domingo, 19 de agosto de 2007

XXI - DE AFRICA PARA A VIDA, COMO UM VENCEDOR

A primeira partida de Africa, foi assim como que o aumentar da vontade indomavel de voltar o mais rapido possivel.
Depois de uma curta passagem de um dia pelo Malawi, onde foi possivel tomar contacto com um País de pequeno tamanho em termos territoriais, mas de fortes tradições culturais, a próxima etapa seria a Africa do Sul, e o objectivo a cidade de Joanesburgo onde iria ficar 2 dias.
A chegada ao aeroporto internacional de Joanesburgo, foi uma primeira abordagem à grandiosidade de um País com um elevado nivel socio-economico, muito embora naquela epoca ainda vigorasse o Apartheid, um sistema politico-social puro e duro. Logo ficou bem patente que por ali imperava a lei e a ordem de um modo bem rigido, e se bem que o trasporte entre o avião e o enorme hangar do aeropoto fosse feito em autocarros sem qualquer divisão em termos de raças, o mesmo já não se pode dizer da entrada oficial no territorio, onde era bem patente os corredores de divisao imediata, ou seja brancos e outras raças para um lado, negros para outro lado, e depois nova divisao brancos para um lado e outras raças para outro e mais à frente mulheres para um lado homens para outro. Toda a bagagem de mão era minuciosamente verificada, e inquiridos os motivos da entrada e estada no Pais, mas de um modo correcto e sem a impertinencia e arrogancia verificadas a quando da chegada a Moçambique no aeroporto da Beira.
Outro factor que me chamou muito à atençao era a polides do trato e as luvas impecavelmente brancas que todos os funcionarios utilizavam sem excepção.
Nunca gosto de visitar nada sem saber ao que vou, e a história da Africa do Sul, o conhecimento da importancia das suas culturas e gentes nao podia ser excepçao, dai que tenha desde logo ficado para mim bem presente a importancia de Joanesburgo mas também outras cidades como o Cabo, Durban e Pretoria, locais que nao iria poder visitar, mas que me deixavam uma enorme vontade de regressar para conhecer. Ainda mais que por defeito de estudo eu sabia que os Portugueses por ali tinham passado, muitos anos antes, com bastante importancia para a historia mundial, nomeadamente no Seculo XV, Diogo Cão e Bartolomeu Dias.
No entanto tambem sabia que por alguma razão os Portugues nunca ali se tinham fixado de modo efectivo, nessa época, e que foram sim os holandeses no Seculo XVII, a ocupar de forma permanente a Região do Cabo da Boa Esperança.
Naqueles anos 70, o sistema de discriminaçao racial, Apartheid, conseguia manter o País a funcionar de um modo extruturado e organizado, com baixa criminalidade, talvez devido à bem patente repressao da maioria negra, que nem direito de voto tinha, e muito menos podia circular livremente nos mesmos espaços fisicos das outras raças. Era algo incrivel passear numa rua de Joanesburgo e verificar que existia um passeio proprio para eles, viaturas de transporte proprio, restaurantes, casas de banho, tudo, absolutamente tudo, mas mesmo tudo era feito à margem, ou seja negros para um lado tudo o resto para outro. Para mim um jovem habitudo ao convivo multiracial, era uma novidade sem tamanho e algo muito estranho em termos de sensibilidade humana, algo a que só tinha tido acesso em termos de literatura, mas que agora podia verificar de um modo terrivelmente real.
Sei hoje que este sistema funcionou em pleno de 1948 até 1994, com um dominio total por parte da minoria Branca perante as outras raças, em especial a maioritaria Negra. Se bem que em 1983 algumas alterações tenham surgido, só mesmo 11 anos mais tarde se verificaram alteraçoes profundas e radicais.
Visitar hoje a Africa do Sul, passados mais de 30 anos deve ser assim como sair do leite para o vinho, e não reconhecer nada desse passado vivido por mim em pouco mais de 48 horas. Recordo que a minha mãe nao se sentia muito à vontade em sair à rua pois achava muito estranho tudo aquilo, para ela, uma pessoa com mais anos de vida, outra formação, e mais conhecimentos, aquele estado de coisas era como que uma aberração da natureza, que tinha criado Brancos e Pretos como algo natural.
Hoje a Africa do Sul já abandonou o antigo sistema, mas ao tomar conhecimento da sua actual forma de gestão tenho serias e fundadas duvidas da sua exequabilidade, e funcionalidade, na forma como foi efectuada a transiçõ, tanto pelas noticis que chegam de elevada taxa de violencia, como pelas disparidades socio-economicas existentes, entre as 9 provincias entretanto criadas, e que tem uma legislatura provincial propria e um conselho executivo liderado por um chamado primeiro ministro provincial.
Uma País com riquezas incalculaveis e que vive desde sempre numa economia de mercado baseada nos serviços na industria e agricultura e sobretudo na sua maior riqueza a exploraçao mineira com carvão, cobre, manganês, cromita, ferro e no cimo da piramide o ouro e os diamantes.
A filha da avó Mariana por ali ficou a tratar dos negocios do pai, e não mais vai voltar a Portugal, mesmo atendendo a todas as dificuldades actuais de adaptaçao perante a nova realidade, deve hoje estar a constatar e viver uma realidade bem dificil de digerir.. Pessoalmente penso hoje que por certo nao me teria adaptado a viver num País que passou do 8 ao 80 em meia duzia de anos, e que se antes tinha um sistema de racismo perante os Negros, hoje de certa forma tem um outro sistema de confrontação permanente com os Brancos a serem agora os alvos preferenciais. A grande maioria de 79% de Negros dominam, perante 9,2% de Brancos os chamados Bôares e restam ainda os Mestiços 8,9% e os Asiaticos que representam 2,5%.
Nessa minha passagem pela Africa do Sul era bem patente que o sistema de saúde era algo de enorme e bem organizado perante o resto do mundo, deve-se salientar que o cirurgião que realizou a primeira operação com exito ao coraçao, era natural da Africa do Sul. E todos os cuidados de saúde mais especializados eram realizados ali, e toda a populaçao com recursos dos paises vizinhos, era ali que recorriam. Hoje a realidade é já bem diversa a nivel geral, e face ao grande indice de prevalencia e replica do HIV, a população esta a diminuir, e infelizmente nao se verifica grande esperança neste momento, numa alteração diferente desta situação, o que demonstra que os novos responsáveis nao tem tomado as devidas previdencias face à importancia da situação. Verifiquei as taxas oficiais, e o mais incrivel é observar que a taxa de natalidade é de 18.87% e a taxa de mortalidade de 18,42, portanto muito próximas, e ainda mais alarmante é que a esperança média de vida esta situada nos 46 anos. Esta nao era a Africa do Sul que eu conheci nos anos 70, numa abordagem rapida de algumas horas, mas que bastou para ver um pais deveras organizado, e disciplinado, por vezes até demais, mas esses vectores eram importantes no sentido de conseguir manter um País unido, hoje indicadores das Nações Unidas apontam a Africa do Sul como o País do Mundo que ocupa o primero lugar no assssinio com arma de fogo, no homicidio involuntário, na violação e na agressão, e ocupa o segundo lugar a nivel mundial no homicidio e o quarto no roubo, numeros que me deixam a pensar seriamente no que foi e é actulmente este País, antes falava-se que o importante em termos de segurança seria viver nas grandes cidades, hoje falando com quem vive ou visita a Africa do Sul, como por exemplo um amigo que teve ali a sua filha a efectivar um estagio de doutoramento em Biologia, fiquei a saber que o mais seguro é viver em comunidades fechadas, ou trocar bairros comerciais por suburbios.
O que mais me encantou foi a diversidade cultural, patente nas opções de cada grupo etnico, com uma alimentação baseada fortemente na carne e também em termos culturais expecificamente musicais com uma variada qualidade que se podia escutar um pouco por todo o lado. Reconheço que foi ali que pela primeira vez escutei com muita atenção Jazz, e acabei ficando fã desse estilo musical, pois até ai, para mim, tratava-se da reunião de um grupo de musicos detentores de talento em varios instrumentos, de que resultavam um conjunto de ruidos sem qualquer significado. Foi realmente no bar do hotel, que pude entender o que significava tudo aquilo, e graças à explicação correcta feita por um simples empregado de bar, que pacientemente me elucidou dos vários estilos e a relação de forças entre os diversos instrumentos e a sua identidade, de modo a conseguir-se entender a importancia e sonoridade da produção de som obtida.
Foi espantoso poder entender, e hoje escutar Jazz, sabendo e entendendo o que escuto.
A partida fisica da Africa do Sul, foi realizada de forma identica à entrada, com a mesma pompa e circunstancia, de tal forma que a minha mãe estava bem preocupada no interior do avião, sem saber de mim, que me deixei contagiar pelos diversos “pointes” de controle para ir falando e recolhendo ainda mais algumas novidades sobre aquela forma de estar e viver, e como todo o mundo era muito cordial, e comunicativo, tal foi possivel até à exaustão. Fui assim, acompanhado por uma linda e simpatica hospedeira da SAA, e o ultimo a entrar no Jumbo, que me levaria com destino ao Kenia, para mais 2 dias de estadia, perante os olhares algo irritados de alguns passageiros mais apressados e estressados, a que se aliou a minha grande tranquilidade e um certo gozo pessoal diga-se.
A entrada no Quenia, nesse País de que tanto ouvia falar pelas tradiçoes e culturas, foi algo de totalmente inesperado, um choque visual terrifico no bom sentido. Chegamos ao fim da tarde, ao cair do sol, e só posso dizer que fiquei paralizado com a beleza do sol a cair no aeroporto de Nairobi, em nada se assemelhava a tudo quanto já tinha observado, era como se a terra fosse arder, como se um fogo imenso avançasse sobre todos nós, e como que de um momento para o outro todo o ceu mudou de tonalidade, passou a uma cor indescritivel tipo axul chumbo, e depois chumbo mais claro e depois mais escuro, e depois a noite cerrada e eu nao me cansava de olhar o ceu, pois a cada minuto descobria uma nova tonalidade, até que se iluminou de uma forma expectacular com estrelas que me pareciam as mais proximas do toque de uma mão. Era o extase total. No hotel, antes de descer para jantar, fiquei deitado no chão da varanda, olhando o ceu, e como que escutando sons impossiveis de escutar para o comum dos mortais, misturados com o ruido das viaturas muitos andares abaixo circulando na avenida. Nunca vou esquecer na minha vida essa noite em que tudo o que mais queria era voltar para o quarto e poder deitar-me na varanda a olhar para aquele ceu maravilhoso. Nunca a minha mãe o soube, mas eu tirei uma singela manta de dentro de um armario, e dormi nessa noite deitado no chão da varanda olhando o ceu. Os empregados no dia seguinte devem ter imaginado outra coisa bem diferente, para o facto a cama não estar desfeita, mas realmente não tinha acontecido nada mais do que isso e muito menos tinha voado para outro quarto, como outras vezes me aconteceu na vida, chamado por alguma paixão momentanea. Eu nessa noite dormi mesmo ali no quarto 726, só que na varanda debaixo das maravilhosas estrelas do ceu de Nairobi, apaixonado por elas, e de certa forma fazendo amor com elas de um modo bem especial.
Quando anos mais tarde li o livro de Karen Blixen, Africa Minha, e depois pude ver o filme, ainda por cima com a partici`pação minha actriz preferida, a musa Meryl Streep, pude realmente perceber tudo quanto a escritora tinha sentido, ao conhecer aquela parte maravilhosa do mundo. Pena que eu não possa ter ido nessa época para o interior, para conhecer mais, para descobrir mais maravilhas, mas de tudo quanto pude ver na capital, fiquei impossivelmente apaixondo pelo País, e um fã incondicional, das obras das diversas culturas que pude observar um pouco por todo o lado, e hoje o nome Masai, para mim soa a musica, misticismo, beleza, tudo o que de belo se possa encontar em Africa, eu acho que esta ali reunido, num só nome Quénia.
Faltou dizer que ao fim destes anos todos, de já ter tido a oportunidade de estar em muitos locais, nunca conheci outro local onde as nuvens viagem a uma velocidade tão grande no ceu, na nossa frente. Pode parecer loucura, mas me deite num relvado de um jardim de Nairobi, só para observar o céu e poder admirar a velocidade das nuvens deslocando-se no ceu, a minha frente. É indiscritivel a beleza da imagem...
Sei que o Quenia se transformou num País violento, por via da politica que o afectou, e pelos muitos interesses externos, obviamente aproveitando as divisoes étnicas, que levaram à morte de milhares de pessoas em guerras tribais, mas para mim nunca irei esquecer que é um dos mais belos Países do mundo que já pude visitar, com um povo maravilhoso, e que foi ali que passei 2 dos mais maravilhosos dis da minha vida.
Ainda pude observar um pouco do exterior da grande cidade, e ver um povo andrajoso, miserável mesmo, mas que se sente muito rico interiormente, sempre sorrindo, a apascentar vacas e cabras, no meio de planicies imensas, e observar como tem o talento nas mãos, para conseguir fazer veradadeiras obras de arte em madeira, aproveitando para completar, em alguns casos, pedra calcária, um das maiores riquezas naturais do País.
Quando se parte de um País em que de certa forma, fica um pouco do nosso coração, partimos sempre com a saudade de querer voltar muito rápido, e se em relação á Africa do Sul, mesmo atendendo a toda a sua grandiosidade, hoje não tenho assim tanta ansiedade em querer ver ou rever como esta, já o mesmo não acontece em relação ao Quenia, reconheço que ali gostava de voltar, para poder rever tudo o que vi, e poder descobrir o muito que sei que tem para ver e não consegui vêr nos anos 70.
O mesmo acontece com a Ilha do Sal, em Cabo Verde, nessa noite foi a primeira vez que ali pousou um aviao onde eu viajava. Depois disso já ali aterrei mais umas 3 ou 4 vezes, mas nunca sai do interior do avião para poder saber o que é afinal aquele imenso deserto que se observa da escotilha do avião, e que todos quantos já conseguiram descer dizem que é um pequeno paraiso, de amabilidade do povo e de cultura a brotar em cada bocadinho de territorio.
Conheço a cultura um pouco, muito pouco, por simples convivio com naturais das ilhas, e tambem pela magnifica musica que chega pelos normais canais de divulgação. De resto o pouco que sei, me diz que é uma das ilhas mais planas do arquipelago, sei também que é muito arida por ser muito varrida por constantes ventos secos e quentes provenientes do deserto do Sahara, dai que ao aterrar ali fiquemos como que numa sauna no interior dos aviões enquanto são feitas as verificações tecnicas de rotina.
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A chegada a Lisboa, naquela manhã foi assim como que o regresso a um outro mundo já conhecido e explorado, que poucas mudanças apresentava. Até a casa no Lavradio, estava no mesmo sitio, com algum pó a nivel geral, mas tudo no seu sitio, os mesmos cheiros, os mesmos sons, o mesmo cinismo na conversa do meu irmão que nos foi buscar ao aeroporto, como que cumprindo um enorme sacrificio pessoal, algo a que alguns escudos pagos a um taxista poderiam ter evitado tanta contrariedade.
Fui encontrar os mesmos vizinhos, em 6 meses ninguem tinha nascido nem morrido, mais parecia que o tempo tinha parado, e agora o relógio da vida arrancava novamente naquele local. Parecia o regresso de um sonho com algumas aventuras, alegrias, tristezas, conhecimentos adiquiridos e muita saudade tanto do muito que tinha ficado para trás, como do muito que se queria reencontrar agora ali, naquele local, fosse de amigos ou de simples objectos que tinham ficado imoveis a aguardar um novo toque.
Reencontrar os amigos era agora a missão numero um, para saber das muitas ou poucas novidades, e claro para lhes poder relatar o muito que tinha visto e aprendido em 6 meses de Africa, e que eu sabia que estavam curiosos de indagar, tal como antes me tinha acontecido a mim mesmo.
O meu saldo escolar pessoal era logo à partida um ano lectivo perdido, mas que estava plenamente compensado, pelo muito que tinha aprendido e seria determinante em termos de formação e desenvolvimento futuro da minha vida.

Agora achava que era chegada a hora de me dedicar a descobrir as minhas potencialidades em outras áreas da minha vida, e como senti alguma leveza no correr, e alguns observadores indicaram que era visível a minha rapidez, pois desde logo o Atletismo me chamou, para um pratica mais permanente, por outro lado as filhas da prima Matilde começaram a incutir em mim o gosto pelos patins, gosto que já existia, mas que eu nunca aprofundara realmente, muito embora praticasse hóquei em campo, com os amigos, e fosse reconhecido como exímio guarda-redes, talvez por deformação devido á grande popularidade do Hóquei em Patins do meu clube, e a essas figuras lendárias e impares na historia do desporto de Portugal e do Sporting, dai que não resisti em aproveitar a conciliação de horários para conseguir praticar ao mesmo tempo Atletismo e Hóquei em Patins, no Grupo Desportivo da Cuf, agora batizado de Quimigal. Pois foi ali que fiz mais uma “catrefada” de amigos, que perduram para a vida toda, e foi também por ali que descobri que nem sempre o que na vida parece é realmente.
Assim a velocidade dos 100 metros era um deslumbramento, a que se seguiu a realidade da pratica do salto com vara, essa sim a minha verdadeira área de desenvolvimento com qualidade e gosto por uma conjugação de parte técnica com atletica.
Foi devido a essa apetência natural, e os muitos exames médicos realizados no Centro de Medicina Desportiva em Setúbal, e que me davam sempre apto para a pratica desportiva, que um dia fui convidado para representar o Sporting, e fui fazer testes médicos e que fui dado como inapto para a prática desportiva, pois numa explicação rápida e directa tenho o coração proporcionalmente maior do que a caixa, e portanto impróprio para a pratica desportiva de forma continuada. Na verdade anos mais tarde, de forma oficialmente comprovada, descobri que não era bem assim essa historia, e se tratava de outra situação.
Quanto ao hóquei, pois costuma-se dizer que não existem duas sem três, e como por duas vezes me foi acidentalmente aberta a arcada direita por boladas, resolvi que não haveria terceira vez para ser cozido no mesmo sitio, e coloquei ponto final na carreira de hoquista, ficando a saber andar de patins, a jogar hóquei, mas a não querer praticar mais esse desporto, que passei a amar muito, mas como simples aficionado de bancada.
Entretanto as minhas actividades desportivas passavam por verdadeiras maratonas de Badminton com o meu bom amigo e vizinho Calado Miguel, por tardes infindáveis de futebol, fosse no campo dos Leões do Lavradio, ou no al`pendre da escola primaria,no conhecido jogo de becos, onde as portas dos wc’s sofriam mais do que as boladas que se tinha que levar para impedir os golos dos adversários, normalmente em jogos de dois para dois, sempre com os habituais Alfredo, Pedro Super, Joaquim Núncio.
Mas a actividade física não se ficava por aqui, pois inda dedicava o corpo e a mente a treinos de 4 horas consecutivas de técnica e resistência para o salto com vara, e de umas loucuras com alguns amigos ainda mais loucos que eu que praticávamos saltos para a água, desde rochedos na zona da Arrabida, o que era muito excitante mas que um dia se revelou verdadeiramente perigoso, pois nunca se sabia onde se entrava na água, nem o que lá poderia estar no outro lado, tanto poderia ser uma zona límpida, como um rochedo estrategicamente escondido, e desde o memorável dia em que rasguei um braço num rochedo que estava lá no local onde entrei na água, que pensei pois sim, hoje foi o braço, tudo ok!... Mas se fosse a cabeça a passar no mesmo local, eu não estaria mais aqui para contar, portanto acabou, mas acabou mesmo, hoje ate tenho receio de saltar para o interior de uma piscina de uma qualquer plantaforma, como é possovel mudar tanto...
Passei a actividades fisicas mais lúdicas e saudáveis, como andar de bicicleta km’s sem fim, até que um dia um taxista resolveu circular na Avenida da Republica no Barreiro em contra mão, e me apanhou ali mesmo em frente do restaurante Solmar, eu como bom estratega observei a sua aproximação em alta velocidade, totalmente em conta-mão, e quando verifiquei que o impacto iria ser inevitável, finquei os pés nos pedias e mandei-me para o ar. Acabei no cimo do capo do carro, com o vidro dianteiro quebrado, e a bicicleta destruída no chão, frente à frente da viatura, sei pelo impacto e pelo estado em que ficou a bicicleta, e a dianteira do carro, que se me tenho mantido sem saltar por certo hoje não estaria aqui a bater estas linhas. O taxista estava habituado a lidar com coisas mais fáceis do que o João Massapina, e bem tentou, perante a minha certeza de que tinha razão e que não o iria deixar ir embora, mesmo perante a imensa fila e confusão que se gerou no local. Para espanto geral eu tinha seguro da bicicleta, única condição imposta por meu pai para a poder ter. Como sabedor do que deveria fazr, tendo todos os documentos do bicicleta e meus em ordem, exigi a presença da autoridade. Resultado final, uma bicicleta nova que teve que ser paga pelo taxista, e umas multas para o cavalheiro pagar, por desobediência ao código da estrada e também porque alguns documentos não estavam devidamente em ordem.
Mas mesmo com esse grande susto, não deixei de andar de bicicleta e de ter imensas aventuras com ela e com os meus amigos, e companheiros de aventuras, como por certo vão ainda ter oportunidade de descobrir..
Depois de tudo o muito que vivi nestes anos, aproximava-se o inicio de um novo ano escolar, agora numa nova Escola e com um novo ritmo e estilo de ensino. Era o inicio da freqüência do ensino secundário, uma nova etapa na minha vida, e nada melhor do que a Escola de Santo André, na Quinta da Lomba, para isso. Uma escola nova a estrear, com novos amigos, a saída do reduto Lavradio, para uma nova realidade a Quinta da Lomba, o outro lado do Barreiro, no fundo novas vivencias e formas de encarar o presente e o futuro.
Ë ali que vou encontrar novos amigos como o Gonita, Eugenio, Chibanga, Casinhas, João Jose, Luis, Bekas, e tantos outros. É também ali que conheço as Betinhas do Barreirense, uma jovens que tinha tantas borbulhas de acne como presunção para não querer aceitar que alguns jovens vindos do outro lado da cidade poderiam realmente apaixonar-se pelas suas borbulhas, pela sua forma de vestir tão keke, etc...
Eu realmente até me apaixonei por uma delas, e claro não pelas suas borbulhas, ainda por cima era irmã de um amigo meu. Mas essa amizade de nada serviu no momento próprio em que a queria conquistar. Anos mais tarde, numa festa realizada na Barbearia do Alto do Seixalinho, ela própria se quis retratar e chamar a minha atenç4ao, era já demasiado tarde, nessa altura eu já andava noutra onda, e com amigos como o Álvaro Ferreira e outros já andávamos anos luz à frente disso tudo.
Ë também ali, nessa época, que vou descobrir que amor e paixão não são a mesma coisa, e que por vezes temos amigas especiais que nos vem mais como paixão do que como amizade, mesmo que não se corresponda a esse desejo, muitas vezes até sem maldade, apenas porque não se reparou nessa vontade maior delas. Mas felizmente são amigas que acabam por ficar nas nossas vidas para sempre, porque acabam por reconhecer que foi melhor assim, ficar a amizade do que uma curtição de uns dias e depois o esquecimento.
E foi também ali, naquela escola secundária; que entendi que mais importante que as leis e os regulamentos é sem duvida defendermos os nossos principio base, custe o que custar.
Com o muito que aprendi em 6 meses de África, na dureza de África, na beleza das planícies africanas, podia agora como jovem enfrentar sem temor o futuro, de peito aberto, e sem receios de defrontar nada nem ninguém.
Eu me sentia cada vez mais um jovem de certa forma realizado e predestinado para ser realmente um vencedor, em tudo o que entendesse lutar por ganhar na vida.
Eu era realmente em 1976, já um vencedor...

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