebelo.
A pouco e pouco conseguimos ir captando no Barreiro novos apoios, novos militantes e inclusivamente recuperar a confiança e a militância de antigos militantes e simpatizantes da JC e do próprio partido, que se tinham afastado por esta ou aquela razão da militância ativa.
Comigo como Presidente a Concelhia do Barreiro instituiu a realização de um jantar anual de Natal.
No primeiro ano esse jantar realizou-se no Restaurante do Moutinho, encerrado para essa nossa realização do partido, e que contou com a presença do líder parlamentar da época Dr. Luis Queiro.
Fiz questão de convidar a comunicação social, e entre outros, esteve presente o jornalista que sempre pior me tratou, a nível de comunicação social, o senhor Sousa Pereira do Jornal do Barreiro, para assim poder relatar com verdade a realidade atual do partido, e este convite não era cínico, era sim para lhe provar o quanto eu exijo respeito.
Mas como seria de esperar, acabou por ser inconveniente, durante todo jantar. Eu que jamais tolerei esse tipo de situação acabei por em bom português; conseguir indiretamente achincalhar e envergonhar publicamente em pleno jantar, para terminar com as suas insinuações. Por outro lado fui obrigado a divulgar publicamente alguns fatos nada abonatórios da sua atividade de escriba em jornais. Comigo como dirigente jamais admitiria o partido ser deturpado na sua ação política e social.
Foi também possível restabelecer o contato com o ultimo candidato á Câmara Municipal do Barreiro, o farmacêutico Mascarenhas Neto, que com a nossa ajuda e contatos acabou por conseguir recuperar uma avultada verba que o partido a nível nacional lhe devia. Esse compromisso tinha sido assumido pelo Sr. Pedro Estadão, que como em todos os outros compromissos não soube honrar a boa imagem do partido, nem sequer o seu nome pessoal.
No entanto apesar de toda a nossa boa vontade e empenho foi precisamente este senhor farmacêutico que nos surgiu com a primeira jogada de “sacanagem” ao seduzir-nos com a sua oferta de um espaço para instalar uma sede concelhia.
Assim disponibilizou um apartamento propriedade da sua esposa, situado numa zona nobre do Alto do Seixalinho, e que obviamente aceitamos de bom grado, pois seria a nossa primeira sede independente. A conquista de um local com independência e as condições mínimas para se poder desenvolver um bom trabalho. A condição única da oferta seria limpar o apartamento, por troca com um arrendamento com um valor simbólico a combinar posteriormente.
É desta forma que a JC e alguns militantes do partido se empenharam em levar a cabo a limpeza do local, que mais parecia um chiqueiro de porcos, tal a imundice motivada por uma inundação que a casa tinha sofrido.
Depois do local se encontrar totalmente limpo e recuperado, e quando se imaginava poder efetivar o acordo, e assim ali instalar a sede, nem que fosse provisoriamente, o ilustre farmacêutico Mascarenhas Neto, resolveu mudar de idéias e dar o dito por não dito, e assim dar outro destino ao imóvel. Este procedimento, deveras interessante a que se seguiram outros de igual oportunidade, acabou por deixar marcas, e estabelecer uma linha bem demarcada na amizade que ele afirmava existir sem limites, e que assim se podia constatar afinal existir em termos de determinantes jogos de interesse pessoal.
Como sempre eu gosto de testar os meus alegados amigos, e anos mais tarde, já comigo a morar em Espanha, surgiu uma rara oportunidade para realizar um tentador negocio, no decorrer de um fim de semana. E como não tivesse o valor disponível naquele momento, e somente cerca de um mês mais tarde, e como esse cavalheiro sempre batia na mesma tecla, ou seja; batia no peito que nem Tarzan, afirmando que sempre que fosse necessário, podia contar com ele, eu resolvi testar essa sua ferocidade das selvas.
Falei com ele ao telefone, desde Espanha, e disse-lhe qual o favor que lhe estava a solicitar, por quanto tempo necessitaria e qual era o valor necessário, e que por acaso até era; bastante ridículo, para a sua alegada disponibilidade financeira, cerca de dois mil euros, e inclusivamente lhe ofereci garantias, e ele, perante tudo isso; apenas me disse:
“...pois apareça e conversamos!”
Eu necessitava do valor pedido, até ao dia seguinte, e então sem mais demoras pequei no carro e meti-me ao caminho, de minha casa em Espanha até ao Barreiro, cerca de 400 quilômetros. Cheguei ao Barreiro e fui direto á sua farmácia, voltei novamente a expor a minha situação, e para meu grande espanto o cavalheiro, depois de me ter feito andar mais de quatro centenas de quilômetros, gastar dinheiro em combustível e desgaste da viatura, com a maior cara de pau do mundo respondeu-me que naquele momento da sua vida não dispunha desse valor.
Poderia eu acreditar nisso, vindo de alguém com duas farmácias abertas ao público e a funcionarem em pleno. Jamais essa poderia ser a desculpa mais plausível a apresentar, pois esse valor ele poderia apurar num dia normal numa única farmácia.
De forma cordial, eu e a minha ex-esposa despedimo-nos dele, peguei no carro, parei em Alcacer do Sal para comer um laudo jantar, acompanhado por um bom digestivo e conclui os 400 quilômetros de regresso á minha casa.
E depois de mais de oito centenas de quilômetros andados, de gastar combustível e desgastar o carro, e de pagar um laudo jantar, fiquei deveras feliz ao meter a chave na porta da minha casa, pensei numas sabias palavras que já escutei várias vezes, sem infelizmente saber quem é o seu Autor:
”Só traia o seu Rei se tiver a certeza da vitória!”
Essa alegada amizade era muito pouco recíproca, e, sobretudo; muito interesseira, e de amizades desse tipo estou eu farto na minha vida, pelo que até hoje jamais voltei a falar com tal personagem, que ainda teve o arrojo de me enviar uma carta no natal seguinte, a qual eu não abri, não sei do que se tratava e mandei devolver, escrevendo no envelope:
“Desconhecido o destinatário, devolver ao remetente”
Sei por alegada pessoa, que o conhece bem, que foi acometido de um carcinoma da garganta, do qual foi operado. Pois que talvez exista alguma razão para isso, por certo foi muito mentiroso ao longo da vida e decidiram cortar-lhe o pio.
O problema de local para trabalhar era assim o problema de preocupação numero um para o partido, pelo que eu mesmo resolvi que provisoriamente esse não era mais um problema para o partido. Assim a sede passou a funcionar no meu escritório pessoal, que tornei ativo para o partido, era ali que se reunia a Comissão Política, era ali que se toda a atividade do partido se desenvolvia, entre reuniões ou outras atividades organizativas.
Entretanto a FTDC foi-se organizando e com a ajuda do seu Presidente Concelhio, Sidonio Sousa, foi possível arranjar uma sede com as condições mais do que mínimas, mas que mesmo assim conseguia dar cobertura para as atividades da FTDC e da JC.
O Partido crescia e continuava a implantar-se a cada dia que passava a tal ponto que a quando da realização do referendo sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez, foi desenvolvida pelo partido uma campanha ao nível das outras forças políticas, e que em nada ficou a dever em termos de organização e trabalho de rua.
Este acabou por ser o nosso primeiro grande teste de campanha e por assim dizer fomos aprovados. Mas para mim isso não bastava, eu queria arriscar ainda mais e então decidi que conjuntamente com a Comissão Política iríamos lutar para conseguir realizar no Barreiro o comício do partido da campanha a novel nacional, que ao nível do distrito normalmente se realizava sempre na capital, em Setúbal.
Seria a proposta para o primeiro comício digno desse nome no Barreiro, feito pelo CDS/PP, e que eu sabia iria receber muito cepticismo das gentes de Lisboa.
O presidente do partido acedeu ao desfio e então foram mãos á obra; e com um trabalho espantoso em cerca de somente 48 horas preparamos tudo. Divulgação, decoração do salão nobre dos “Franceses”, criação de condições de trabalho para todas as estações de TV e para todos os jornalistas que se creditaram para estarem presentes, e finalmente no dia e hora, com uma boa divulgação conseguimos encher o salão até á porta.
E quando eu próprio usei da palavra para abrir o comício com a minha intervenção, olhei para o salão e fiquei certo de que se tinha conseguido vencer mais uma batalha.
Foi um êxito, transmitido via TV para todo o País, com a cobertura da imprensa política nacional, e a imprensa local teve mais uma vez que se render ás evidencias, nós estávamos a crescer e teriam que contar com o nosso potencial como partido político para as próximas eleições Autárquicas.
A nossa força política em termos também de capacidade de organização, permitia chegar ao ponto de auxiliar estruturas políticas menos favorecidas como era o caso da Concelhia da Moita que tinha como Presidente uma excêntrica, divorciada de um construtor civil, que ia vivendo garbosamente com a mesada que este lhe atribuía, só para não ter que a aturar. A Rosalia aproveitava a atividade política como razão de vida e o seu escape emocional pessoal.
A sua aparição em qualquer ato publico era por si só um acontecimento fora do comum, graças ás suas vestimentas bem coloridas bem como ao seu modo de estar na vida. Onde ela surgia era Show garantido!
A sua estrutura concelhia era despojada de militância, pois qualquer um fugia só de se ver na sua louca companhia. Dessa forma em períodos eleitorais a campanha eleitoral na Moita era como que virtual, até que decidimos ajudar um pouco e desinteressadamente colocar-lhe alguns pendões para mostrar a presença do Partido no Concelho.
O material de propaganda acabou por ser preparado na sua casa e colocado em duas noites de trabalho, o que veio a constituir uma verdadeira surpresa na Moita e zonas limítrofes.
Embora eu e alguns militantes do Partido e da JC tenhamos feito todo o trabalho, ela era como se costuma dizer; pobre e mal agradecida, por isso a Rosalia e a Moita nunca mais contaram com o nosso apoio, ficando assim ainda mais isolada com as sua excentricidades.
Nessa mesma campanha eleitoral, a nossa organização a nível local não parava, e quase todas as noites saiam equipas para colocação de material pelo concelho, pelo que nunca o CDS/PP conseguiu ter uma implantação de material de propaganda como nessa ocasião. Este trabalho diário levava também a ocorrência de fatos curiosos, para mais tarde se recordar, assim o Ricardo “rodas” da Juventude Centrista era um dos jovens mais colaboradores em campanha, talvez por isso tenha aderido de forma tão pronta e espontânea a uma noite de colocação de propaganda que acabou somente por volta das 10 horas da manhã.
A verdadeira aventura foi começar a noite com cerca de; 12 elementos e duas escadas, a colocar pendões nos postes e terminado a meio da manhã, somente com um único elemento, pois todos os outros foram desistindo do trabalho ao longo da madrugada por cansaço. O Ricardo, no entanto, sabendo da minha programação para essa noite, e de forma brilhante e corajosa esteve comigo cerca das 9 horas da manhã a colocar bandeirolas no Parque junto da estação central dos correios, com todos os moradores e transeuntes a observar dois “malucos” a colocar bandeirolas de um de um Partido de direita no centro de uma cidade Comunista. Ainda por cima numa zona de grande movimento, e para terminar a noite de trabalho fomos para a Rua Stara Zagora, junto do parque de estacionamento e da bomba de gasolina anexa ao estádio de futebol do Barreirense, local que agora vai dar lugar a uma grande superfície comercial, e a um Fórum.
Correndo sérios riscos em termos de segurança, cada um de nós pegou em sua escada, e totalmente sozinhos íamos subindo aos: pontes e colocando as bandeirolas, sem ninguém a segurar as escadas á em baixo.
A grande sorte do Ricardo foi que o ultimo poste foi o seu, e eu vim ajudar no preciso momento em que ele exausto adormeceu em cima da escada, esta caiu e ele por instinto agarrou-se ao poste vindo a deslizar até eu o segurar. Foi uma cena verdadeiramente digna de filmagem, para mais tarde recordar, ainda por cima passado o susto inicial, ele desatou á gargalhada, pois aquilo dava mesmo para rir.
Eu sempre me assumi como um político que não tem medo de despir o paletó e ir á luta, fazer campanha de rua, colocar pendão se necessário for, e também por isso sempre fui olhado com alguma desconfiança pela classe política, que entende que um político deve ser um individuo de fatinho, bem penteadinho, boas falinhas e que sabe dar palmadas nas costas, beijinhos nas damas que nadam em cremes na fuça e que fogem do povo, evitam o mercado, a rua empoeirada ou o bairro de lata. Talvez que o PPD/PSD tenha em tempos obtido um resultado interessante na zona rural de Covas de Coina, Fonte do Feto, Quinta da Areia, porque eu peguei no Arquiteto Eduardo Porfírio e fui lá fazer campanha, porta a porta, sem medo de ameaças dos mais desfavorecidos. E talvez por isso mesmo eu ainda hoje possa entrar nesses locais menos favorecidos, com a cabeça bem levantada, e não me importar de beber um copo numa taberna ao lado de um pobre da mesma forma que entro num grande hotel para beber um copo com os finórios, quantas vezes da meia tigela.
A nossa atividade não parava, e o partido fortalecia-se, no entanto, a nível interno começavam a nascer sérios problemas. O Barreiro estava a tornar-se uma ameaça para certos personagens que sentiam por um lado inveja dos êxitos e por outro o advento de novos tempos que podiam ficar fora do seu controle e que podiam também ser muito prejudiciais para as suas ambições pessoais.
Alguns, claramente acobardados, como o próprio Carlos Dantas, começavam a sentir o peso da chamada identificação étnica com a luta pelo poder por parte do Barreiro, e ele que se escondia por detrás de biombos, tinha agora que se mostrar, no fundo que; dar a cara.
Ele que em vez de assumir a candidatura para a Comissão Política Distrital de Setúbal, tinha lançado a sua própria esposa, uma analfabeta política, obviamente com a idéia de ser ele mesmo a comandar por trás do biombo imaginário, toda a política distrital. Agora tinha que começar a mostrar-se, sob pena de perder em definitivo o comboio do poder.
Ele queria sem duvida projeção pessoal e notoriedade. Funcionava como diz a lenda sobre o Príncipe Narciso, que ficou muito emocionado quando viu, pela primeira vez, a sua imagem refletida nas águas tranqüilas de um lago. Daí se conclui que tal como um lago, também a política é um bom espelho da natureza, no entanto tanto um como outro são muito realistas, e assim o Carlos quando olhava para um espelho via nele refletido somente um tipo anafado e ao mesmo tempo limitado. Só conseguia ver um tipo forte em termos de aparência física, e quando se olhava no espelho novamente voltava sempre a ver a mesma imagem, a do; mesmo individuo limitado e com características de uma determinada dependência e influencia dos interesses políticos e praticas políticas para conseguir concretizar alguns sonhos e objetivos meramente pessoais.
Contrariando Jose Américo, o risonho Rabelais, que gritava em alto e bom som:
“O sorriso é próprio do homem”
O Carlos quando as coisas não lhe corriam de feição ficava assim como diz o Brasileiro:
“Com uma carranca de boi a caminho do matadouro”
Buscava sempre a possibilidade de jogar a mão a um, qualquer; “tacho” público disponível. Foi assim durante muito tempo o seu sonho, que alias era do conhecimento publico, pois não se cansava de o repetir alto e bom som. Sonhava em ser o Assessor ou Adjunto de alguém, não importava de quem, ou alguma outra coisa na Assembléia da Republica. Ironizando um pouco, acho que se atribuísse um lugar de carregador de chávenas de café para as salas do grupo parlamentar, ou de colador oficial de selos de correio na Secretaria-Geral da Assembléia, ele acabaria por aceitar, tal a sua anciã de estar muito perto do poder.
Esta sua anciã de poder foi igual com Manuel Monteiro, Krus Abecassis, Gonçalo Ribeiro da Costa, Rosado Fernandes, Paulo Portas e por certo com muitos mais, pois até com outros Deputados tentou concretizar esse seu sonho.
Depois já mais moderado verificou que os seus sonhos tinham virado pesadelos, pois não reunia as condições para os “tachos” ambicionados. Então tentou as condições mínimas e necessárias para promover a sua autonomia econômica e social, imaginando uma promoção ou nomeação ou algo muito parecido na área do Ministério da Agricultura onde trabalhava como mero licenciado manga de alpaca em direito. Por fim acabou por ser no Ministério da Educação, que anos mais tarde acabou por ser colocado a cortar fitas e fazer figura de “Bobo” na Direção Regional de Educação de Setúbal, como se fosse um “Biblot”, só para que se calasse com a choradeira.
Mas claro que atrás dele um grupo de “lambe-botas”, tendo como cabeça de cartaz, um, tal de; João Titta Mauricio, de quem contam lindas historias sobre um seu relacionamento, do tipo Professor versus Aluna, a nível universitário, muito próximo do estupro, e outros que como abelhinhas em busca de um pouquinho de poder caído das patas do escravizado poder nacional, para assim conseguirem fixar alguma notoriedade e quem sabe entrar no livro dos recursos dos mais afortunados “lambe-botas” de Portugal e arredores.
Quando se tratava de aparecerem para trabalhar, isso era já um problema, e eram sempre os mesmos a comparecer, até para deixar o salão do andar inferior da sede distrital de Setúbal em condições mínimas de funcionalidade, teve que ser a militância do Barreiro a estar presente.
Aquele local estava entulhado com lixo e material de propaganda não utilizado em eleições anteriores. A única maneira deste se tornar novamente operacional era realizar uma grande limpeza, retirando de lá todo o entulho desnecessário.
Assim, num Sábado, munidos com a camioneta do prestável Joaquim Santos, uma boa equipa procedeu á sua limpeza, com a remoção de todo o entulho para o único local onde todo aquele; material podia ser colocado em segurança e que era o aterro sanitário da Câmara de Setúbal, por isso com a camioneta bem carregada de material de propaganda e outros dejetos, lá foi toda a; equipa participante, com vários carros a fazer de caravana ajudar a efetuar a descarga do lixo.
No entanto sempre teria que acontecer uma aventura fora do comum, e assim quando pretendíamos sair do Aterro foi a grande surpresa, pois como já eram mais de 14 horas, e sendo um Sábado, o local estava já encerrado.
Ao principio ainda pensamos que teriam saído apenas para cumprir o horário de almoço, e voltariam para o período da tarde, no entanto um transeunte informou-nos de que agora só voltaria a ser aberto na Segunda feira.
Era impensável aquilo estar a acontecer, mas aconteceu, ou seja; cerca de: 12 pessoas presas num aterro sanitário com uma camioneta e 2 carros. Ameaçadas de terem que aguardar 2 dias até poderem sair dali, ainda mais que nem segurança havia no local, e ninguém dispunha de celular ali, tudo tinha ficado na sede.
Foi então que eu resolvi que não poderia ali ficar a olhar para o céu aguardando um milagre. Decidi que se iria desmontar o portão de entrada, para se poder sair do local. Com a ajuda de um jogo de chaves que existia no carro do João, da Concelhia de Setúbal, tiramos o portão e lá saímos do local, o portão ficou encostado na vedação, e nem imagino o que devem ter pensado os funcionários na segunda feira ao chegarem para entrarem no aterro, mas assalto não deve ter sido.
Por outro lado eu mais tarde considerei mesmo que tinha sido premeditado o encerramento do aterro conosco lá dentro, era impossível não verificarem a existência das viaturas no local antes de irem embora para o fim de semana.
E nós no Barreiro?!
Por lá continuava o trabalho, sem nos importarmos com essas lutas de pé de chinelo. No entanto não estávamos dispostos a ser levados por tontos e muito menos a deixar que os nossos militantes fossem usados e abusados.
Na minha vida existem situações que eu considero imperdoáveis, venham elas de onde vierem. Um delas é a traição. E quando ela, a traição, é praticada por alguém a quem considerava; amigo, ainda aumenta mais o meu conceito de verdadeiro crime lesa pátria.
A minha Comissão Política Concelhia começou a verificar a fuga de informações tanto para a Comissão Política Distrital como para a comunicação social, eu também detesto delatores e fofoqueiros, gosto que me digam na cara tudo o que me querem dizer, e por outro lado que tudo o que é sigiloso, é mesmo sigiloso, seja para quem for.
No caso das reuniões da Comissão Política Concelhia, verificava-se que alguns contatos e assuntos que se iam combinado eram reproduzidos com a devida antecedência e clareza para terceiros, o que só podia acontecer se alguém da Comissão Política os transmitisse, pois eu não acredito em assuntos coincidentes, muitas vezes repetidos.
Fiz uma analise das atas das reuniões para verificar as presenças, e um estudo psicológico a todos os membros, confrontei os dados com as respectivas presenças e cheguei á conclusão de que somente um dos elementos poderia estar a reportar o conteúdo das reuniões.
Outra minha grande arma é que detesto ser injusto, acusando inocentes por isso procuro sempre confirmar as situações, para não julgar ninguém erradamente. Neste caso decidi fazer o mesmo, e assim combinei com o João Palma e como José Peleja, membros até então imaculados e da minha máxima confiança, montar uma reunião com dados deturpados, para se verificar se iriam ser transmitidos pelo membro suspeito.
Marquei então uma reunião com o Sidonio Sousa, em que somente estivemos presentes os quatro, e muito rapidamente pude confirmar que tanto o Carlos Dantas como o Luis Pires tinham tido acesso ás informações, por exclusão de partes e uma vez que o Sidonio não saia nessa época da casa do Luis Pires, ficou confirmado quem era o delator das reuniões.
Foi assim que de imediato foi afastado das reuniões da Comissão Política e ao mesmo tempo foi sendo afastado dos diversos cargos que ocupava na hierarquia partidária.
Confirmei mais tarde que as informações eram dadas em troca de alegadas promessas de cargos partidários, profissionais e sociais no futuro.
Posso assegurar que esta situação me afetou muito a nível pessoal, pois o Sidonio além de ser considerado um amigo, estava comigo na política já á alguns anos, desde os tempos da Juventude Social Democrata.
É no fundo uma lição, que nos ensina que na política como na vida no podemos confiar em ninguém a 100%, apenas em nós próprios, pois ninguém é infalível e muitas vezes o traidor esta mesmo ao nosso lado, que nem na historia de Judas para Cristo!
É também nesta época que nasce oficialmente a primeira grande questão com a distrital de Setúbal. Assim o meu Vice-Presidente, Nuno Valente, era na época também o Presidente da Comissão Política Distrital de Setúbal da Juventude Centrista, e quando se procedeu á formalização das listas candidatas ás eleições legislativas de 2001, a Concelhia do Barreiro indicou por unanimidade; o meu nome para integrar a lista e em segundo lugar o nome do Nuno Valente, e em terceiro o de António Lourenço, um dos meus mais leais colaboradores. Por sua vez em Setúbal, o Sr. Dantas tinha arquitetado um cenário muito interessante, ou seja; em primeiro lugar da lista, e em principio ilegível, iria surgir o nome indicado pela Comissão Política Nacional, neste caso o do Professor Rosado Fernandes, em segundo lugar iria surgir, e de uma forma inquestionável para todos nós, atendendo ao cargo político, a Presidente da Distrital doutora Isabel Fernandes, que seria Deputada, caso; o Partido, consegui-se o verdadeiro milagre de eleger mais do que um Deputado pelo distrito, ou por renuncia ou morte do primeiro da lista, e então em terceiro lugar da lista ele apresentava a proposta de se colocar a ele próprio. Remetendo assim o Presidente Distrital da JC e os outros candidatos para os lugares seguintes, sendo que ainda apresentava em quarto lugar o seu “lambe-botas” numero um, João Titta Mauricio.
Apresentava assim um critério bem “manhoso”, e uma estratégia idêntica á que já tinha adotado para a Distrital, mas aqui bem mais familiar e direta. Ou seja; após as eleições e, em caso de substituição do primeiro candidato eleito, por mero acaso seria a sua esposa. O que iria acontecer na realidade seria que ela iria abdicar e assim ele chegava a Deputado, como representante ninguém sabe muito bem de quem, uma vez que não representava ninguém, nem tinha acento em nenhum órgão concelhio ou distrital, pois não se sujeitara a qualquer votação colegial para nada.
Era assim a camada esperteza familiar saloia, querendo fazer de todos os outros uma cambada de parvos.
Bem entendido que eu nunca em circunstancia alguma discuti o sétimo lugar atribuído ao Barreiro e neste caso á minha pessoa, na lista candidata, e acedi com muito gosto em dar a cara pelo partido naquele momento, e perante o projeto que estava a ser apresentado aos Portugueses.
Discuti sim, e muito, o lugar da Juventude Centrista, e, sobretudo o seu lugar de colocação pessoal na lista.
Foi uma reunião bem tumultuada e que marcou o inicio oficial do fim da nossa boa amizade e companheirismo partidário.
Eu sempre soube distinguir relacionamento político do relacionamento pessoal, mas aquele assunto ultrapassou em muito a questão política, o seu comportamento pessoal ultrapassou em muito o meu pensamento sobre o comportamento político. Por outro lado a sua postura indubitavelmente diminui-o a estima e consequentemente o respeito que devem nortear os comportamentos de alguém que eu entenda estar dentro dos indivíduos identificados como meus amigos, e hoje, entretanto, face a todas as ocorrências políticas e pessoais posteriores nem na condição de simples conhecido o posso colocar.
A JC acabou por subir uns quantos lugares na lista, e o Carlos Dantas e os seus “lambe-botas” oficiais, perceberam que comigo como Presidente da Concelhia do Barreiro, jamais poderiam brincar ou fazer aquilo que muito bem queriam no Partido.
Passei obviamente a ser um alvo a abater, devido á seria ameaça que oferecia para todo aquele grupo.
O período eleitoral decorreu normalmente, com o Barreiro, no entanto, a receber bem menos material de propaganda do que seria normal, e com o partido a conseguir obter resultados meritórios no Concelho, mas bem longe do esperado a nível do Distrito de Setúbal, e mesmo a nível nacional ficou aquém do resultado esperado.
A campanha do Professor Rosado Fernandes era a nível pessoal um susto. Ele como que fugia do eleitorado e a abordagem era bem difícil, em muitos aspetos até no físico, fazia-me lembrar o Arquiteto Porfírio, só que para muito pior, pois na ponta final o Arquiteto até que já abordava os eleitores, enquanto este fugia dos eleitores como o diabo da cruz. No entanto o Professor Rosado Fernandes acabou por conseguir ser eleito depois de muito sacrifício, e graças ao método de apuramento eleitoral e distribuição percentual eqüitativa dos eleitos.
Desde logo as pressões sobre o Deputado por parte da Distrital, não pararam. Primeiro para criar um lugar de assessor para o Carlos Dantas, e como o Deputado em vez disso decidiu colocar um seu familiar, estalou então a guerra e passaram a imaginar a; possível suspensão do mandato, ou mesmo a sua renuncia, utilizando a boataria como arma. Mas nem; uma coisa nem outra, veio a conseguir ter efeitos ou a acontecer, e dessa forma tudo o que foi tentado acabou por não surtir qualquer efeito, pois ele acabou por cumprir todo o mandato, e assim nunca a doutora Isabel Fernandes se conseguiu sentar na Assembléia da Republica como Deputada.
No Barreiro para além da continua preparação das eleições autárquicas, surgem assuntos que merecem a nossa melhor atenção, como o deficiente tratamento dos lixos hospitalares, no Hospital Distrital do Barreiro e nas clinicas existentes no concelho.
Outra vertente abordada por nós foi a necessidade de apoios para a construção de um novo quartel para os Bombeiros do Corpo de Salvação Publica, que muita gente desconhece ter entrado no PIDAC, por indicação expressa da minha Comissão Política Concelhia, um quartel que hoje já existe na realidade, um orgulho para mim enquanto Presidente da Concelhia. Nessa época nós não solicitávamos ao grupo parlamentar, nós como que exigíamos, essa e outras medidas, e por esse motivo é ainda um orgulho muito maior para todos os elementos que fizeram parte dessas Comissões Política Concelhias, ter exigido ao grupo parlamentar algumas prioridades para o concelho, muitas delas já concretizadas como também a nova esquadra para a Policia de Segurança Publica, que sei esta em fase de conclusão.
Mas nesta época surgiu um problema preocupante; a situação da Santa Casa da Misericórdia do Barreiro. Constatamos que de forma ilegal, expulsou centenas de associados, para além de levar até hoje um tipo de gestão que ninguém consegue controlar.
A instituição em si das misericórdias em Portugal é incontrolável, e funciona como uma verdadeira máfia, a que a igreja católica tem dado total cobertura e muito embora recebam avultadas verbas do Estado, nem o próprio Estado consegue controlar.
A violência intelectual é um denominador comum á nossa civilização. Um sinal muitas vezes de animalidade sem controle que se transforma em marco cultural histórico.
Nunca na minha vida tinha presenciado uma assembléia geral, com um tumulto tal, como a que vim a assistir na Misericórdia do Barreiro, ainda mais de uma entidade com fins puramente sociais e beneméritos, como uma Santa Casa da Misericórdia. O tumulto apenas aconteceu porque foram contratados seguranças privados e colocados de prevenção agentes da Policia de Segurança Publica. A PSP é uma entidade paga pelo dinheiro dos contribuintes, mas que nesse dia foi colocada escandalosamente ao serviço político, por via do Governador Civil de Setúbal, daquela época, um apadrinhado do Partido Socialista, que dessa forma dava cobertura política aos seus camaradas do Barreiro, que queriam controlar a Santa Casa da Misericórdia do Barreiro.
Os associados foram impedidos de entrar, e só uma “casta” muito especial, previamente escolhida pelo Provedor e seus “capangas” da mesa administrativa, com a ajuda da comandita da igreja católica puderam entrar.
No exterior uma multidão de associados foi impedida de entrar nas instalações de uma entidade que anos a fio se serviu dos pagamentos das suas quotas mensais para ajudar a equilibrar as contas de sobrevivência da entidade, e agora estava transformada num clube privado do Sr. Julio Freire e alguns dos seus camaradas políticos.
Até hoje estou arrependido de nessa noite ter ajudado a apaziguar o tumulto que estava para se transformar numa batalha campal, e ter ajudado a não permitir a invasão das instalações.
Se isso tivesse realmente acontecido, teria terminado nessa mesma noite o projeto pessoal e político de Julio Freire, em transformar aquela entidade em uma extensão de interesses pessoais seus e político por parte de Partido Socialista, que continuam de uma forma escandalosa a controlar os destinos de uma entidade que deveria ser totalmente gerida fora das diretrizes partidárias.
Esta situação é ainda mais grave porquanto algum tempo antes numa assembléia geral o Provedor Julio Freire já tinha sido derrotado nas suas intenções individualistas.
E pouco tempo depois, numa outra assembléia geral, que deve ter sido a mais concorrida da historia da Misericórdia do Barreiro, realizada no salão nobre dos “Franceses” a sua derrota na proposta de alterar os estatutos foi esmagada eleitoralmente.
Nessa mesma Assembléia Geral eu propus a votação por voto secreto e essa proposta venceu, sendo que eu inclusivamente já levava de casa totalmente prontos os votos para virem a ser utilizados, na votação da proposta; seguinte, o que veio a acontecer, para não permitir jogadas de bastidores no seu adiamento.
Jamais na minha vida poderei esquecer a covardia de Julio Freire, tentando subornar-me quase se colocando de joelhos no chão, chorando na minha frente, para que eu não apresentasse a proposta, e em troca ele propunha vários favores no Jornal do Barreiro, controlado pela Misericórdia.
Perante a minha recusa, ganhei nessa noite, vários inimigos, em especial o Jornal do Barreiro, que me passou a tratar com uma invulgar fúria deturpando todas as situações e produzindo ataques pessoais semanais.
No entanto não me arrependo de forma alguma por ter sido firme e ter tomado a atitude e decisão que achei e continuo hoje a considerar a mais acertada, mantendo-me dessa forma integro e frontal com as minhas idéias, a minha personalidade e as minhas convicções que por dinheiro algum do mundo vendo.
Algum dia, que face aos acontecimentos, espero não muito distante, vão perceber o porque; das minhas razões, e das de muitas centenas de associados. Neste processo da Misericórdia do Barreiro, o meu único arrependimento, é mesmo o de ter ajudado a controlar a multidão. Hoje, sabendo tudo quanto sei, eu teria sem duvida entrado á frente da multidão e nem toda a polícia e seguranças do mundo nos teriam detido. Não posso imaginar qual teria sido o resultado, perante muitas pessoas que tinham vontade de fazer justiça pelas suas próprias mãos, e só isso me levou a evitar uma possível tragédia, pois muito embora defensor da pena de morte para crimes hediondos, eu exijo que os mesmos sejam devidamente comprovados. Por outro lado, corrupção é uma coisa e outro tipo de crimes é outra coisa, além de que sempre fui contra linchamentos populares. Prefiro a justiça sim, mas a dos homens, homem a homem. E no caso da pena de morte acho a cadeira elétrica muito mais higiênica e econômica que o fuzilamento, embora, por exemplo, com Sadam o enforcamento não caia nada mal, e em algumas outras circunstancias também não vá mal.
Nessa mesma época também a exploração de madeira da mata nacional da machada, por parte de um conhecido militante do Partido Socialista de um modo bem estranho mereceram a nossa atenção. E a atuação política foi de tal forma que eu próprio acabei por sofrer três processos crime, como se não fosse representante do partido. Acabei por sair como vencedor de dois dos processos, e somente condenado minimamente, em um deles, por utilizar simplesmente a palavra “promiscuidade”.
No entanto continuo a considerar da mesma forma, como naquela época, que o referido cavalheiro, usou da sua influencia política para como “promiscuidade” retirar mais claras mais valias, e não retiro uma virgula de tudo quanto afirmei naquele tempo, e hoje volto a reafirmar.
A corrupção, e o comportamento banal e subserviente, tanto ocorrem no campo econômico, definindo, alimentando e mantendo o “status quo” de grande parte das elites portuguesas, que se servem dos movimentos políticos e também das pressões exercidas por jogos de interesses junto do poder judiciário, como são exemplos um desses meus processos.
O processo Leonor Beleza, sobre o sangue contaminado e mais recentemente o processo Casa Pia e o Apito Dourado, entre outros, são outros bons referenciais da banalização da justiça.
Embora seja importante percorrer a responsabilidade do poder político em todo este estado de imobilidade administrativa, com a cada vez maior dispensa de responsabilização na reflexão sobre situações verdadeiramente inadmissíveis. Devemos também não esquecer que infelizmente o povo é fortemente influenciado por um lado pela imagem criada e por outro por interesses adquiridos.
O partido conseguiu apesar de tudo chegar ao governo á custa do sacrifício do líder do PSD, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, antes ainda das eleições, traído na fase de negociações para formar uma coligação, uma nova AD.
Engraçado, e irônico que o maior opositor dessa coligação, Durão Barroso, veio a conseguir ocupar a cadeira de Primeiro Ministro, graças precisamente a efetuar uma coligação com quem antes rejeitara, ou seja; com o CDS/PP de Paulo Portas.
É nessa altura, nos momentos antes da chegada ao poder, que eu começo a verificar e sentir de modo efetivo a imagem do partido e do seu líder a mudar. Tudo funcionava e era visto de uma determinada forma enquanto oposição, mas como iminente poder, no governo, já atuava de uma forma totalmente diversa, sempre na base da troca direta de “um simples chouriço por um porco”, e tendo sempre como seu chamado “cão de fila” João Rebelo.
Curiosamente; a comunicação social local, até ai dialogava e cooperava minimamente com o partido, a JC e a FTDC, começa a tratar-nos de modo diferenciado e; novamente com ataques pessoais despropositados em especial pela pena do projeto de jornalista Sousa Pereira, que na época estava do Jornal do Barreiro, obviamente ligado á Misericórdia do Barreiro, e a Julio Freire seu Provedor e ao mesmo tempo Diretor do Jornal, portanto perfeitamente normal o nível dos ataques pessoais.
Ao mesmo tempo surgem claros indícios de que o grupo de Carlos Dantas, esta por detrás de tudo isso, pois surgem apontamentos, fotos e notórias noticias com claros indícios sobre a sua origem, algumas até com o nome Dantas incluído pelo meio, e sempre no Jornal do Barreiro, afeto ao Partido Socialista. Obviamente que tanto eu como os restantes membros da Comissão Política não éramos parvos ao ponto de acreditar que tudo era inocente, pois era mais do que visível o envolvimento de todo aquele “bando” com o Jornal do Barreiro, Julio Freire, Sousa Pereira e o Partido Socialista.
Com a distrital de Setúbal do CDS/PP a tomar algumas decisões bem estranhas para com o ex-Presidente da Concelhia do Partido no Seixal, o Alexandre Décio, eu que sempre me mostrei solidário com os amigos, quando entendo que tem razão, nunca os abandonando em momento algum, consegui manter o contacto deste com a estrutura política.
Um dia ele resolveu marcar uma reunião num restaurante da Charneca da Caparica. Ali chegado com a Fernanda, fomos surpreendidos com um restaurante fechado para o publico e que estava apenas aberto para nos servir. Fomos presenteados com um ótimo jantar com pezinhos de coentrada, migas e umas lagostas cubanas divinais, para além disso; fomos ainda contemplados com fados e guitarradas o que transformou o ambiente em algo para nunca mais esquecer.
O meu amigo Alexandre Décio, é realmente um apreciador da boa vida, da boa comida e, sobretudo; também amigo dos seus bons amigos. Este inesperado serão não era mais do que um muito obrigado pela solidariedade num momento difícil, e ao mesmo tempo o anuncio da sua saída da política, que não da amizade com os amigos.
Numa outra ocasião foi a Viseu uma comitiva do Barreiro, para assistir a uma convenção do Partido. O Décio, que é nascido e criado na região, e a conhece como as palmas das suas mãos, arranjou um almoço; numa aldeia típica próxima, com passagem pela adega do proprietário, escusado será dizer-se que a tarde foi toda dedicada ao almoço e após o encerramento da convenção veio até á Bairrada, para nos fazer companhia, em metade da viagem, e para comer um leitão, tendo regressado novamente a Viseu, e á sua quinta que possui na região, em seguida.
Perante tudo isto, eu sempre achei que o melhor conselho era seguir a proposta de Renato Mezan, autor de – A trama dos conceitos:
“Tenham muita curiosidade e não acreditem demais no que lêem”.
Ou seja:
Quando a cabeça esta prestes a rebentar a única solução é parar olhar o cardápio do restaurante e experimentar a refeição com o nome mais complicado, sem esquecer que contenha pimenta, sal, alho e se possível cebola, acredite que vai dar certo.
O meu relacionamento tumultuado com Sousa Pereira, já não é de hoje, nem de ontem, vem desde os meus tempos de jornalismo radiofônico, no final dos anos 70 do século passado, quando ele queria sabotar, melhor dizendo censurar, um artigo meu sobre o famoso caso da ambulância do Lavradio. Um caso de clara corrupção envolvendo figuras afetas ao Partido Comunista Português e á esquerda, sobretudo á extrema esquerda mais radical a que Sousa Pereira pertencia nessa época.
Algumas figuras conhecidas do Lavradio realizaram um peditório, tendo como objetivo a aquisição de uma ambulância, objetivo nunca cumprido até aquela data e que face á atitude ‘pidesca’ de tentar censurar um artigo meu; me levou a escrever um celebre e histórico artigo “Lápis Azul Tendencioso”, que foi como que a colocação da tampa no caixão do seu jornal da época, o Jornal da “Daterra”, depois disso; muitos outros episódios se seguiram ao longo do tempo, e o nosso relacionamento é de cão e gato, sendo que eu nunca lhe admiti certas situações e funciono mesmo como o cão, e mordo mesmo se for caso disso, e ele já sabe disso e da força dos meus dentes.
A guerra com a comunicação social estava assim lançada. E se bem que nunca tenham estado do nosso lado, o que simplesmente se lhes pedia e exigia era isenção. Agora estavam bastante hostis, mas claro que eu já lhes conhecia essa mania, não era nenhuma novidade para mim, e eu sei muito em como lidar com ela.
Ostracismo!
Essa é a melhor solução, votar ao ostracismo, e impedir que façam noticia na nossa própria casa. Ai sim! Ficam; possessos, e quanto mais possessos melhor, pois; o leitor ao observar o que escrevem, sempre a depreciar e ao ataque, acaba por descobrir por si próprio que algo esta errado naquelas noticias, e que aquele tipo de jornalismo não é correto, e então cada vez que publicam uma nova noticia da “treta” o leitor atento tem a pouco e pouco uma leitura totalmente diversa.
Ao fim de algum tempo o jornalista “marronzista” observa esse efeito “boumerang” e pura e simplesmente deixa de escrever, seja o que por sobre determinado assunto ou pessoa, que queria afetar, por sentir que afinal está ele próprio a ser atingido.
É uma norma sempre presente e que nunca falha. Se, no entanto, se conseguir um órgão de comunicação social limpo e isento na mesma região, tanto melhor, pois o leitor vai ter então um fator de comparação, e então os efeitos são ainda mais rápidos em termos de falta de credito tanto do jornal como em especial do jornalista que faz do jornal um autentico ‘pasquim’ de ataque pessoal.
Assim, aconteceu com esses alegados jornalistas que hoje nada escrevem, limitando-se a criar espaços virtuais onde muitas vezes nem coragem tem de assinar por debaixo o seu nome.
Eu hoje sou, e sinto-me um autentico peixe, ateu, mas já fora do aquário, limitado, da democracia crista, ou de qualquer outro partido.
Hoje, eu sou realmente alguém livre, como um peixe totalmente solto para poder correr os oceanos da liberdade de pensamento.
Há como é bom ser peixe, fora de um aquário, tal como pássaro fora da gaiola.
Ser livre é ótimo!
A liberdade das amarras partidárias é a melhor sensação do mundo, e que só quem é tal como eu livre, pode sentir...

2 comentários:

Gilda Mattheus disse...

Querido João

De tudo que vives-tes na politica, a sua forma de estar na vida e o teu proceder na vida publica, só lhe dão créditos para fazer esta narração tão tranparente sem nada omitir.
Poder nos descrever fatos tão importantes é o melhor de tudo.
Sobretudo por ser de grande contribuição para muitos que desconhecem ainda, tantas sujeiras escondidas embaixo dos tapetes da vida publica e politica.
A liberdade de um homem é com certeza a melhor sensação do mundo!

E PODER EXPRESSAR-SE COM LIBERDADE, NÃO TEM PREÇO!

Obrigada pelo prazer, de tão envolvente e esclarecedora leitura.

E mais uma vez, a pessoa e o politico que sempre fostes, fazem somente a minha adimiração aumemtar a cada capitulo e a cada dia.
Se é, que isso seja possivel.

Grande beijo,
Gilda.

Jose Joao Massapina Antunes da Silva disse...

Cara Amiga e Leitora Gilda

Muito obrigado pela tua atenta leitura, e pelos comentários isentos sobre o que realmente sentes sobre a pré-publicação deste livro.

Espero que na edição final completa, essa tua opinião se mantenha.

Beijo